Por Matheus Moreira, Nexo Jornal.
No Brasil, a cada 23 minutos, um jovem negro de 15 a 29 anos é assassinado. A cada 90 minutos, uma mulher é assassinada por um homem. Uma lésbica, homossexual, bissexual ou transgênero morre a cada 28 horas. Todos esses dados são de 2016.
O Barnard Center for Research on Women, uma instituição de pesquisa e ativismo feminista e independente de Nova York, produziu um vídeo que tem como objetivo ajudar uma pessoa que está presenciando uma situação de racismo e discriminação a agir de maneira segura, protegendo a vítima, sem precisar contatar a polícia e evitando ser um espectador passivo da cena.
A agressão física, como sugere o vídeo, é precedida por agressão verbal e outras manifestações de preconceito mais sutis. Por isso, se houver chance de intervenção segura, é possível mudar o rumo do ataque. Como chamar a polícia pode não ser uma opção (estima-se que 62% dos moradores de cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes têm medo de sofrer agressão da polícia), intervir ao presenciar uma cena de agressão verbal pode ser uma maneira de garantir segurança e acolhimento a quem foi agredido e evitar uma escalada de violência.
O vídeo está disponível apenas em inglês, mas nas opções é possível incluir legendas (também em inglês).
Como agir em casos de violência, segundo o vídeo
1-NÃO FINJA QUE NÃO VIU
A passividade de quem presencia pode simbolizar aprovação e deixa a vítima ainda mais indefesa. Se puder, fale com a vítima, tente parecer calmo e acolhedor, ignorando e evitando contato visual com o agressor. Olhe a vítima nos olhos e dê suporte a ela. Finja não perceber a presença do agressor — isso evita uma escalada de agressão e a ausência de respostas da sua parte e da vítima irá fazê-lo ir embora mais rápido.
2-DOCUMENTE O INCIDENTE
Pessoas em volta costumam filmar esse tipo de incidente. Se for possível e se a vítima não se opuser, documente em vídeo as agressões. Filmagens podem constranger os agressores e provar que a agressão realmente aconteceu, evitando que o relato da vítima seja reduzido a opinião ou exagero.
3-FIQUE POR PERTO
Fale com a vítima e veja o que fizeram contra ela. Pergunte sobre o que ela precisa. Se houver consentimento, ofereça à vítima maneiras concretas de ajudá-la. Dê água à vítima e a auxilie a se recompor. Ajude-a a contatar um amigo ou familiar e, se for necessário, consentido e possível, acompanhe-a até um lugar que a pessoa considerar seguro.
4-RESPEITE A OPINIÃO DA VÍTIMA
Para algumas pessoas, oficiais armados podem representar violência ou opressão. Se a vítima não te pediu expressamente para fazê-lo, não ligue para a polícia.
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5-FALE SOBRE O RACISMO, MESMO SENDO BRANCO
Você pode lutar contra o racismo, mesmo sendo branco, enfrentando as políticas públicas que não englobam negros, as mídias sociais e os veículos de imprensa que reproduzem estereótipos racistas. Se você é branco, fale com sua família e amigos sobre racismo sempre que possível, preferencialmente, faça-o todos os dias, especialmente em ambientes excepcionalmente brancos. Assim você luta contra a cultura racista sem expor pessoas negras.
6-PROTESTE
Peça justiça e equidade de raça, de gênero, orientação sexual, religião e de nacionalidade. Se aproxime de pessoas que, como você, não aceitam racismo, sexismo, xenofobia e discriminação contra pessoas LGBT. Você pode manifestar suas demandas por justiça pela arte, por cartas ao governo ou empresas que tenham se envolvido em casos de discriminação. Você pode ajudar organizações que acolhem e auxiliam pessoas que integram grupos de minorias sociais. Se você não tem tempo para dedicar às causas, se puder e preferir, pode ajudar as organizações por justiça social financeiramente, de acordo com suas possibilidades.
O que o poder público recomenda
Apesar das sugestões do vídeo, é importante lembrar que cada caso é único e as pessoas podem reagir de diversas maneiras a situações de tensão. Além das dicas da instituição, você também pode seguir o caminho indicado pelo poder público.
Alguns Estados brasileiros oferecem atendimento especializado, dentro das polícias, para crimes de intolerância — em São Paulo, por exemplo, existe a Decradi (Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), em que é possível registrar queixa.
Em casos de violência contra mulheres, recomenda-se ir a uma delegacia da mulher e dar entrada no boletim de ocorrência. Caso haja consentimento, auxilie a vítima a prestar queixa. Se tiver havido agressões físicas, o exame de corpo de delito deverá detectá-las. As delegacias da mulher também atuam na forma do contato telefônico.
Disque-denúncia de violência contra mulheres
No Brasil, o racismo (ofensas a grupos étnicos) e a injúria racial (tratamento depreciativo a um indivíduo, com base em sua raça ou cor) são crimes. Se você for vítima de alguma dessas agressões ou presenciar outra pessoa sendo verbal ou fisicamente agredida em função de sua cor, raça ou etnia, pode se dirigir a qualquer delegacia para fazer um boletim de ocorrência.
Assim como a violência contra as mulheres, o racismo e a injúria racial podem ser denunciadas por telefone: 180.
Disque-denúncia de crimes de intolerância
A violência contra pessoas LBGT também pode ser denunciada em delegacias. Em todos os casos apresentados neste texto pelo Nexo, a recomendação do poder público em casos de agressão física é evitar, apenas se possível, lavar-se, fazer curativos ou trocar de roupas, uma vez que os ferimentos e a vestimenta podem servir como prova da agressão. A denúncia de crimes de intolerância pode ser feita através do telefone: 100.
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Fonte: Geledés.