5 Perguntas pra sua mãe, nesta eleição. Por Flávio Carvalho.

Por Flávio Carvalho.

No dia em que eu vim-me embora, minha mãe chorava em ai… e eu nem olhava pra trás” (Gil).

Barcelona, 4 de outubro de 2024.

Se eu fosse você, pessoa brasileira no exterior, pegava o telefone e ligava agora mesmo, grátis, para pessoas da família, lá no Brasil, perguntando (em princípio, somente perguntando) sobre as intenções de voto neste domingo, nestas eleições municipais.

“Votará em candidato com a ficha policial suja por algum motivo relacionado à corrupção, violência machista, racista, ou de outro tipo?”.

“Votará em candidato com posição bolsonarista, negacionista, com a mão manchada de sangue por alguma morte na pandemia do Covid?”.

Vira-voto. Sugestões para campanhas políticas ainda não desesperadas.

“Votará em candidato com opinião minimamente parecida ao crescimento dos naz1f4scistas: armamentistas, antiecologistas, fanatismos religiosos, semeadores de ódio, entre outras desgraças presentes na vida cotidiana não somente do nosso país?”.

“Votará em candidato de um partido político vinculado exatamente às desgraças anteriormente mencionadas, com aquela desculpa esfarrapada de que O Partido Não Importa e sim a pessoa (financiada, atrelada ou que optou por este partido quando existem muitos outros, na verdade)?”.

“Votará em candidato homem branco privilegiado, herdeiro de alguma família política tradicional?”.

Essa última pergunta vai doer também à esquerda, eu sei. Mas não dá pra negar a existência de metade da população (feminina ou equivalente; não branca ou equivalente) que já não aguenta mais aquela conversa fiada de que lhes faltam méritos para isso. Ainda estamos naquela falsa conversa de meritocracia do século passado? Porque deveríamos seguir deixando essas questões eternamente para trás.

É hora de exercer sua capacidade de Influencer (né?) sobre qualquer pessoa com um vínculo de afeto por você. Recordando-se que nada, nenhuma mensagem de texto, ícone do Whatsapp, postagem em redes sociais, nada supera a capacidade de falar, conversar, escutar a voz, trocar notícias, desejar aquele bom dia, intercambiar saudades. Quanto mais olho no olho, melhor.

Nada a ver com querer ser melhor que ninguém somente por “morar fora” ou “mandar dinheiro por remessas” (aquelas pessoas que possuem o privilégio de poder mandar). Não é disso que estamos falando.

Por outro lado, migrar não garante ampliar nossas visões, perspectivas e sonhos de um mundo melhor. Mas ajuda significativamente.

Eu, por exemplo, tendo o meu título de eleitor transferido para o exterior, somente posso e devo votar nas eleições presidenciais, a cada quatro anos. Mas ainda me sinto, sempre, responsável pela vida política do meu país. E principalmente pelo impacto ou reflexo do que pode acontecer como resultado na vida das pessoas que eu amo e que vivem lá, em cada cidade do meu Brasil. Na que eu ainda (e sempre) considero minha, principalmente.

Eu tenho família ampla, ainda que meus pais já tenham transcendido esta vida. A minha mãe, por exemplo, faria o contrário, neste momento: telefonaria ela para mim, assegurando que eu continuo um bom filho votando sempre na esquerda, aonde quer que eu esteja.

Por fim, devo dizer que, mesmo o país não tendo a menor ideia de quem e de quantos nós somos, somos milhões de pessoas brasileiras morando no exterior e que se nos somamos todos seríamos, numericamente, o 13º Estado da República Federativa do Brasil. Muito mais que muitos Estados da Federação. Deveríamos ter, nós também, mais consciência dessa nossa imensa capacidade de influência.

O país é nosso, também. Cada voto conta. E é responsabilidade de todos. Até pra não se transformar, futuramente, em “culpa”. Pois culpa é coisa do passado. Responsabilidade é olhar pra frente. Ou pra dentro.

Aquele abraço.

@1flaviocarvalho, @amaconaima, sociólogo e escritor.

A opinião do/a/s autor/a/s não representa necessariamente a opinião de Desacato.info.

 

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