Sobre mortes e outras mortes

Osiris 2 a
Não é pra polemizar, é pra fazer pensar.

Por Osíris Duarte.

Nesse mundo, querendo você ou não, estamos juntos. Todos os dias em um país como o nosso jovens, pobres, negros, índios e trabalhadores são vítimas de violência policial e do sistema. A solidariedade pelo ser humano não pode ser seletiva. Já parou pra pensar no grau de comoção que gera cada uma dessas mortes? Sem levar em consideração o caráter de cada um, porque aí precisaríamos conhecer a todos profundamente, mas olhando pra uma questão de justiça, os pesos são iguais?

Minha proposta é simples: reconhecemos nosso viés classista nesses movimentos? Se morre um assassinado em uma favela não é nada demais, mas numa bela praia catarinense já é outra coisa? Por que? E toda essa revolta, descamba em quê? Daí você sai por aí e defende que se apure “sumiços” como o do Amarildo, chacinas de jovens trabalhadores em bairros pobres e ouve que um cara desse, ou “gente como essa”, “alguma coisa fez” pra morrer.

Sem hipocrisia, não quero a morte de ninguém, penso que justiça é um conceito que só existe dentro da vida coletiva e só Deus pode nos julgar realmente, definindo vida e morte, mas antes de ir a reboque dos apelos midiáticos por folhetins que mexam com a revolta causada pelo medo de um senso de classe disfarçado de altruísmo, prefiro abrir os horizontes e reafirmar que essa é uma realidade que todos nós somos responsáveis, seja pela omissão seja pela seleção de graus de comoção.

Quando entraram na minha casa, fazendo a mim e meus amigos de refém, me agredindo e levando o que eu tinha de valor material o que mais ouvi foi uma “estranheza”, teorias conspiratórias e enredos policiais, quase romancescos. Tipo, logo com você! Eu disse: bem vindo à realidade, porque não acontece perto de você não significa que não aconteça. Basta ligar a porra da TV pra ver isso todo o dia. Mas solidariedade com aquilo que se mostra possível de atingir você é medo e um “quê” de egoísmo.

A dor que tenho é a dor de ser humano e presenciar na vida comum essas atrocidades que cometemos uns com os outros. Não vou me acostumar, me recuso. Daí a revolta gerada pelo folhetim não dá em nada, só gera um discurso de ódio. Vivo nas ruas e vejo quantos tão dando mesmo a cara a tapa por um mundo mais justo, abraçando os irmão ao invés de “mudar o mundo do sofá, postar no insta, e se a maconha for da boa que se foda a ideologia” Crioulo Doido e quantos estão apenas vociferando através do ego sua necessidade de poder e de ter razão (poder de novo). Meu respeito à dor dos amigos e familiares de todas as vítimas de um sistema que prega o desamor, desunião e revanchismo, insistindo em dizer quem pode e quem não pode morrer de acordo com o que lhe apraz.

Foto: O Pensador de Rodin.

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