Aqui estão 7 sugestões para os trabalhadores que não querem ser meros pombos correios das informações que servem ao capital. As sugestões abaixo são escancaradamente influenciadas por autores como Walter Benjamin e Bertolt Brecht.
Por Afonso Machado
Ao longo da história as classes dominantes realizaram o controle sobre a palavra escrita. A divisão social do trabalho trouxe a terrível evidência de que escravos, servos, artesãos , camponeses e operários não produziram, a grosso modo, suas próprias narrativas. Porém, quem poderia negar que nos séculos XIX e XX evidenciou-se através da imprensa operária, a apropriação da palavra escrita pelo proletariado? Como não levar em conta a subversão da condição histórica da literatura a partir das novas mídias, no presente século? As proletárias e os proletários que trabalham nos setores do capitalismo de serviços, que hoje corresponde a 70 por cento do PIB brasileiro, precisam reconhecer-se cada vez mais como autores. Ao terem na palma da mão a ferramenta digital em que a diferença entre leitor e escritor é praticamente pífia, estes trabalhadores podem contribuir com a consciência de classe através da literatura de combate.
Pensando nisso, aqui vão 7 sugestões para os trabalhadores que não querem ser meros pombos correios das informações que servem ao capital. As sugestões abaixo são escancaradamente influenciadas por autores como Walter Benjamin e Bertolt Brecht.
1
Não tenha medo de livros velhos e nem de textos extensos. Saiba morder a melhor parte das palavras para apropriar-se das informações históricas e das técnicas literárias, a serem utilizadas nos seus próprios textos. Saiba quais são seus interesses políticos e literários. Desta maneira será possível selecionar obras desejadas. Em seguida procure ler, ler, ler, ler, até os olhos queimarem. Se necessário durma menos e leia mais. Compense o sonho adiado quando estiver escrevendo: as energias do sonho num texto geram imagens libertárias que podem desorganizar o discurso do gestor da era do toyotismo.
2
Em tratando-se de literatura revolucionária, combater é mais importante do que relatar.
3
Representar situações políticas e sociais sem intervir politicamente no plano da própria narrativa, é conversa fiada. Trocando em miúdos: quem escreve toma partido.
4
Se algum conservador lhe enviar uma mensagem “ patriótica “ do celular é importante saber dar uma resposta literariamente adequada. Rememore as cenas de miséria no cotidiano do seu bairro, no dia a dia do centro da sua cidade, e as organize em verso ou prosa. As palavras, pela lógica histórica daquilo que é exposto, destroem a partir de si mesmas o enganoso discurso patriótico.
5
“ A criação artística “ em si não é o fundamental. Importante é a construção do texto: é preciso saber montar os acontecimentos, ir além da aparência dos fatos e apreender as contradições da realidade. O objetivo não é hipnotizar o leitor. O objetivo é choca-lo. Expor que toda narrativa é sempre uma construção: um escritor de esquerda mergulha no conhecimento da história para revelar ângulos ocultos, para desorganizar o olhar burguês e posicionar-se ao lado dos oprimidos.
6
O estranhamento adquire uma nova proporção expressiva quando o texto é lido no celular: se no Zap e nas redes sociais em geral, as pessoas procuram aproximar-se de maneira acrítica e afetuosa das palavras e imagens, um texto de combate fere hábitos abobalhados ao afastar, ao propor o distanciamento crítico em relação ao texto.
7
Procure disseminar a seguinte ideia: o escritor é um trabalhador que precisa saber qual é o seu lugar na luta de classes.