29 de agosto, dia nacional de visibilidade lésbica

Via Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – Nacional

O dia nacional da visibilidade lésbica foi estabelecida por ativistas brasileiras em referência e celebração do Primeiro Seminário Nacional de Lésbicas, ocorrido no Rio de Janeiro em 1996. 
Sabemos que a luta contra todas as formas de dominação precisa ser cotidiana, mas compreendemos a relevância de uma data que tornou-se um marco de luta e resistência das mulheres lésbicas brasileiras, sendo uma maneira importante e necessária de intensificar e dar visibilidade ao debate em torno da vida das mulheres lésbicas e suas pautas especificas.
As mulheres lésbicas vivem um acumulo de opressões e violências, são apagadas, violentadas e negligenciadas em todos os aspectos de suas vidas. Primeiro por serem mulheres e segundo por serem lésbicas. Contudo, as mulheres lésbicas negras e trabalhadoras sentem de forma ainda mais aviltante a exploração, o preconceito, a discriminação e toda a intolerância.
Enquanto lésbica existe o grande desafio em expressar publicamente a sexualidade visto que, ainda hoje, a moral sexual vigente impõe como norma uma idéia de amor e famílias burgueses. A mesma desconsidera a diversidade entendendo e reconhecendo como família apenas o núcleo social formado a partir da união entre homem mulher e seus descendentes. O fato é evidenciado na proposta inconstitucional de estatuto da família, apresentada por um parlamentar evangélico, mesmo com dados do IBGE de 2010 apontando que 25% das famílias brasileiras não se enquadram nesse modelo tradicional. Projetos como esse reproduzem muito do senso comum que ainda prevalece em nossa sociedade e comprometem os avanços alcançados com muita luta e resistência, como o reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal (2011) da união estável entre casais do mesmo sexo , com os mesmos direitos das famílias tradicionais,e da legalidade garantida pelo Conselho Nacional de Justiça em 2013.mesmo sexo, com os mesmos direitos de famílias tradicionais
Essa mesma moral sexual também coloca o prazer da mulher como algo desnecessário e muitas vezes condenável e pecaminoso como ainda é prevalente em diversas religiões. Isso se torna ainda mais dramático quando falamos da sexualidade das mulheres lésbicas, já que a moral dominante é patriarcal, falocêntrica, machista e extremamente violenta, colocando que o prazer sexual só é possível na relação com parceiros homens. Os casos de estupro corretivo, prática corriqueira em diversos países com expressão também no Brasil, na qual existe uma legitimação do estupro feminino, justificado como forma de “correção” (ISSO MESMO!) de mulheres lésbicas, que escolheriam a relação com outras mulheres por não conhecerem sexualmente um homem. De acordo com a Liga Brasileira de Lésbicas, estima-se que cerca de 6% das vitimas que procuraram o disque 100 do governo federal eram mulheres lésbicas que denunciaram um numero considerável de estupros corretivos.
A divisão sexual do trabalho e os papeis de gênero impostos, que estabelecem quais são os comportamentos masculinos e femininos esperados e aceitáveis nos leva a mais um questão a ser analisada e que não é muito discutida embora seja de extrema relevância: a violência entre os casais de mulheres. Infelizmente o machismo, como prática social dominante, não é reproduzido simplesmente pelos homens, mas também pelas mulheres, que são frutos do seu tempo. Dessa forma, a violência doméstica, também ocorre entre esses casais, onde existe um papel ‘masculino dominador’ incorporado por uma das parceiras e, cabendo a outra o papel de dominada, culminando assim em casos de abuso e violência.
Nesse contexto seguimos sendo constantemente invisibilizadas nessa sociedade capitalista que se utiliza dos papeis sociais impostos para nos explorar e oprimir cada vez mais. Nos oferecem o conto da suposta representativade para resolver nossos problemas, e nós frizamos: QUEM EXPLORA NÂO REPRESENTA! Precisamos superar essa ideia de que a simples ocupação dos espaços de poder irá nos libertar. Precisamos de uma emancipação coletiva. Enquanto outra mulher sofrer com as amarras dessa sociedade nós precisamos lutar!
“… diferenças e especificidades devem ser percebidas. No entanto, dentro desta sociedade, não podem ser vistas isoladas de suas macrodeterminações, pois, por mais que o gênero una as mulheres, a homossexualidade una gays e lésbicas, a geração una as(os) idosas(os) ou jovens etc., a classe irá dividi-las(os) dentro da ordem do capital.” (CISNE, Mirla. 2012)
Nós do Coletivo Ana Montenegro seguimos na luta contra todas as formas de dominação e violência.
Contra a retirada de direitos e a violência sob nossos corpos!
Pelo direito a vida de todas as mulheres!
Pelo direito de todas as formas de amar e viver!


Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, 29 de agosto de 2017

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