Por Railídia Carvalho.
O protesto dos trabalhadores faz parte da Jornada Nacional em Defesa da Democracia e de denúncia das condições que podem levar o país novamente ao mapa mundial da fome. Até o momento, integrantes da greve conseguiram se reunir com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmem Lúcia, e com o ministro Ricardo Lewandovski.
Do encontro com Carmem, participaram junto com os grevistas, o artista Osmar Prado e o premio Nobel da Paz, Adolfo Perez Esquivél. “Não tivemos a intenção de constranger a ministra, mas precisávamos deixar claro nosso entendimento de que é preciso que o Judiciário reconheça Lula como preso político e que as eleições de 2018 estarão ameaçadas caso ele não possa ser candidato, já que está na frente em todas as pesquisas”, afirmou Esquivel ao final do encontro com a ministra.
Sensibilizar o STF
Segundo os manifestantes, a greve só será interrompida quando Carmen Lúcia colocar em pauta a votação das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs), entre elas ações propostas pelo PCdoB e também pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
As ADCs questionam a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, posição assumida pela maioria do Supremo em 2016. Os grevistas se baseiam na Constituição Federal, que em seu artigo 5º estabelece que até o trânsito em julgado deve ser observado o princípio da presunção da inocência. Ou seja, só poderá haver prisão quando não se pode mais recorrer.
Ao lado do presidente Lula, que cumpre prisão mesmo se os recursos terem sido esgotados, se encontram mais 200 pessoas. O julgamento das ADCs pode rever essa interpretação do Supremo.
Sacrifício
“Sacrifício para chamar a atenção da sociedade e sensibilizar o STF para que vote as ADCs”, posicinou-se em nota a Frente Brasil Popular, que reúne inúmeras entidades dos movimentos social e sindical. A Frente divulgou comunicado em que orienta os movimentos a pressionarem a presidente do Supremo a pautar as ADCs.
“Ninguém de nós é suicida e quer morrer. O fim dessa greve de fome caberá aos ministros do STF. Se alguma coisa grave acontecer tem culpados e responsáveis”, declarou ao Brasil de Fato Frei o frei franciscano Sérgio Antonio Gorgën, um dos grevistas.
Rafaela Alves (Movimento dos Pequenos Agricultores), Luiz Gonzaga, o Gegê (da Central dos Movimentos Populares), Jaime Amorim, Zonália Santos e Vilmar Pacífico (os três do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e Leonardo Soares (do Levante Popular da Juventude) completam o grupo dos grevistas. Os manifestantes estão abrigados no Centro Cultural de Brasília (CCB).
Resistência é custo na saúde dos manifestantes
É visível a debilidade dos trabalhadores, que no final de semana foram acomodados em camas hospitalares e cadeiras de rodas. Alguns perderam 10 kg e todos tem enfrentado problemas como alteração na glicemia e queda na pressão arterial e corporal.
“Os sete grevistas estão cada vez mais debilitados, vulneráveis a qualquer tipo de infecção viral ou bacteriana, pois a imunidade em todos eles está bastante baixa”, explica a médica de Família e Comunidade, Maria da Paz Feitosa Sousa.
Solidariedade
Crescem as mensagens, visitas de solidariedade aos manifestantes e apoio espiritual, este último através de atos interreligiosos reunindo religiosos católicos e presbiterianos.
No sábado, houve manifestação oficial da Cáritas Brasil, que tem atuação na área dos direitos humanos: “É testemunho da nossa fé cristã, estarmos juntos e apoiando esse gesto profético e corajoso dos irmãos e irmãs em greve de fome, que denunciam de forma contundente a situação de injustiça institucionalizada que vive o povo brasileiro”.
A nota da Cáritas acrescentou ainda que “Junto com os grevistas, também queremos lutar contra a volta da fome no país, o aumento do custo de vida, a perda de direitos em saúde e educação, o aumento da violência, a perda da soberania nacional”.
Mídia quer invisibilizar luta popular
Bia Barbosa, coordenadora do Intervozes, que atua na luta pela democratização da comunicação, visitou no sábado (18) os ativistas. Ela criticou o silêncio da mídia tradicional sobre a greve de fome e as reivindicações dos manifestantes. De acordo com ela, a estratégia da mídia, mesmo diante do estado de saúde frágil do grupo, é de invisibilizar a luta popular.
Nota divulgada pela Confederação Nacional dos Movimentos Comunitários (Conam) se solidarizou com os sete ativistas e conclamou o “movimento comunitário, entidades filiadas e militantes que se somem nas mobilizações e ações em solidariedade aos grevistas, em defesa do Estado Democrático de Direito e da Constituição de 1988”.
A Confederação Nacional dos Sindicatos de Agricultores e Agricultoras da Agricultura Familiar (Contag) também se solidarizou com os grevistas. 110 alunos da 7ª turma da Escola Nacional de Formação da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Agricultura (Contag) visitaram os manifestantes.