Um casal assiste a um vídeo pelo Youtube, com imagens de manifestações em Argel. Lentamente, o plano vai se fechando até o ponto em que o quadro é completamente preenchido com a tela do computador. Trata-se de uma das cenas do filme Normal!, de Merzak Allouache, que a 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema exibe em 2013.
A confluência das imagens reproduzidas virtualmente em escala global com cenas de um filme que discute o próprio cinema como ação política é sintomática de uma questão essencial para a produção audiovisual no mundo árabe contemporâneo: as disputas sociais e políticas transbordam para o campo das imagens e cada indivíduo torna-se protagonista dessa dinâmica de (re)construção do significado imagético.
A arte, em suas diversas manifestações, emerge nos países árabes como um elemento essencial do processo de recomposição do imaginário social. O cinema, a música, a poesia e o grafite são terrenos férteis para sociedades que buscam se reinventar em meio a profundas transformações políticas.
Filmes como Checkpoint Rock: Canções da Palestina e Próxima Estação Musical: Líbano, de Fermín Muguruza, eHabibi, de Susan Youssef, ressaltam esse papel que a arte assume, como plano de recomposição ética e estética de cada sociedade.
Em meio à intensidade política dos últimos anos, o cinema é, mais do que nunca, um convite a experimentarmos uma maior proximidade com os afetos que desenham o cotidiano, as vidas e paixões que transcorrem em meio a muros, balas e revoluções. As diretoras Maggie Morgan, em seu filme Asham, e Carolina Rivas, com A Cor das Oliveiras, assim como o filme Sonhos em Ebulição, do marroquino Hakin Belabbes, são três exemplos de olhares sensíveis às formas pelas quais os indivíduos seguem tecendo sua existência, insistindo no ato de sonhar.
Outro filme que dialoga com essa preocupação e que é destaque da 8ª Mostra é o palestino Cinco Câmeras Quebradas, que concorreu ao Oscar em 2013 e foi vencedor de melhor direção em documentário no Festival de Sundance em 2012. O diretor Emad Burnat e seu filho Jibreel, protagonista do documentário, são convidados especiais desta edição.
Essa, aliás, é uma característica da Mostra: como nas edições anteriores, traz para o Brasil em 2013 atores e diretores dos filmes exibidos, o que proporciona ao público uma valiosa oportunidade de conhecer os nomes responsáveis pelo cinema vibrante que tem sido realizado pelos países árabes. A 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema aposta na pluralidade e expressa-a não somente na escolha de gêneros e na origem dos filmes, mas também na combinação de jovens diretores e atores, como Hanan Abdalla, diretora de À Sombra de um Homem, e o ator Nabil Asli, protagonista de O Arrependido e Normal!, ambos convidados especiais, com cineastas já consagrados, como Yousry Nasrallah e Omar Amiralay.
Sensível à intensidade dos processos políticos em curso, a curadoria da Mostra selecionou para este ano produções que contemplam o tema “Arte e Revolução”, como o documentário 52/25, de Ahmed Medhat, produzido em 2013 e selecionado para o Festival de Ismailia, no Egito, que será exibido no Brasil pela primeira vez; Depois da Batalha, de Yousry Nasrallah, e o já mencionado Normal!. Os três filmes fornecem elementos importantes para aquilatarmos as rupturas geradas com a chamada Primavera Árabe.
Convictos da importância que a temática árabe vem adquirindo nas produções latino-americanas, oferecemos uma sessão especial, Diálogos Árabe-Latinos, fruto de uma parceria com o Cine Fértil, de Buenos Aires, na qual serão exibidos os filmes 1001 Noites na Patagônia, de Javier Actis, e Caminhos do Mascate, de Jose Luis Mejias. Nessa sessão, a Mostra promove a pré-estreia do filme A Última Estação, de Márcio Curi, coproduzido entre Brasil e Líbano, que traz um delicado retrato da imigração árabe ao Brasil.
São 23 filmes, 23 oportunidades para descobrir as sutilezas culturais que desestabilizam referências identitárias e ideias pré-concebidas e 23 razões para nos convencermos da inesgotável riqueza da produção cinematográfica no mundo árabe.
A 8ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, do Instituto da Cultura Árabe, conta com a direção cultural e curadoria de Geraldo Adriano Godoy de Campos e Soraya Smaili e com as parcerias estruturais e especiais dos correalizadores Centro Cultural Banco do Brasil e CineSesc.
15 de agosto a 1 de setembro de 2013 – São Paulo, SP | 4 a 16 de setembro – Rio de Janeiro, RJ – Brasil
Realização Instituto da Cultura Árabe – ICArabe
Fonte: http://mundoarabe2013.icarabe.org/realiza.htm