O gênero como fator de vulnerabilidade nos deslocamentos urbanos
As pessoas que circulam pela cidade sentem-se seguras? A pesquisa Percepções sobre segurança das mulheres nos deslocamentos pela cidade*, realizada pelos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, com apoio da ONU Mulheres e Uber, revela uma sensação geral de insegurança durante os deslocamentos urbanos. Apenas 16% das mulheres e homens que circulam pela cidade utilizando as mais diversas modalidades de transporte sentem-se plenamente seguros.
A insegurança na mobilidade reduz a liberdade de mulheres e meninas, negando-lhes as mesmas oportunidades que homens e meninos de desfrutarem de seus bairros e cidades. Além de reduzir a participação na vida pública, seja na escola, no trabalho ou em atividades de lazer, também impacta negativamente sua saúde e bem-estar.
Ao analisar alguns grupos sociais, a pesquisa aponta que a sensação de insegurança não é a mesma para todas e todos. Mulheres, as populações negra, de baixa renda e LGBTQIA+ e as pessoas com deficiência declaram maior sensação de insegurança e vulnerabilidade quando se deslocam pela cidade.
77% das mulheres acham os espaços públicos mais perigosos para elas do que para os homens
Entre os grupos avaliados na pesquisa, as mulheres são percebidas como mais vulneráveis a sofrer violência quando estão se deslocando: na avaliação de 72% dos entrevistados (sendo 77% das mulheres e 66% dos homens), “os espaços públicos são mais perigosos para mulheres do que para homens”. E, de fato, as mulheres também declaram sentirem mais insegurança em seus deslocamentos pela cidade em comparação com os homens.
Meios e locais mais inseguros para as mulheres
Elas sentem medo ao se deslocarem, sobretudo quando usam meios de transporte públicos, e quando estão nas ruas e pontos de ônibus.
Mulheres sentem medo mesmo quando estão perto de casa
68% das mulheres têm muito medo de sair sozinha à noite no bairro onde mora
O medo das mulheres reflete suas experiências: 7 em cada 10 já receberam olhares insistentes e cantadas inconvenientes em seus deslocamentos, 35% já sofreram importunação/assédio sexual e o mesmo percentual enfrentou furtos/assaltos.
Do total de mulheres entrevistadas, 25% já viveram alguma situação de preconceito e discriminação (exceto por raça/cor, ou seja, em razão de deficiência ou orientação sexual/identidade de gênero) e 21% das mulheres negras declaram ter sofrido racismo.
69% das mulheres já receberam olhares insistentes e cantadas inconvenientes em seus deslocamentos; 35% sofreram importunação sexual
54% das mulheres já sofreram importunação sexual no ônibus e 67% das mulheres negras sofreram racismo quando estavam a pé
Por insegurança, mulheres mudaram comportamentos ou rotina
Após vivenciar essas situações, a maioria das mulheres mudou hábitos e comportamentos e pouco mais da metade declara ter sofrido abalo psicológico.
Para driblar a insegurança, as mulheres adotam medidas que comprometem sua autonomia, como mudar trajetos ou pedir para que alguém as esperem na porta de casa.
Por medo, mulheres mudam hábitos e rotinas ao se deslocarem pela cidade durante a pandemia
O cenário de pandemia também impacta os deslocamentos e faz com que muitas mulheres sintam-se ainda mais inseguras para sair de casa.
Quais fatores contribuem para a insegurança e como mudar esse cenário?
Para 66% das mulheres, melhora no policiamento é importante para aumentar sensação de segurança no espaço público
Sobre a pesquisa
A pesquisa Percepções sobre segurança das mulheres nos deslocamentos pela cidade foi realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Instituto Locomotiva, com apoio da Uber e apoio técnico e institucional da ONU Mulheres. Participaram do estudo online 2.017 pessoas (1.194 mulheres e 823 homens), com 18 anos de idade ou mais, entre 30 de julho e 10 de agosto de 2021. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.