“Quem abre uma escola, fecha uma prisão”. A frase do escritor francês Victor Hugo, autor de “Os miseráveis” e “O Corcunda de Notre Dame”, será concretizada no município de Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte (MG). A penitenciária José Maria Alckmin, a mais antiga da cidade, dará lugar a uma universidade e um complexo cultural.
Para debater o tema, foi convocada uma audiência pública, para a próxima terça-feira (22), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), às 15 horas.
Esse pedido já tinha sido feito pela população desde que o governador de Minas e candidato à presidência da República, Aécio Neves (PSDB), decidiu assinar um convênio para a construção de uma nova penitenciária. Trata-se do Complexo Prisional Público-Privado (CPPP), que foi inaugurado oficialmente no dia 28 de janeiro deste ano. Foi o primeiro presídio privatizado do Brasil.
Desde que foi anunciada a construção do novo presídio, os moradores de Ribeirão das Neves repudiaram com veemência. “A cidade tem mais de 5 mil presos. Mas com a família deles, a gente pode contar de 8 a 10 mil pessoas que chegam na cidade. É um impacto muito grande sobre os serviços públicos, que já são precários”, disse à época ao Brasil de Fato Rosely Carlos Augusto, integrante da Rede Nós Amamos Neves e moradora do município.
Ribeirão das Neves abriga 10% de toda a população carcerária do estado de Minas, de acordo com dados do Infopen, do Ministério da Justiça. No entanto, com a chegada de mais presos para o novo complexo, esse número pode chegar a quase 30% do total. Esta é a sexta unidade prisional do município.
Pelo fato de Ribeirão das Neves ser conhecida como ‘a cidade dos presídios’, a desativação da penitenciária José Maria Alckmin está sendo comemorada pelos moradores. Hoje em estado degradado, a instituição carcerária foi inaugurada em 1938. À época, antes da eclosão da violência e do encarceramento em massa, era local de referência da região, inclusive cultural.
Lá funcionava o único cinema da cidade, e as crianças jogavam bola. Daí a justificativa, segundo os moradores, de transformar o local em um espaço de cultura.
Foto: José Carlos Alexandre
Fonte: Brasil de Fato