Os 92 anos da Semana de Arte Moderna

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A Boba, de Anita Malfatti, de 1916.

A Semana de Arte Moderna foi um marco na história cultural paulistana. Realizada na semana entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922 no Teatro Municipal de São Paulo, o evento tinha como principal objetivo a renovação da arte, literatura, arquitetura, teatro e música brasileira.

Durante toda a semana, o público teve acesso livre ao saguão do Teatro Municipal e pode apreciar as obras expostas. Porém, foi nos dias 13, 15 e 17 que os artistas modernos puderam realmente se expressar e mostrar a sua arte.

Altamente influenciada pelas novas tendências europeias, a Semana de Arte Moderna foi responsável por trazer novos conceitos artísticos para a elite paulista. A arte moderna repudiava qualquer regra e preceito antigo, principalmente a busca pela perfeição estética. Por isso, as obras literárias e artísticas da fase eram o oposto do que era pregado como o “correto”.

“Os artistas da época queriam, acima de tudo, fazer uma ruptura com o passado. Eles buscavam a liberdade de expressão para que pudessem atualizar a arte brasileira”, explica o professor de Literatura da Oficina do Estudante, Charles Casemiro. A partir desse objetivo, eles começaram a adaptar as novas vanguardas estéticas para a realidade do Brasil.

Cada dia da Semana de Arte Moderna abordou um tópico com mais ênfase, sendo eles pintura, música, escultura e poesia. Em todas essas categorias, os artistas experimentaram o novo e romperam com o passado. “Eles se basearam nas vanguardas europeias, principalmente o cubismo e expressionismo, para criar a própria arte. Oswald de Andrade, posteriormente, chamaria esse fenômeno de antropofagismo, já que eles digeriram a arte europeia e criaram algo inovador”, explica o professor.

A Semana, também, foi responsável pela ascensão de diversos artistas que, depois, seriam um marco no Modernismo brasileiro: Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Mário de Andrade, Victor Brecheret, Heitor Villa-lobos e Di Cavalcanti, entre outros. Tarsila do Amaral não participou porque estava em Paris durante os dias do evento.

No dia 13 de fevereiro, na segunda-feira, ocorreu a abertura dos eventos Semana. Havia diversas pinturas e esculturas no Teatro Municipal, e Graça Aranha, um dos organizadores, realiza uma conferência com todas as pessoas que compareceram. Ele faz uma palestra com o tema “A Emoção Estética na Arte Moderna”, em que explica o que os artistas modernos propunham com a sua arte. Logo no primeiro dia, as reações foram negativas: muitos se sentiram espantados e até ofendidos com o que viram durante o evento.

Na quarta-feira, dia 15, houve uma grande confusão. Enquanto Ronald de Carvalho lia o poema intitulado Os Sapos, de Manuel Bandeira, o público fazia em coro barulhos que atrapalhavam a leitura do texto. A pianista Guiomar Novaes também participou de um escândalo no mesmo dia: “Durante a apresentação de piano, ela decidiu, deliberadamente, tocar músicas consideradas conservadoras pelos artistas modernos. O público ficou em polvorosa e adorou a apresentação dela. Os organizadores, porém, não ficaram tão felizes”, comenta Casemiro. O dia acabou de forma ruim para todos os artistas envolvidos, já que os visitantes claramente não respeitavam a arte Moderna.

No último dia da semana, 17 de fevereiro, o número de pessoas presentes era muito menor. Heitor Villa-lobos realizou a sua apresentação musical e, nela, ele apareceu calçando sapato em um pé e chinelo no outro. O público, a princípio, achou que era uma ofensa vindo do artista, mas Heitor explicou posteriormente que entrou dessa forma porque estava com um calo no pé.

Durante os dias em que o evento ocorreu, a classe mais conservadora de São Paulo soltava notas de repúdio em jornais e revistas. Boa parte da mídia chamava os artistas de subversivos e “futuristas endiabrados”. Porém, foi somente com a realização do evento que a arte Moderna pode florescer e se desenvolver.

O professor Charles Casemiro explica: “a principal importância da Semana de Arte Moderna é que ela foi responsável pela organização de diversos artistas com pensamentos modernos que estavam espalhados pelo Brasil. Após a Semana, movimentos modernistas em Minas Gerais, Rio de Janeiro e diversos estados nordestinos começaram a aparecer. O que aconteceu em São Paulo, com a elite paulistana, foi o estopim de uma grande carga artística que viria nos anos seguintes”.

Além disso, obras que foram expostas durante a Semana de Arte Moderna ficaram altamente conhecidas décadas depois. O quadro A Boba, de Anita Malfatti, por exemplo, foi exposto em 1917, logo depois que a pintora havia voltado da Europa. Além de chamar pouca atenção, o evento ficou marcado pela reação negativa de Monteiro Lobato, no texto Paranóia ou Mistificação?, em que ele criticava abertamente a arte Moderna. Anos depois, “A Boba” foi exposto no Teatro Municipal de São Paulo durante a Semana e foi bem recebido pelo público. Atualmente, o quadro é um marco na história do modernismo.

No dia 13 de fevereiro de 2014 completa-se 92 anos desde que Graça Aranha expôs ao público a arte Moderna. Há 92 anos, o Teatro Municipal era o palco de uma revolução artística. Independentemente da reação do público da época, a Semana de Arte Moderna tornou-se um marco para a história cultural, não só de São Paulo, como de todo o Brasil. Diversos artistas inovadores vieram à tona e eles foram responsáveis por atualizar a arte brasileira e dar o pontapé inicial para um dos períodos artísticos mais férteis da história. Foi plantada uma pequena semente que, depois, encontrou um terreno favorável para transformar-se em uma grande árvore.

Fonte: Universia

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