O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, aconselhou o governador Tião Viana (PT) a solicitar o fechamento das fronteiras com Bolívia e Peru após o município de Brasileia ficar superlotado com refugiados haitianos. Ele realizou na última quinta-feira (16) uma inspeção no acampamento montado desde 2010 para receber os haitianos que começaram a fugir em massa para o Brasil depois que a maior parte do país foi devastada por três terremotos, e constatou grande risco para a segurança dos imigrantes.
“Em um local onde temos capacidade para receber 300 pessoas, hoje temos 1,2 mil refugiados. A situação é insustentável. Não temos comida, água potável e colchões para todos, e há risco de que essa situação precária leve a outras tragédias, como a proliferação de doenças ou um incêndio”, lamentou o secretário. Entre os refugiados, há 161 mulheres e dez crianças, que serão os primeiros removidos para a capital Rio Branco, onde o governo estadual espera encontrar uma solução definitiva para sua estadia no Brasil. “Já temos know how com esta situação. Desde 2010, 15 mil haitianos entraram no Brasil pelo Acre, e nós os ajudamos a encontrar emprego e moradia. Mas agora estamos lidando com gente demais de uma só vez”, explica Mourão.
A urgência para remover as mulheres para Rio Branco é, também, para aumentar suas chances de se estabilizar no país. Os postos de trabalho mais comuns para os haitianos no Brasil são nas áreas de metalurgia e construção civil e, por isso, as mulheres são preteridas pelos empregadores.
Ainda segundo Mourão, nos últimos meses, cerca de 70 haitianos passaram a entrar diariamente no Brasil pela fronteira com o Peru. Normalmente, o fluxo diário era de 20 a 30 imigrantes por dia. A jornada é longa: eles deixam o Haiti pelo mar do Caribe e desembarcam na América Central, passam pelo Equador e chegam ao Peru. O país (assim como Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia, Chile, Venezuela, Equador e Colômbia) permite o trânsito de brasileiros sem passaporte, apenas com RG, e essa fragilidade é explorada pelos coiotes, como são chamados os criminosos que agenciam a entrada ilegal de imigrantes.
Os haitianos geralmente chegam ao país em táxis lotados, com até seis usuários, pelo município de Assis Brasil, a oeste de Brasileia, primeira parada onde os refugiados podem dormir, se alimentar descansar por alguns dias antes de conseguir casa e emprego ou seguir viagem. Os principais destinos são as capitais de Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo, onde os haitianos buscam emprego e moradia fixa. “Aqui é um ponto de passagem, então conseguíamos manter a ocupação em 300 pessoas entre os que chegam e os que saem. Mas nesta época do ano em que as empresas não têm vagas e a chuva está muito forte, eles acabam ficando, mas em situação muito precária”, completa o secretário.
Pela proposta de Mourão, o Acre fecharia as fronteiras terrestres por tempo indeterminado, até que os imigrantes que já entraram no país tenham garantidos seus direitos básicos. O governo federal só deverá se manifestar sobre o fechamento de fronteiras quando receber o pedido oficial do governador Tião Viana.
Foto: Marcello Casal Jr./ABr
Fonte: Carta Capital