Por Thiago Burckhart.
Desde meados dos anos 1970, o mundo presencia uma radical e profunda transformação no capitalismo, na estrutura das relações econômicas. Essas transformações posteriormente foram chamadas de neoliberalismo, um “novo” liberalismo, porém mais selvagem e violento. Essa nova estrutura é marcada pela financeirização da economia, mas não só dela, como também da vida, que se reduz a números e perde seu valor intrínseco. Hoje pode-se dizer que para muitos, o dinheiro vale mais que a vida humana.
A marca do neoliberalismo é o descontrole. Descontrole da circulação de riquezas (dinheiro) em praticamente todos os países. Isso ocorre em virtude da corrupção de grande parte dos governos, que veem-se compilados a ceder aos interesses de grandes empresas haja vista que essas assumiram proporções maiores que muitos Estados (Pluri)Nacionais.
Como um fenômeno da globalização, o neoliberalismo é o irmão gêmeo do neoconservadorismo. O processo social, histórico e cultural da globalização, como afirma a pensadora María José Dulce Fariñas, professora de filosofia do direito da Universidad Complutense de Madrid, é marcado pela presença de uma ideologia: o neoliberalismo no campo econômico e o neoconservadorismo no campo político. Essas ideologias guiam a tomada de decisão dos representantes políticos, que em muitos casos não conseguem enxergar outras possibilidades para enfrentar os problemas de variadas naturezas.
Concentração de riquezas
Como uma ideologia, o neoliberalismo nasce como um processo que teve por objetivo regressar ao pensamento liberal do século XVIII, como uma resposta à crise do modelo de Estado Social. Contudo, o neoliberalismo se diferencia em muito do liberalismo clássico, porque esse novo processo favorece diretamente a concentração de riquezas. Nunca em toda a histórica da humanidade viu-se tanta concentração de riqueza e criação de monopólios e oligopólios como vemos hoje em dia.
Recente estudo realizado pela ONG inglesa Oxfam afirmou que em 2016 as 37 milhões de pessoas que compõem o 1% mais rico da população mundial terão mais dinheiro que os outros 99% juntos. Essa realidade nos mostra clara e objetivamente que o neoliberalismo é parte da engrenagem de uma profunda crise social em praticamente todos os países, principalmente nos mais pobres.
Essa realidade evidencia a lógica ilógica do paradigma econômico imperante no mundo atual.
Uma lógica ilógica
Pelo fato de aprofundar as desigualdades sociais em praticamente todo o mundo, o neoliberalismo mostra-se como uma ideologia, uma forma econômica excludente que só favorece a poucos em detrimento da grande maioria da população. Nesse contexto, um ato de justiça seria a tributação das grandes fortunas, como sugeriu o economista francês Thomas Piketty em seu livro “O Capital no Século XXI”. Essa seria uma medida de justiça poderia diminuir a carga tributária paga pelas classes média e assalariada e obrigaria maior pagamento de tributos por parte dos milionários, que enriquecem às custas dos mais pobres.
A lógica ilógica do capitalismo na sua forma neoliberal e dá no sentido de que ela corre na contramão da construção de um mundo mais justo e igualitário. A lógica ilógica do neoliberalismo nega a capacidade de emancipação social, política e cultural da maioria das pessoas, que reduzidas a números são condenados à uma servidão moderna em nome do deus dinheiro. Este é, sem dúvida, um dos grandes problemas de nosso tempo.
Thiago Burckhart é estudante de Direito.
