Florianópolis, 26 de julho de 2015.
Para os pensadores iluministas, o domínio científico da natureza prometia livrar o mundo da escassez, da necessidade e da arbitrariedade das calamidades naturais. O desenvolvimento de formas racionais de organização social e de modos de pensamento prometia a liberdade das irracionalidades do mito, da superstição e do uso arbitrário do poder. Mas, foi só avançar o século XX, com os seus campos de concentração e esquadrões da morte, seu militarismo e as duas guerras mundiais, sua ameaça de destruição nuclear e sua experiência de Hiroshima y Nagasaki, para que caísse por terra esse otimismo fictício do cientificismo positivista.
Todavia, na atualidade, o professor britânico Peter Leers Pearson, professor na Universidade de São Paulo (USP) no Instituto de Biociências ensina como verdade científica a “superioridade da raça branca” baseado na Teoria da Curva do Sino de autoria de James Watson. Teoria apoiada em supostos testes que demonstrariam que os brancos, e em especial os judeus, tem uma média de Quoficiente de Inteligência (QI) maior em relação às demais “raças”, testando a capacidade das pessoas que viveram em contextos sociais diferentes (degradantes ou abastados) e depois comparando os resultados. Eles partem de uma naturalização das desigualdades sociais e as aceitam como resultado indiscutível da evolução humana.
Para que não se extraia um olhar negativo da USP, ao mesmo tempo que o professor Pearson difunde teorias retrógradas, um retrato rico e complexo de mudanças pelas quais o Brasil passou no período de 1960-2010, feito com base nos dados dos últimos seis censos demográficos produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi reunido no livro “Trajetórias das desigualdades – Como o Brasil mudou nos últimos 50 anos” da editora UNESP.
O plural do título indica um importante aspecto do estudo: a preocupação em não restringir a análise da desigualdade à dimensão das diferenças de renda. O estudo da grande massa de dados dos censos mostrou, ao mesmo tempo, que fatores de diminuição de desigualdades como a democracia e o acesso à educação não são suficientes para explicar desequilíbrios persistentes como o existente entre cidadãos brancos e negros.
Quanto mais os estudos se aproximam do topo da pirâmide social, mais o fator racial se manifesta como freio da ascensão. E mais se comprova a influência de um racismo institucional e judicial vigente no país.