Por Lúcia Rodrigues.
A Universidade de São Paulo programou a retomada das aulas presenciais para o dia 27 de setembro.
A decisão foi tomada nesta terça-feira, 10, após reunião do reitor, Vahan Agopyan, com os diretores das faculdades e dos institutos da Universidade.
Os dirigentes decidiram que alunos e professores devem retornar aos campi se já tomaram as duas doses da AstraZeneca, Coronavac ou Pfizer ou a dose única da Janssen.
A determinação para a volta dos trabalhadores técnico-administrativos vacinados foi antecipada para o próximo dia 23.
A medida pegou professores e funcionários de surpresa. Eles criticam a decisão da cúpula da USP.
Michele Schultz Ramos, presidente da Associação dos Docentes da USP (Adusp), teme que o retorno às aulas presenciais aumente os casos de Covid e contribua para a proliferação da variante Delta.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) lembra que já foi feita uma greve sanitária ano passado contra a decisão unilateral do reitor, que havia determinado o retorno compulsório ao trabalho.
“Nossa paralisação foi vitoriosa. O Vahan teve de voltar atrás (na decisão)”, comemora o sindicalista.
A mobilização dos professores contra o retorno às aulas também anima Michele. “Temos um plano sanitário que deveria ter sido observado pela reitoria”, alfineta.
“Estamos pedindo para participar da tomada de decisões desde o ano passado, mas a reitoria não nos ouve”, critica a docente.
Magno antecipa que a assembleia da categoria já referendou que os trabalhadores não devem retornar ao trabalho presencial antes que a maioria da população esteja completamente imunizada.
Essa também é a opinião da professora Michele. “Não adianta poucos estarem vacinados. A maioria tem de estar imunizada. Além disso é preciso seguir protocolos conjuntos para evitar a transmissão da doença.”
O sindicalista relata que o funcionário do campus de Ribeirão Preto André Luiz Orlandin, que também é diretor da entidade, foi contaminado pela Covid e está intubado há mais de um mês.
“Ele estava no trabalho remoto, mas tinha de ir algumas vezes à USP. Se contaminou e está internado em estado grave. A Covid afetou seus rins. Está fazendo hemodialise”, lamenta.
Casos sobre contaminação são recorrentes entre funcionários que continuaram trabalhando presencialmente por atuarem em áreas essenciais.
“A reitoria se nega a nos dizer quantos funcionários morreram de Covid. Nós sabemos que foram mais de 40 trabalhadores. Mas não temos ideia de quantos terceirizados também morreram.”
O dirigente ressalta que mesmo quando não morrem, os trabalhadores podem transmitir a doença para familiares. E cita o caso de um funcionário do bandejão, restaurante destinado a estudantes. “Foi internado, se recuperou, mas contaminou a mãe, que morreu.”
“É inaceitável retornar ao trabalho presencial neste momento. É só ver o que está acontecendo no Brasil e no mundo. O Rio de Janeiro, por exemplo, abriu as escolas e teve de fechar por causa do aumento das contaminações”, frisa Magno.
Ele também critica a diferenciação feita pela reitoria no calendário de retorno à Universidade para funcionários, professores e estudantes.
“Eu, por exemplo, trabalho diretamente com os alunos. Por que teria de voltar um mês antes, se os estudantes não estarão lá?”, questiona.