Atenas: Fascistas versus Antifascistas com grandes riscos

Por Joshua Tartakovsky, Atenas.

Na noite de 31 de janeiro de 2015, houve duas grandes manifestações no centro de Atenas. A primeira, protagonizada pelo partido neonazista Amanhecer Dourado, atualmente o terceiro maior partido no parlamento grego, na praça Rigillis. O ato marcou os 18 anos do acidente de um helicóptero grego em circunstâncias misteriosas, numa batalha entre a Grécia e a Turquia pelas Ilhas Imia. O ultranacionalista Amanhecer Dourado acredita numa Grande Grécia e na conquista de terras gregas perdidas e ocupadas pelo Império Otomano e a atual Turquia.

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Marcha antifascista

Em resposta ao planejado encontro de Amanhecer Dourado, milhares de ativistas antifascistas marcharam desde a praça Omonia a Syntagma, ao lado do Parlamento, a vários quarteirões do ato de Amanhecer Dourado.

Uma amiga me disse que se sentia muito emocionada por participar no protesto antifascista, o primeiro na história da Grécia que se faz com um governo de esquerda no poder.
Pela primeira vez, a polícia não controlava ferreamente os manifestantes nem era violenta. De fato, não se via polícia em nenhuma parte.

Alguns manifestantes se perguntavam o que deviam fazer agora que não tinha policiais com quem se confrontar.
A polícia só podia ser achada em Syntagma, onde duas viaturas grandes bloqueavam a rua, criando uma área de colchão entre os fascistas e os antifascistas.
Milhares de anarquistas marcharam nas ruas de Atenas gritando contra o fascismo.
Depois de chegar a Syntagma, fui com uma amiga para o lado dos fascistas.
A raiva era palpável. Alguns eram skinheads; outros, fascistas da terceira idade. Nos alto-falantes tocava música fascista. Porém, muitos dos participantes pareciam gente legal e ingênua. Nem violentos nem cruéis, mas pessoas cooptadas pela narrativa ultranacionalista de Chrysí Avgí.
Não é difícil entender porque o Amanhecer Dourado atrai gente que, empobrecida e insegura, encontra sentido em projetar seus medos e angústias no “Outro”, seja turco ou imigrante. Não percebem que são manipulados por forças maiores que são as verdadeiras culpadas da sua crise econômica. Estão confusos e em estado de choque pela sua situação e querem recuperar uma autoestima saudável. Querem se aferrar ao que é familiar para eles: a Grécia, a bandeira, o nacionalismo. Portanto, viram ultranacionalistas e apoiam líderes fascistas que prometem restaurar sua honra e não deixar que ninguém os esmague.
Havia várias bandeiras: gregas, do Orgulho Branco, do Movimento de Resistência Sueco, da Alemanha: o NPD (Partido Nacional Democrata), Forza Nuova da Itália e DN (Democracia Nacional) da Espanha.
O orador bramava sobre como o governo bolchevique que está no poder quer transformar a Grécia numa Venezuela e como o traidor Kammenos se atreveu a fazer uma aliança com os bolcheviques. A multidão respondia com berros de desprezo a cada vez que o nome de Kammenos era mencionado.
Enquanto no protesto antifascista não se via nenhum policial, na manifestação de Amanhecer Dourado a polícia ficou bem perto e também na área onde se encontravam os manifestantes. Pareciam bastante à vontade.
Um representante alemão do NPD explicou para a câmera como veio para a Grécia mostrar apoio a Amanhecer Dourado e a sua impressão com o partido.
Nikolaos Michaloliakos, o líder do Amanhecer Dourado, atualmente na prisão, falou para a multidão por via telefônica. Ele deve sair da cadeia em março depois de ter sido preso por motivos duvidosos. Samaras do partido Nova Democracia via ele como uma provocação.

Mais tarde, a multidão acendeu tochas e uma cerimônia foi feita na frente do memorial aos mortos no acidente do helicóptero. As pessoas que colocaram flores marchavam ao estilo militar e faziam uma saudação. Durante o evento, as pessoas cantaram “Morte aos Turcos”.
Me parece que os riscos estão muito claros: com a alegria da vitória do Syriza, não dá para esquecer que o Amanhecer Dourado é o terceiro partido no Parlamento grego.
O Syriza tem a obrigação de cumprir o prometido. Se não, o público que já se decepcionou com Nova Democracia e o Pasok, pode ir para a direita fascista.
Culpar o Outro e virar nacionalista em tempos de grandes crises econômicas é humano e previsível.
As pessoas deram uma chance para o Syriza porque foi o único partido que ofereceu esperança. Mas, se fracassar, as pessoas ficarão com raiva e apoiarão a Direita.
Não fica claro se Angela Merkel entende os riscos envolvidos na Grécia ou, talvez, nem se importe. Mesmo assim, não há dúvidas de que os membros do Amanhecer Dourado, que já assassinaram um imigrante paquistanês, se chegarem ao poder, aplicarão o fascismo.
Como fica evidente nas ruas de Atenas, os riscos são altos.

Versão em português: Tali Feld Gleiser

 Visite o site de Joshua em inglês.

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