Por Flávio Carvalho, para Desacato.info.
“Por causa da mulher”, Gil, Super-Homem, A Canção.
Ao considerar-se progressista, de esquerda ou descontruído, todos sabemos que nesta data, a pergunta é: o que fazer no Dia Internacional da Mulher Trabalhadora? Faço 8 sugestões.
Evite imaginar-se aumentando a multidão presente nos atos públicos, fazendo aquele Selfie para postar no Tinder e ganhar Likes feministas. Resista à essa perversa tentação. Existem várias formas de colaborar com essa data, sempre em um lugar não protagonista. Pois era só o que faltava: apareceres mais do que elas, também – principalmente! – neste dia.
Prepare o jantar e receba a manifestante cansada, vinda da passeata, com o melhor afeto. Não sabe cozinhar? Aprenda. Já deves haver percebido que a cozinha sempre foi um histórico local de opressão patriarcal. Desde o planejamento, as compras, o trabalho invisível e o visível, até mesmo no pós-jantar, lavando e guardando a louça. E não esqueça que melhor que fazer aquele prato romântico de um jantar especial, mais vale cozinhar no dia-a-dia, todo dia, com o que tens, mesmo sem grandes elaborações. Felizmente, o melhor ingrediente culinário ainda é o amor.
Imaginou-se no jantar romântico acima, seguido de sexo papai-e-mamãe? Aproveite para ler mais e melhor. Começando pela desconstruçao do imaginário Cis, Hetero, Normativo. Se você é daqueles que ainda não associam essa imagem às homoafetividades (não é somente sexualidade; aproveite para ampliar seus conceitos, conscientemente), corra pra biblioteca, antes mesmo do dia 8.
Onde tem mulher de luta, homem cala e escuta. Exerça o seu silêncio em plenitude, com escuta ativa, percebendo o poder da sua fala, do seu discurso, da sua eloquência narrativa, com que o desgraçado sistema patriarcal tanto nos beneficiou. Construa conhecimento ao ouvir. Pode ser que ainda não tenhas percebido o quanto a tua fala, mesmo não intencionalmente, já fez muitas mulheres calar. Analise o porquê de, mesmo falando muita bobagem, o mundo parece ainda mais disposto a seguir beneficiando-te. Mais que a elas. Exerça o seu legítimo poder de calar.
Supere etapas. Saia da mera perspectiva de felicitar-se porque já sabes o que não deves fazer. Comece, agora mesmo, a fazer a coisa certa. Não há mais tempo a perder. Ao considerar-se Feminista, tenha o cuidado de perceber se não estás enganando, sobretudo, a si mesmo. Há um feminicídio aí fora, crescente. A pior notícia é que cada micromachismo, cada violenta conduta pornográfica, toda piadinha machista, está diretamente associada a este feminicídio, em maior ou em menor grau. Não basta nem somente já sentir-se consciente, há que atuar pela mudança cotidiana, que não está feita apenas de boas vontades. A pior mentira é que a gente conta pra gente mesmo. O pior cego será sempre aquele que não quer enxergar, por mais na frente que esteja.
Analise e tente compreender a diversidade de debates feministas, no plural. Se o seu legítimo interesse é de real transformação, só terás a ganhar ao trazer para o centro da vida a questão de gênero, a luta contra as homofobias, as masculinidades alternativas. Comece hoje mesmo.
Atreva-se a comentar estas coisas com outros homens. Eles farão mais caso daquilo que você fala do que se for falado por uma mulher. E aproveite pra parar pra pensar nesse conceito de “Homem”. O que significa, de fato? O que te faz mais ou menos homem? O que te fez chegar a definir-te assim, como Homem? Tudo aquilo que foi construído, pode ser desconstruído. Não se trata somente de reafirmar-se ou deixar de ser algo; e sim – até mesmo – de sentir-se melhor.
Comente este texto, divulgue, some-se ao debate consciente. Mas, por favor, priorize divulgar os atos públicos do 8 de Março. Isso sim, seria – a meu ver – a mais importante ajuda. Aquele abraço.
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