Abaixo, por exemplo, reunimos cinco frases populares de figuras históricas que estão erradas ou, pior, nunca foram ditas por elas.
‘Seja a mudança que você quer ver no mundo’ – Mahatma Gandhi
Mahatma Gandhi, líder do movimento de independência contra o domínio britânico na Índia, é a fonte de muitas citações.
Entre eles está essa acima, que enfatiza a responsabilidade pessoal como ponto de partida para a mudança global.
O problema é que não há registro de ele tenha dito ou escrito essa frase.
‘Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo’ – Voltaire
Esta citação, supostamente do escritor e filósofo francês Voltaire, é frequentemente usada por defensores da liberdade de expressão.
Em poucas palavras, ele diz que se você acredita fortemente no direito das pessoas de falarem o que pensam, você defenderá esse direito mesmo quando elas disserem algo que você realmente acha ofensivo ou não quer ouvir.
Voltaire, que viveu entre 1694 e 1778, certamente acreditava na liberdade de expressão.
Grande parte de seus escritos atacava as tentativas da Igreja Católica de restringir a liberdade das pessoas da época. Mas é quase certo que ele nunca expressou suas opiniões nos termos dessa “frase mais citada”.
A citação se origina de uma biografia de Evelyn Beatrice Hall publicada em 1906, mais de um século após a morte de Voltaire.
No livro, a autora tenta resumir o pensamento de Voltaire sobre a liberdade de expressão e escreveu essa frase para transmitir a ideia.
‘Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada’ – Edmund Burke
Edmund Burke foi um filósofo, estadista e escritor irlandês do século 18, e um deputado por mais de 20 anos. Entre suas frases mais citadas está essa acima.
Mas o biógrafo de Burke nega que o filósofo a tenha dito.
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David Bromwich, autor de The Intellectual Life of Edmund Burke (A vida intelectual de Edmund Burke), disse à Reuters: “Não sei se alguém famoso atribuiu (a frase a Burke), mas esse erro de atribuição tem tido uma vida longa”, agregando que não vê sentido na frase nem acha que Burke diria algo “tolo” assim. “O silêncio dos homens bons não é a única coisa necessária para o triunfo do mal”, opina.
O que Burke disse, em 1770, foi: “Quando homens maus se unem, homens bons devem se associar; caso contrário, eles vão acabar, um por um, fazendo um sacrifício impiedoso em uma luta ingrata”.
A citação parece ter sido distorcida logo depois, e até foi referenciada pelo ex-presidente dos EUA, John F. Kennedy, em um famoso discurso em 1961.
‘Eu não posso mentir. Eu cortei a cerejeira’ – George Washington
Entre seus seguidores, George Washington (o primeiro presidente dos Estados Unidos) era famoso por sua honestidade.
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Isso é frequentemente ilustrado por uma história em que Washington, com 6 anos de idade, cortou a preciosa cerejeira de seu pai, mas, quando seu vandalismo foi descoberto, o menino imediatamente admitiu o erro.
É uma história amada e contada muitas vezes, que se tornou um símbolo das virtudes de Washington.
Ela apareceu pela primeira vez no relato do biógrafo Mason Locke Weems sobre a vida de Washington, que foi publicado um ano após a morte do político em 1799.
Mas, curiosamente, a história não foi incluída no livro de Weems até a quinta edição, publicada em 1806.
Sem nenhuma outra evidência antes disso, alguns argumentam que a história poderia ter sido completamente inventada.
‘Que comam brioche’ – Maria Antonieta
Diz-se que quando Maria Antonieta, rainha da França durante o período que antecedeu a Revolução Francesa (1789), foi informada de que seus súditos não tinham mais pão para comer, teria dito: “Que comam brioches!”
A frase é para mostrar como ela não tinha contato com a realidade da população pobre da França, ou que ela simplesmente não se importava.
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A história parece ter surgido nos escritos do filósofo iluminista Jean-Jacques Rousseau por volta de 1767, mas ele só a atribui a “uma grande princesa”.
Mas como Maria Antonieta era criança na época, é improvável que ela fosse a princesa a quem ele se referia.
Além disso, histórias semelhantes sobre diferentes aristocratas esnobes circulavam há anos.
A frase foi especificamente ligada a Maria Antonieta pela primeira vez em um panfleto do escritor Jean-Baptiste Alphonse Karr publicado 50 anos após sua morte, o que também sinaliza que a atribuição a ela dificilmente estava correta.