Canta, poeta, a liberdade, ? canta.
Que fora o mundo sem fanal tão grato…
Anjo baixado da celeste altura,
Que espanca as trevas deste mundo ingrato.
Oh! sim, poeta, liberdade, e glória
Toma por timbre, e viverás na história.
Eu não te ordeno, te peço…
(Maria Firmina dos Reis)
Poesia é a vida. O poema é a poesia expressa, escrita, dita, lida, sentida…
Nenhuma rima está obrigada à poesia. Nem vice-versa. Poesia é, principalmente, liberdade.
Todas as pessoas podem ser poetas, se quiserem. Sobretudo, aquelas que querem e se afirmam assim. Ser poeta (ou não) é questão de autodeterminação. Dito de fora também serve, de alguém, pra gente; mas de dentro é bom, também.
A música é boa amiga da poesia. Mas, de tão extasiante, a música pode ofuscar e deixar a poesia em segundo plano. Experimente, por exemplo, declamar, recitar, ler em voz alta, as canções de que você mais gosta. Se revelará a essência poética, no conteúdo, mais que na forma (que também importa, mas não é, jamais, decisiva).
O único requisito para escrever-se um poema é a sensibilidade. Mais nada. Há pessoas, como eu, que somente usam essa tríplice aliança: papel, lápis e coração. Não necessariamente nessa ordem.
Ler poemas é a melhor maneira de escrever um poema. Tanto quanto ler, é o melhor para escrever.
Uma receita de bolo pode ser poética. Mas não há receita de como se escreve um poema gostoso.
O melhor poema ainda não foi escrito. E o melhor de tudo é que isso não é um mero clichê.
Os melhores poetas são as pessoas loucas. Independentemente do que signifique ser uma pessoa louca. Porém, essa histórica constatação não nasceu por acaso.
O acaso, de fato, não existe. O que existe, sem dúvida, é a poesia. Uma poeta, por acaso, me confessou que são a mesma coisa: o acaso e a poesia.
Com estado de consciência alterado (de um bom vinho, socialmente mais aceitável, a outras drogas hipocritamente proibidas), pode-se escrever melhor um poema. Mas não é condição absoluta, nem essencial. Embora, sim, que ajuda! Não o dizem os melhores poetas, nem mesmo os mais livres, por mero estigma social e por medo (sim, os poetas também temos) da falsa moral ocidental.
Muitas poetas mulheres não gostam de ser chamadas de poetisas. Preferem ser chamadas de poetas, que não é definição exclusiva para homens. É invariável de gênero. Felizmente.
Poeta não é adjetivo. É substantivo. Pense nisso. Ou melhor: sinta isso.
Poesia não se pensa, não se entende, não se compreende. Se sente. E ponto. Pronto.
Poesia concreta não é contrassenso. É paradoxo. Pois poesia é algo que lembra mais abstração. A poesia concreta pode ser, portanto, concretude da abstração.
Afortunadamente, boas pessoas escritoras (de todos os tipos) são influenciadas o tempo todo pela poesia. Misturam, o tempo todo, prosa e verso. Eu, por exemplo, nunca mais consegui escrever nenhuma carta, ensaio ou lista de compras desinfluenciado pela poesia. Fico o tempo, mesmo sem estar obsessionado, rimar (com rima rica ou com rima fácil), o final das frases e dos parágrafos. E ainda bem que a rima jamais será obrigada. De nada.
Criar palavras, do nada (porque nunca são ´do nada´) é algo bastante recomendável para a poesia.
As pessoas poetas gostavam de universalizar aquilo que lhes é particular. Por isso eu digo que as poetas são mais de letras do que de números. E nem é que eu adore escrever listas numéricas, como esta: é que eu li na Internet que facilitam meu sutil objetivo de persuasão.
Cabral, Neruda, Dylan, Espriu… Ao fazer minha lista de preferidos, as mulheres desaparecem. Não havia poetas, elas? O nome disso é Patriarcado. Não as deixemos apagadas. Hilst, Coralina, Florbela, Rosalía, Lila Ripoll…
Dai Sombra Aisha, Beatriz Nascimento, Cristiane Sobral, Ryane Leão, Nina Rizzi, Lubi Prates, Conceição Evaristo… O que as diferença das acima mencionadas? O Racismo. Nada é por acaso. E o dia 21 de Março, além do dia da poesia, coincide com o Dia Mundial contra a Discriminação Racial.
Política é vida. O que tem a ver com isso? Se a Poesia também é vida. Então não existe Poesia Política. É um pleonasmo. Toda poesia é política, pois toda poesia fala da vida. Ou da ausência disso. Tenho dito.
Aquele abraço.
Flavio.
@1flaviocarvalho, @amaconaima, Barcelona, 21/3/2005.
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