Há 10 dias, Roger Waters, compositor inglês e ex-Pink Floyd, enviou uma carta para o comité nacional palestino do BDS (campanha global de boicote, desinvestimento e sanções) em que pede que os músicos brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil não se apresentem em 28 de julho em Tel Aviv, em Israel.
Procurada por Opera Mundi, a coordenação do BDS no Brasil disse que Waters também se interessou em ter contacto direto com Caetano e Gil, pedindo os seus e-mails pessoais, que lhe foram enviados. Na internet, a filial brasileira está por trás de um movimento chamado “Tropicália não combina com apartheid”, que já recolheu mais e 10 mil assinaturas pelo boicote dos concertos.
De acordo com a Folha de S. Paulo, as assessorias de ambos informaram que o show será mantido e, por ora, eles não comentaram o caso. Na carta datada de 22 de maio, o compositor britânico recorda o “ataque brutal de Israel à população palestina de Gaza”, quando mais de 2.200 palestinos – a maioria civis – morreram na operação israelense “Margem Protetora”, que durou 70 dias em meados de 2014.
Ativista da causa palestina, Waters já incentivou outros artistas anteriormente para não se apresentarem em Israel. No fim de abril de 2015, ele fez um apelo ao cantor pop britânico Robbie Williams, afirmando que um show no país liderado por Benjamin Netanyahu seria um “endosso a uma política racista fatal”. Em julho de 2014, o cantor canadiano Neil Young também foi procurado pelo ex-Pink Floyd. No meio da escalada do conflito em Gaza, o artista acabou por cancelar a apresentação.
Por outro lado, a pressão também resultou em bons frutos para a campanha da BDS: no último mês, a cantora norte-americana Lauryn Hill cancelou o show que faria em Telavive por não conseguir agendar data para concertos também em territórios palestinianos. No passado, outros artistas como Elvis Costello e Carlos Santana também desmarcaram apresentações em Israel, depois de intensa pressão de grupos pró-Palestina.
Nessa linha, Waters recorda na carta dezenas de artistas internacionais que, “preocupados com direitos humanos na África do Sul do apartheid”, se recusaram a tocar na nação à época. “Aqueles artistas ajudaram a ganhar aquela batalha e nós (…) vamos ganhar esta contra as políticas similarmente racistas e colonialistas do governo de ocupação de Israel. Vamos continuar a pressionar adiante, a favor de direitos iguais para todos os povos da Terra Santa”, escreveu.
“Quanto tudo isso acabar, nós iremos à Terra Santa, cantaremos as nossas músicas de amor e solidariedade, olharemos as estrelas pelos galhos das oliveiras e sentiremos o cheiro de madeira a queimar das fogueiras de nossos anfitriões e estimaremos essa lendária hospitalidade. Mas, até que isso termine, até que todos os povos sejam livres, nós vamos cravar o nosso emblema na areia”, acrescentou Roger Waters na carta para Caetano e Gil.
Leia o documento original na íntegra:
Carta de Roger Waters a Caetano e Gil
Artigo publicado em Opera Mundi
Fonte: Esquerda.net.