Por Elaine Tavares e Nildo Ouriques – Já está definido o tema para a histórica edição das Jornadas Bolivarianas, que em 2014 completa 10 anos de realização. Será a celebração dos 40 anos da Teoria Marxista da Dependência, uma perspectiva do desenvolvimento que tem como principais teóricos Ruy Mauro Marini, Theotônio dos Santos e Vânia Bambirra, intelectuais brasileiros de vasta obra na área. Como essa foi uma teoria bastante obscurecida no Brasil por conta da ditadura militar, esses autores ficaram, aqui, esquecidos por décadas embora iluminassem a teoria do desenvolvimento e da dependência em toda América Latina. Nesse ano de 2014, ao cumprirem-se 40 anos dos primeiros escritos sobre esse tema, o Iela aprofunda a discussão e busca refletir sobre a validade dessa teoria em tempos de neodesenvolvimento.
A proposta de um Seminário Internacional Latino-americano – Jornadas Bolivarianas – nasceu em 2004 quando da criação do Observatório Latino-Americano, que dois anos depois se transformaria no Instituto de Estudos Latino-Americanos, o Iela. A intenção era, e segue sendo, debater em profundidade temas sobre a política, economia, cultura e arte latino-americana que não estejam colocados na agenda hegemônica do saber oficial. Foi assim que, quando poucas universidades ousavam discutir América Latina, o então OLA abriu essa fecunda década de debates problematizando as novidades políticas que nasciam na Venezuela sob o comando de Hugo Chávez. A partir daí, debateu o mapa da crise nas Ciências Sociais, a insurgência do pensamento crítico, a ideia de nação e nacionalismo, a política dos Estados Unidos para a América Latina, o socialismo no nosso continente, as políticas culturais imperialistas, o Caribe e os Megaeventos esportivos.
Cumpridos 10 anos de existência desse seminário, nada mais oportuno, então, do que discutir essa teoria, nascida brasileira, que foi tão vilipendiada nas universidades e nos centros de saber do país. Em tempos de incensamento de um novo desenvolvimentismo e crescimento econômico, as categorias de análise da Teoria da Dependência serão colocadas na mesa, para compreensão de sua validade e dos seus limites.
O tema das Jornadas Bolivarianas – X Edição
A hegemonia do desenvolvimentismo (neodesenvolvimentismo) nas ciências sociais é produto da nova orientação do Estado brasileiro na última década. O projeto neoliberal foi gradualmente sendo superado em favor de um projeto cujos principais defensores denominam “neodesenvolvimentismo”. Essa proposta não somente dita as políticas públicas como também impõem uma agenda teórica para as universidades públicas. Assim, em função da força que o tradicional desenvolvimentismo ganhou na sociedade brasileira sob a roupagem de “neodesenvolvimentismo”, a crítica à teoria dominante ganhou relevância na medida em que resurgiu com idêntica vitalidade a teoria marxista da dependência (TMD), corrente teórica nascida na década de sessenta que seguiu produzindo resultados até os dias atuais, ainda que com menor visibilidade pública.
Contudo, o novo ambiente intelectual que assomou com força na América Latina a partir da superação das política neoliberais e especialmente após a grande crise financeira vivida pelos países centrais a partir de 2007/2008, permitiu que a teoria marxista da dependência retomasse o protagonismo nas ciências sociais. Por esta razão, nasceram também muitos grupos de pesquisa amparados por essa teoria em várias universidades brasileiras.
A Sociedade Brasileira de Economia Política, uma das grandes sociedades científicas no campo da economia brasileira, criou um Grupo de Trabalho (GT) sobre a TMD e já realizou dois encontros nacionais. Estes eventos contaram com a presença de pesquisadores de 14 países latino-americanos que estudam sistematicamente a teoria marxista da dependência. O IPEA, órgão governamental decisivo na área de pesquisa aplicada em economia e políticas públicos criou cátedras de pesquisa entre as quais existe a Cátedra Ruy Mauro Marini, principal representante intelectual da teoria marxista da dependência. Esta dinâmica que a cada dia ganha maior relevância no meio universitário brasileiro conta também com a iniciativa pioneira do IELA na publicação da “Pátria Grande, Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano”, cujo primeiro volume divulga em nosso país, por primeira vez, a obra de Ruy Mauro Marini com imenso sucesso editorial (quarta edição em menos de 2 anos) e incluiu também a obra de Vânia Bambirra, outra destacada intelectual da TMD. Todas estas iniciativas exigem que o evento anual do Iela, as Jornadas Bolivarianas, se destine inteiramente ao debate sobre os novos aportes da teoria marxista da dependência no mundo universitário brasileiro, com a participação dos principais pesquisadores brasileiros da temática e também ilustres professores e intelectuais latino-americanos que acumularam experiência e conhecimento para o desenvolvimento de esta importante crítica ao desenvolvimentismo.
As Jornadas Bolivarianas acontecem de 9 a 11 de abril de 2014, na Universidade Federal de Santa Catarina, e marcarão uma década de profundo e vital debate sobre a realidade latino-americana.
Foto: Reprodução/IELA
Fonte: IELA
A teoria da dependência (que já era anacrônica quando criada) é conhecida mundialmente pelas contribuições de FHC e Enzo Falleto. Esse citados na reportagem são apenas obscuros dogmáticos a quem ninguem dá atenção.