Por Otto Filgueiras
Muitos petistas, incluindo vários personagens do livro da Ação Popular (AP), estão atacando agora o jornalista Luis Fernando Veríssimo. Só porque ele critica a ortodoxia do governo Dilma.
A decepção com o Partido dos Trabalhadores (PT) é generalizada. Apenas os governistas com bons empregos e petistas chapas-brancas defendem o governo social-liberal. E atacam levianamente as forças revolucionárias que não se deixam cooptar.
Sofremos uma derrota na luta contra a ditadura. Dura e prolongada. Mas a vitória mais eficiente para o capitalismo ocorreu nos anos mais recentes, quando muitos dos então revolucionários deixaram de lado a bandeira pelo socialismo e passaram a defender a eficiência do neodesenvolvimentismo.
Mas o desenvolvimentismo, que tanto agradou banqueiros e cevou o mercado financeiro, fez água. Acabou.
E há aqueles que criticam o governo social-liberal do PT, mas votaram na Dilma no segundo turno da eleição presidencial. Agora estão decepcionados e ainda assim continuam apoiando o atual governo federal.
A esses apenas dizemos, em analogia ao que escreveu no ano passado José Fidelis Augusto Sarno, antigo dirigente da AP: me faça um garapa.
Há ainda os que pregam uma renovação socialista na China, cada vez mais capitalista. Estão querendo achar pelo em ovo.
Na verdade, estamos num mato sem cachorro. Ainda assim, não nos deixamos iludir ou compramos gato por lebre.
Nunca é demais lembrar o exemplo do músico Victor Jara, assassinado no Chile, depois do golpe que derrubou o presidente Salvador Allende.
Ou da guerra do Fim do Mundo, quando quatro das expedições militares organizadas pelo governo central para atacar o arraial de Canudos, do líder messiânico Antônio Conselheiro, foram derrotadas.
Por causa disso, desde 1895, Canudos recebera pena de morte, mas foi guerrilheira e só deu combate de posição dois anos depois, quando a última expedição militar conseguiu chegar até os morros próximos. Conselheiro orava, e já nas últimas batalhas estava morto. Beatinho, Pajeú, João Grande e outros homens de Conselheiro lutaram luta de morte. O canhão Krupp vomitava seu fogo.
Um deles foi conquistado a braço e levado para o arraial para servir de bigorna. No livro Os Sertões, Euclides da Cunha descreve o instante final:
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente 5 mil soldados.
*Otto Filgueiras é jornalista e está lançando o livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular.
Fonte: Correio da Cidadania
Foto: Ilustração