Por Thiago Burckhart, para Desacato.info.
“Abaixo à midiocracia”, “Pensar não dói” ou mesmo “Pense: não custa nada”, eis algumas das frases “pixadas” em paredes da região central de Blumenau. Para além da discussão jurídica sobre o tema, as “pixações” se colocam hoje como um radical questionamento sobre os paradigmas consolidados em nossa sociedade que controlam ética e esteticamente o cotidiano da maioria de pessoas. A “pixação” é hoje um movimento estético e político, um questionamento sobre os ditames de nossa vida, bem como uma reinvenção da arte e da filosofia.
Essa é a ideia da filosofia pop, que em síntese propõe criar novos métodos de trabalhar com a filosofia, relacionando-a com a arte, a estética e a expressão. Não é o mesmo que “popularizar” a filosofia ou torná-la mercadoria, mas sim entender que a filosofia não é um campo do conhecimento que está única e somente presa aos muros da universidade e aos livros da história da filosofia. Significa compreender que a dimensão do pensamento e experiência filosófica estão no nosso cotidiano. Objetiva perturbar o senso comum, ou seja, a catástrofe da ilusão da realidade.
Um novo método
A filosofia pop nasceu nos anos 1990, numa forma de aproximar a filosofia à pop art. Andy Warhol um de seus maiores expoentes desse movimento artístico retratava o vazio da vida e dos ídolos em uma crítica feroz à indústria cultural. Assim, a pop art – como um movimento de combate e contestação – é um adverso aos hermetismos da arte moderna, produzindo uma arte pelo qual a reflexão filosófica deve ser presente.
No entanto, isso não significa que a filosofia passou a se assemelhar à dita “autoajuda”, nem que o pensamento filosófico é transformado em raso ou simples, haja vista que os temas mais complexos (em termos filosóficos) podem ser trabalhado pela pop art. Mas implica em trabalhar e evidenciar todos aqueles temas e conteúdos desprezados pela filosófica acadêmica (os lixos culturais) para criticá-los e refletir sobre eles a partir da arte. Busca uma experiência filosófica desde a periferia da produção do pensamento, como é o caso da “pixação”.
Academicamente falando ainda existem muitas questões em aberto sobre o tema. O modo tradicional de fazer filosofia perdeu seu sentido? A filosofia pop é a superação do método escrito de fazer filosofia? Ou, a filosofia acadêmica ainda dá conta de pensar a realidade social a partir dos clássicos da filosofia? E por aí vai… O que é certo é que a filosofia pop é um excelente instrumento para ajudar as pessoas a enxergarem para além de seus próprios umbigos e pensar criticamente.
Em uma época tão rica e ao mesmo tempo tão pobre em pensamento, pela qual a capacidade de pensar é uma das capacidades mais debilitadas do ser humano – como já afirmava Hannah Arendt – a filosofia pop pode ser um excelente mecanismo para o encontro com o pensamento, e com a filosofia.
Thiago Burckhart é estudante de Direito.