Pela primeira vez, presidenta afasta publicamente possibilidade de alteração constitucional para poder disputar terceiro mandato. Senado e Câmara não são cogitados. Capitanich despontou rapidamente como o principal articulador do governo e agora é cotado para o pós-Cristina.
São Paulo – A presidenta da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, afastou ontem (26/12) qualquer possibilidade de buscar um terceiro mandato consecutivo em 2015. “Não há nenhuma possibilidade de ‘Cristina 2015’ para nenhum cargo eletivo”, afirmou à agência pública Télam, na primeira negativa pública da candidatura aventada por aliados.
A afirmação foi feita depois de o deputado federal Carlos Kunkel ter dito ontem que Cristina seguiria na disputa política em 2015. “O que acontece é que Carlos me quer muito bem”, brincou a presidenta.
Inicialmente projetava-se a possibilidade de uma reforma constitucional para que ela pudesse disputar uma nova reeleição, mas este horizonte ficou mais turvo no segundo mandato devido à perda de popularidade e ao consequente desgaste da imagem pessoal de Cristina. As eleições legislativas de meio de mandato, realizadas este ano, também serviram como recado. Embora a política argentina seja altamente volátil, o resultado mostrou certa perda de fôlego da Frente para a Vitória, a coalizão encabeçada pelo Partido Justicialista (também conhecido como Peronista) que há quase onze anos comanda a Casa Rosada.
Chegou-se também a especular que Cristina poderia sair candidata ao Legislativo. Mas, em 2015, nem a província de Buenos Aires, berço político da presidenta, nem a de Santa Cruz, domicílio eleitoral dos Kirchner, têm disputa ao Senado. A outra possibilidade seria disputar um assento entre os deputados, frente hoje descartada por Cristina.
No próximo ano o Partido Justicialista realiza importantes eleições internas que podem acabar definindo o jogo de forças em 2015.
Em relação à sucessão, até agora não surgiu dentro do governo um nome de consenso para encerrar o ciclo kirchnerista à frente da Casa Rosada. Inicialmente, o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, era considerado um bom nome, mas seu movimento de tornar pública a intenção de candidatura em 2015 não foi bem aceito por Cristina. Após algum tempo, ele e a presidenta deixaram de se criticar publicamente, e há a possibilidade de que Scioli consiga apoio interno para ser o candidato do PJ à presidência.
Uma alternativa que ganha força é a do novo chefe de gabinete de Cristina, Jorge Capitanich, ex-governador do Chaco. Ele nega esta possibilidade, mas a forte exposição que tem tido à frente do cargo parece indicar o contrário. Desde que assumiu o cargo, em novembro, é ele quem se reúne com empresários, quem dialoga com o agronegócio e quem articula ações políticas com Congresso e governadores.
Com Cristina ainda se recuperando da cirurgia a que se submeteu para a retirada de um coágulo, é Capitanich quem tem mais exposição midiática.
Ele garante que não almeja a presidência, desmentido que não vale muito na política argentina. Em novembro Capitanich negou a possibilidade de deixar o comando da província para ser chefe de gabinete da Casa Rosada. Dias depois, fez o contrário.
Fonte: Rede Brasil Atual