Os índios existem e estão em luta! Nas quebradas e nas universidades.
Tem sido assim no Brasil. Índio bom é aquele que fica quietinho na aldeia. Mas, se sai a reivindicar terra, território, direitos, aí a coisa muda de figura. Passa a ser perseguido e, no mais das vezes, é assassinado. Essa é uma prática cotidiana não só no Mato Grosso do Sul, onde hoje se vive um momento de comoção por conta da morte do jovem Semião, assassinado enquanto bebia água no riacho de uma terra que era dele. Isso acontece na Amazônia, no Rio Grande do Sul, na Bahia e em Santa Catarina.
A batalha pela demarcação das terras tem sido grande e dura. A sociedade, contaminada por uma mídia mentirosa e manipuladora, compra o discursos de que há muita terra para pouco índio, e que eles não precisam tanto assim de território. Deveriam “se integrar” ao mundo civilizado. Mas, se esse mantra ainda engana alguns, isso já está mudando.
Os indígenas brasileiros vivem um momento diferente. Tem se organizado em entidades deles mesmos, sem interferência de igreja ou de Ongs. Estão assumindo sua autonomia, discutindo seus problemas e encontrando caminhos para superar as dificuldades. Já sabem muito bem que a tal da “integração” não garante a eles o direito de viverem sua cultura. É uma política mentirosa que busca embranquecer o que não é branco. Ninguém quer isso. Já basta.
Por isso, os povos indígenas brasileiros se levantam em rebelião para defender seus parentes, onde quer que seja, como estão fazendo agora com os Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul. E também se mobilizam para discutir sua intervenção no mundo existente, o qual eles não escolheram, mas que, afinal, precisam compartilhar. Um desses espaços é o da universidade.
Por conta das cotas e mesmo sem elas, muitos são os indígenas que tem garantido seu lugar nos mais diversos cursos universitários. Não como tentativa de integração ao mundo não-índio, mas como ocupação dos espaços da sociedade para também colocarem sua maneira de viver e de conhecer.
Hoje, segundo o MEC, são mais de oito mil estudantes indígenas nas universidades, que não só enfrentam os mesmos problemas que os negros e os empobrecidos no que diz respeito à permanência, como também precisam vencer batalhas cotidianas para fazer valer o seu modo de conhecer. E é por isso que também nas universidades eles se organizam e buscam formas de dialogar entre eles, bem como com as autoridades e os não-índios.
Para tanto, realizam esse ano o Terceiro Encontro Nacional de Estudantes Indígenas, que será no campus de Florianópolis, da Universidade Federal de Santa Catarina. A proposta é debater os desafios que enfrentam e encontrar caminhos para um diálogo real entre o saber ancestral e o conhecimento formal. Durante uma semana acontecem mesas de debate, encontros culturais, cerimônias e mostra de filmes realizados pelos indígenas.
O III ENEI acontece de 28 de setembro a 02 de outubro e todos estão convidados, tanto para o diálogo como para a festa. Esse ano, em meio ao grito de guerra que ecoa desde o Mato Grosso do Sul, os indígenas de várias etnias de todo o país, responderão, desde a capital catarinense, ao chamado dos parentes. Discutirão o desafio de estar na universidade, mas também buscarão dar a conhecer sobre a renhida luta que travam em todos os rincões do país pelo direito ao território e à cultura.
Conheça a programação do evento – Entrada gratuita – Centro de Eventos da UFSC
*Dia 28 – Segunda Feira*
08:00 às 16:00 – RECEPÇÃO: credenciamento dos estudantes e participantes/ Local: hall do Centro de Cultura e Eventos.
12:00 às 13:30 – ALMOÇO
17:00 – JANTA
18:00 – ABERTURA DO EVENTO/ Local: Auditório do Centro de Eventos da UFSC
Cerimônia de Abertura
– Coordenação do III ENEI/UFSC
– Representação do SECADI/ MEC
– FUNAI
– Reitoria da UFSC
– Instituto de Estudos Latino Americano – IELA
– Comissão Organizadora do III ENEI/Estudante
– Lideranças indígenas Guarani, Kaingang e Laklãnõ/Xokleng
– UNOCHAPECÓ/Reitoria
20:00 – Palestra de Abertura:
Movimento Indígena e Educação Superior: campo de disputas cotidianas.
– Sônia Bone Guajajara – líder Guajajara
Dia 29: Terça Feira
8:00 – Ritual de Abertura
8:30 às 10:30 – Mesa 01: Educação Superior Indígena: acesso, ingresso e permanência.
Local: Auditório do Centro de Eventos da UFSC
Mediadora: Lucimará Patté – graduanda em direito UFSC, povo Laklãnõ/Xokleng
– Roselane Neckel – reitora da UFSC
– Rita Potiguara – representando SECADI
– Joziléia Daniza Jagso Inácio Schild – pós graduanda em antropologia social, povo Kaingang
– Tsitsina Xavante – Representante da Onu Mulher
10h:40 às 12h:40 – Mesa 02: Experiências da Educação no âmbito latino americano nas Universidades Integração latina americana.
Local: Auditório do Centro de Eventos da UFSC
Mediador: Simoniel Faustino
Felix Santiago (México – Universidade Zapatista)
Elaine Tavares – IELA
Cristiano Marioto – guarani
13h – ALMOÇO
14:30 às 16:30 – Mesa 03: Demarcação de Terras Indígenas e os desafios da atualidade: Criminalização do Movimento Indígena.
Local: Auditório do Centro de Eventos da UFSC
Mediador: Ana Roberta Patté
Dinamam Tuxá -mestrando em desenvolvimento sustentável na UnB
Deoclides de Paula – liderança Kaingang CNPI
Ana Lucia Andrade Hartemmam- Procuradora do Ministério Público
Luiz Herique Eloy – advogado doutorando UFRJ
18h30 – JANTA
Dia 30: Quarta Feira
08:30 Ritual de abertura
08:50 – 12:00 GRUPOS DE TRABALHO – Centro de Eventos da UFSC
12:30 às 14:00 – ALMOÇO
14:00 às 18:00 GRUPOS DE TRABALHO – Centro de Eventos da UFSC
18h15 – JANTA
19h:30 – CINE DEMARQUE –
Mostra Permanente de Cinema de Povos Indígenas e Tradicionais.
Coordenação: Elis Nascimento, Thiago Arruda.
Debate com Cineasta Guarani Kaiowá Rodrigo Siqueira
* “Índio Cidadão?” (52m, Brasil, 2014. Direção Rodrigo Siqueira e equipe).
* “Índios no Poder” (20m, Brasil, 2015. Direção Rodrigo Siqueira e equipe).
Dia 01 de outubro – Quinta – Feira
Local: Auditório do Centro de Eventos da UFSC
8h:00 – Ritual de Abertura
8:30 às 10:30 – Mesa 04 : SAÚDE INDÍGENA
Reflexo do novo mundo e suas consequências na Saúde Mental dos Povos Indígenas. Dominação da medicina Ocidental Sobre os saberes dos Povos Indígenas.
Formação dos Profissionais de Saúde no âmbito das Universidade.
Experiências do caso da criação do ambulatório de Saúde Indígena.
Palestrantes:
Mediadora: Txulunh Gakran
Rayanne: Estudante de Enfermagem da UNB
Marcos – Schaper Gerente de convênios da SPDM.
Edinaldo Rodrigues – indígena psicólogo
Indianara kayowá – enfermeira indígenas do MS.
10:45 às 12:40 Mesa 02: POLÍTICA DE AÇÕES AFIRMATIVAS , ACESSO DIFERENCIADO E PERMANÊNCIA.
Palestrantes:
Mediador: Jibran Patte
Poran Potiguara – estudante da UnB
Leonel Pivezana – Professor Unochapeco
Nanblá Gakran- linguista doutorado pela UnB
Clóvis Brighenti – Professor UNILA
13:00 ÀS 14:00 ALMOÇO
14h:30 – EXPRESSÕES ARTÍSTICO CULTURAIS
18h30 – JANTA
Dia 02 de outubro – Sexta Feira
08:30 às 12:00 – Construção do documento final do ENEI.
12:30 às 13:30 – ALMOÇO
14:00 às 18:00 – PLENÁRIA FINAL
18:15 – JANTA
*Programação sujeita a alterações
Fonte: Iela.