40 anos da Teologia da Libertação

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Por Benjamin Forcano.

ADITAL

Há 40 anos começava uma nova maneira de fazer teologia, que tem influenciado notavelmente a sociedade e a Igreja. Aos 40 anos, uns a dão como acabada; outros, a felicitam pela tarefa desenvolvida e pelos desafios que apresenta com vistas ao futuro(…)

Porém, a Teologia da Libertação (TdL) não começou nos anos 70. Em 1492 acontece o início da colonização latino-americana; e, em 1511, um frei dominicano, Antonio de Montesinos, em nome de sua comunidade e ante as autoridades da Isla La Española (hoje República Dominicana), disse, com referência aos indígenas e ao tratamento que estes recebiam: “Por acaso, não são homens?”. Foi a primeira pergunta de uma história de libertação, como muito bem explicou o professor Reyes Mate, em conferência sobre esse tema. Podemos, então, dizer que a história da TdL começou há 500 anos, em 11 de dezembro de 1511.

Sem dúvida, não faltaram cristãos que desde sempre e a partir da experiência de sua fé, viam a teologia subordinada a uns ditames colonizadores opressivos. Porém, sua experiência não era formulada em novas categorias teológicas e tampouco se tornou pública na sociedade.

A partir dos anos 60, grandes expectativas de mudança vão se gerando no mundo; porém, os cristãos pareciam carecer de criatividade e não incidir nessa mudança com alternativas próprias de transformação.

É por essa época que Gustavo Gutiérrez lança uma contribuição teológica nova a partir do contexto latino-americano: “Como apresentar Deus num mundo bipolar formado por ricos e pobres, onde, por lógica, sua relação é de injustiça e de exclusão; e como a fé é capaz de provocar mudanças radicais? Essas mudanças exigem que os pobres, os excluídos, os discriminados deixem de sê-lo, o que não é possível sem a transformação do sistema.

Se os cristãos têm como base e medida o Evangelho, encontramos nele uma declaração, que soa como um Manifesto, na parábola do Bom Samaritano. Nela se fazem presentes todos os esquemas de vãs teologias e se marca o estilo a seguir. Pergunta Jesus: “Qual dos três personagens te parece que foi o próximo do homem que havia sido vítima dos salteadores?”.

– “O que teve compaixão dele”.

– “Perfeito; vai e faz o mesmo”. (Lc 10, 30-37).

Sentir compaixão e atuar em consequência é prévio para quem quer fazer TdL. Antes de ser uma reflexão fria e abstrata, a TdL é uma vivência, uma prática de amor dentro da qual brota naturalmente uma maneira nova de fazer teologia.

Obviamente, a TdL não acaba em si mesma; não se detém em dar explicações sobre o que acontece; mas, avança para realizar práticas de mudança e libertação. Explicar a realidade contraditória existente e deixá-la como está não é teologia libertadora. A realidade, injustamente interpretada e configurada, necessita ser mudada para ser conformada com o projeto de Deus, que Jesus chamava reino de Deus e que se constrói na base da igualdade, da justiça, da fraternidade e da liberdade.

Viver a libertação em mudanças e práticas libertadoras é um imperativo para o cristão que quer ser fiel ao Deus libertador.

Para a mudança da realidade, os cristãos têm que contar com uma análise dessa realidade tecida em torno ao binômio riqueza-pobreza, Norte-Sul, e que demonstrará que essa situação não é fruto da casualidade, nem da vontade dos deuses; mas do egoísmo e da cobiça dos homens; do domínio que os mais fortes estabelecem sobre os mais débeis e necessitados.

Essa análise é necessária para descobrir as causas reais da opressão e seus sujeitos responsáveis e evitar o idealismo. O marxismo, não como filosofia ou visão global da realidade, mas como ciência, pode ajudar muito ao conhecimento dessas causas e de suas funestas consequências. Vale enquanto sua análise se mostre verídica em assinalar a gênese e os efeitos do capitalismo. Nunca os teólogos da libertação assumiram o marxismo como visão filosófica da realidade nem o utilizaram acriticamente.

Precisamente porque a TdL aponta à mudança da opressão e da injustiça, tem sido, caluniosamente, atacada. Essa teologia reclama para a Igreja inteira o lugar próprio que lhe destina sua fé desde o seguimento de Jesus: ser pobre; viver com os pobres e comprometer-se com sua libertação.

Essa recolocação da Igreja é perigosa para os opressores e para uma Igreja-Poder, acostumada a viver em aliança com os poderosos. Nada acontece nessa teologia que não traduza com fidelidade a mensagem radical de Jesus e seu Evangelho. Porém, os “questionados” pela TdL e seu domínio e “meios gigantescos” se encarregaram de divulgar que a TdL era heterodoxa por sua marxistização; por sua separação do magistério eclesiástico; por seu fomento da guerrilha; por seu conceito meramente temporal da salvação; pela redução do Jesus histórico a um líder terreno…

Posteriormente, não poucos vinham associando a sorte da TdL ao socialismo real. A queda deste, fez-lhe acreditar que a TdL também cairia. Duplo engano: porque o socialismo não se identificava com o socialismo de Estado e a TdL não era sua subordinada; mas tinha origem e base próprias no Evangelho. Como muito bem disse o bispo Pedro Casaldáliga: “A TdL não tem a Marx como padrinho, mas a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”.

A queda do socialismo real não canonizava a maldade intrínseca do capitalismo, mas incitava a aprofundar nas causas de sua opressão, hoje globalizada. Como sempre, as estruturas econômicas contam na marcha da sociedade e, sem elas, não se pode entender o funcionamento do sistema neoliberal. Porém, não são determinantes, nem empanam a influência de outros fatores da sociedade; o primeiro de todos: o protagonismo dos cidadãos.

A consciência atual pode reverter a visão eurocêntrica dominadora que, há mais de 400 anos, governa o planeta Terra. Diante da Terra, o homem não é dono e depredador, nem pode continuar explorando-a ilimitada e insolidariamente.

Hoje, a TdL atua nas frentes mais necessitadas de libertação: mulher-homem; religiões enfrentadas; indígenas acossados; povos secularmente submetidos…

O novo paradigma da TdL vai além de todas as subordinações do mundo moderno, plasmadas na sociedade e no sistema capitalistas. A sociedade atual, com o protagonismo dos cidadãos –tal como aparece no movimento M-15, dos indignados- está marcando um novo giro frente à relação de domínio, estabelecida por séculos.

É um fato que a TdL não parece contar, como em anos anteriores, com pensadores eminentes. Seguramente porque sua seiva viva e transformadora tem circulado por baixo, mais horizontalmente, permeando e impulsionando diretamente o pensamento e a ação dos “sem voz”.

40 anos de la Teología de la Liberación

Por Benjamin Forcano.

Hace 40 años comenzaba una nueva manera de hacer teología, que ha influido notablemente en la Sociedad y en la Iglesia. A los 40 años, unos la dan como acabada y otros la felicitan por la tarea desarrollada y los desafíos que plantea de cara al futuro.

Pero la Teología de la Liberación no comenzaba en los años 70. En 1492 se produce el llamado descubrimiento de América Latina y en 1511, un fraile dominico, Montesinos, en nombre de su comunidad y ante las autoridades de la Isla Española (hoy República Dominicana), dijo en referencia a los indígenas y al trato que estaban recibiendo: “¿Estos acaso no son hombres?”. Primera pregunta de una historia de la liberación, como muy bien ha explicado el profesor Reyes Mate, en conferencia sobre este tema.

La historia de la Teología de la Liberación puede decirse que comenzó el 11 de diciembre de 1511, hoy hace 500 años.

Sin duda, no faltaron cristianos que, desde siempre y desde la experiencia de su fe, veían a la teología subordinada a unos dictados colonizadores opresivos. Pero, su experiencia no acababa de formularse en nuevas categorías teológicas y hacerse pública en la sociedad. A partir de los años 60, se van generando en el mundo grandes expectativas de cambio, pero los cristianos parecían carecer de creatividad y no incidir en este cambio con alternativas propias de transformación.

Es por entonces cuando Gustavo Gutiérrez lanza un planteamiento teológico nuevo desde el contexto latinoamericano: ¿Cómo presentar a Dios en un mundo bipolar de ricos y pobres, donde por lógica su relación es de injusticia y exclusión y cómo, ahí, la fe es capaz de provocar cambios radicales? Esos cambios apuntan a que los pobres, los excluidos, los discriminados dejen de serlo, lo cual no es posible sin dar la vuelta al sistema.

Si los cristianos tenemos como base y medida el Evangelio, encontramos en él una declaración, que suena a Manifiesto, en la parábola del buen samaritano. En ella se tronzan todos los esquemas de vanas teologías y se marca el estilo a seguir. Pregunta Jesús: – “¿Qué te parece, cuál de los tres personajes, que vieron medio muerto al hombre asaltado por los bandidos, se hicieron próximo suyo?”.

– Pues el que tuvo compasión con él.

– Perfecto, anda y haz tú lo mismo (Lc 10, 30-37).

Sentir compasión y actuar en consecuencia es previo para el que quiera hacer TdL. Antes que una reflexión fría y abstracta, la TdL es una vivencia, una práctica de amor, dentro de la cual brota natural una manera nueva de hacer teología.

Obviamente la teología de la liberación no acaba en sí misma, no se detiene en dar explicaciones de lo que pasa, sino que avanza hasta realizar prácticas de cambio y liberación. Explicar la realidad contradictoria existente y dejarla como está no es teología liberadora. La realidad, injustamente interpretada y configurada, necesita ser cambiada para ser conformada con el proyecto de Dios, que Jesús llamada Reino de Dios, y que se construye a base de igualdad, justicia, fraternidad y libertad. Vivir la liberación en cambios y prácticas liberadoras es un imperativo para el cristiano si quiere ser fiel al plan del Dios liberador.

Para el cambio de la realidad, los cristianos tienen que contar con un análisis de esa realidad tejida en torno al binomio riqueza / pobreza, Norte / Sur, y que demostrará que esa situación no es fruto de la casualidad ni de la voluntad de los dioses, sino del egoísmo y codicia de los hombres, del dominio que los más fuertes establecen sobre los más débiles y necesitados.

Este análisis es necesario para descubrir las causas reales de la opresión y a sus sujetos responsables y evitar el idealismo. El marxismo, no como filosofía o visión global de la realidad, sino como ciencia, puede ayudar mucho al conocimiento de esas causas y las funestas consecuencias derivadas. Vale en cuanto su análisis se muestre verídico en señalar la génesis y efectos del capitalismo. Nunca los teólogos de la liberación asumieron el marxismo como visión filosófica de la realidad ni lo utilizaron acríticamente.

Precisamente porque la TdL apunta al cambio de lo que es opresión e injusticia, ha sido calumniosamente atacada. Esta teología reclama para la Iglesia entera, el lugar propio que le asigna su fe desde el seguimiento de Jesús: ser pobre, vivir con los pobres y comprometerse por su liberación.

Esta recolocación de la Iglesia es peligrosa para los opresores y para una Iglesia-Poder, acostumbrada a vivir en alianza con los poderosos. Nada se da en esta teología que no traduzca con fidelidad el mensaje radical de Jesús y su Evangelio. Pero, los “cuestionados” por la TdL y su dominio y “medios gigantescos” se encargaron de airear que la TdL era heterodoxa por su marxistización, su apartamiento del magisterio eclesiástico, su fomento de la guerrilla, su concepto meramente temporal de la salvación, por reducción del Jesús histórico a un líder terreno….

Posteriormente, no pocos venían asociando la suerte del la TdL al socialismo real. La caída de éste les hizo creer que caía paralelamente la TdL. Doble engaño: porque el socialismo no se identificaba con el socialismo de Estado y la TdL no era subordinada suya, sino que tenía origen y base propia en el Evangelio. Como muy bien ha dicho el obispo Pedro Casaldáliga: “La TdL no tiene como padrino a Marx sino al Dios, Padre de nuestro Señor Jesucristo”.

La caída del socialismo real no canonizaba la maldad intrínseca del capitalismo, sino que incitaba más bien a profundizar en las causas de sus opresión, hoy globalizada. Como siempre, las estructuras económicas cuentan en la marcha de la sociedad, y sin ellas no se puede entender el funcionamiento del sistema neoliberal. Pero, no son determinantes ni ahogan la influencia de otros factores de la sociedad; el primero de todos: el protagonismo de los ciudadanos. La conciencia actual puede revertir la visión eurocéntrica dominadora que, desde hace más de 400 años, gobierna al planeta Tierra. El hombre no es, frente a la tierra, dueño y depredador, ni puede seguir explotándola ilimitada e insolidariamente.

Hoy, la TdL actúa en los frentes más necesitados de liberación: mujer / varón, religiones enfrentadas, indígenas acosados, pueblos secularmente sometidos,…

El nuevo paradigma de la TdL va más allá de todas las subordinaciones del mundo moderno, plasmadas en la sociedad y sistema capitalistas. La sociedad actual con el protagonismo de los ciudadanos –tal como aparece en el movimiento M 15 de los indignados- está marcando un nuevo giro frente a la relación de dominio, por siglos establecida.

Es un hecho que la TdL no parece proveer, como en años anteriores, de pensadores eminentes. Seguramente porque su savia viva y transformadora ha circulado por abajo, más horizontalmente, permeando e impulsando directamente el pensamiento y la acción de “los sin voz”.

 

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