Pelo menos quatro ativistas da defesa do ambiente têm sido mortos a cada semana desde que foram assinados os acordos de Paris contra as alterações climáticas em 2015. A Organização Não-Governamental Global Witness(link is external) tem compilado todos os anos os números de defensores do ambiente assassinados.
O grupo avisa, contudo, que estes dados pecam por defeito, uma vez que vários dos crimes não são documentados. E, para além disso não se consegue contar os “inúmeros outros” que “são silenciados por ataques violentos, detenções, ameaças de morte ou processos judiciais”.
Segundo o relatório(link is external) agora tornado público, em 2019, o número de ambientalistas assassinados foi de 212, um aumento de quase 30% face às 164 mortes de 2018. O número mais alto nos últimos tempos, que tinha ocorrido em 2017, ano em que tinham sido assassinadas 201 pessoas, foi assim superado. A Global Witness alerta que muitos destes crimes não foram punidos.
O relatório indica que a indústria mineira foi a que esteve ligada a mais crimes deste tipo em 2019: 50 assassinatos. Seguida pelos interesses da agro-indústria, do setor madeireiro e dos grupos criminosos. A exploração madeireira foi quem mais aumentou o número de mortes: foram mais 85% de casos.
Rachel Cox, assessora de campanha da Global Witness, é clara ao apontar o dedo: “o agronegócio, a mineração, o setor de petróleo e gás têm sido consistentemente os maiores impulsionadores dos ataques contra defensores e defensoras da terra e do meio ambiente. Estas indústrias, ao mesmo tempo, propiciam as mudanças climáticas, através do desmatamento e do aumento das emissões de carbono.”
Do lado das vítimas, são as comunidades indígenas que pagam um preço mais elevado: 40% das pessoas mortas por este tipo de violência. Colômbia e Filipinas são os países onde é mais perigoso defender o ambiente contabilizado em conjunto metade das vítimas.
No primeiro destes países, houve 64 mortes. Grupos criminosos e paramilitares ligados à venda de drogas, ocuparam áreas antes governadas pela guerrilha das FARC, depois dos acordos de 2016. Só em 2019, por exemplo, houve aí 14 mortes ligadas ao programa de substituição de colheitas que atribui benefícios a quem deixe de cultivar coca e passe a cultivas cacau ou café.
Nas Filipinas, houve 43 mortes em 2019. A vítima mais famosa foi o líder comunitário, Datu Kaylo Bontolan, vítima de um bombardeamento militar no norte de Mindanao. O governo de Duterte quer transformar áreas imensas em plantações de agro-indústria. Bontolan defendia o direito a proteger as terras ancestrais do seu povo.
A Europa não fica de fora deste mapa. Na Roménia, os assassinatos de guardas florestais que defendiam a floresta de madeireiros ilegais, como o caso de Liviu Pop, são os casos destacados.
Em 2019, mais de um em cada 10 ambientalistas mortos em 2019 foram mulheres e a Global Witness não esquece que “as mulheres defensoras enfrentam ameaças específicas, incluindo campanhas de difamação frequentemente focadas em suas vidas particulares, com conteúdo sexista ou sexual explícito”, assinalando ainda que “a violência sexual também é usada como tática para silenciar as defensoras, e infelizmente, essa tática normalmente não é denunciada”.
E não se espera que a situação vá ser melhor este ano. Segundo a ONG, os confinamentos devido à covid-19 deixaram muitos dos ativistas que defendem o ambiente e comunidades que têm desenvolvido lutas pela defesa da sua terra desprotegidos. Havendo provas crescentes de um aumento de homicídios oportunistas por isso. Em março passado, por exemplo, dois líderes indígenas, Omar e Ernesto Guasiruma foram mortos quando estavam isolados em casa.