Por Mário Magalhães*
Nas horas quentes do princípio de abril de 1964. Revistas e Jornais, mais do que informação, constituíam propaganda, notadamente a favor da deposição do presidente constitucional João Goulart.
Dos 19 periódicos aqui reunidos, oriundos de cinco Estados, 17 são jornais diários, alguns dos quais já não circulam, e dois são revistas hoje extintas.
As fontes da garimpagem foram: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional; Google News Newspaper Archive; sites e versões impressas de jornais; não menos importantes, blogs e sites, aos quais sou imensamente grato.
Apenas três se pronunciaram em defesa da Constituição: ”Última Hora”, ”A Noite” e ”Diário Carioca”. Nos idos de 1964, os dois últimos não tinham muitos leitores.
A Noite (Rio), 1º de abril de 1964: ”Povo e governo superam a sublevação”.
Contrário ao golpe, jornal aposta no triunfo de Jango.
Diário Carioca, 1º de abril de 1964: ”Guarnições do I Exército marcham para sufocar rebelião em Minas Gerais”. O jornal defendeu a Constituição.
Última Hora, 2 de abril de 1964: ”Jango no Rio Grande e Mazzilli empossado”. Jogando a toalha: ”Jango dispensa o sacrifício dos gaúchos”.
Os outros 16, em diferentes tons, desfraldaram a bandeira golpista.
É muito provável que, quanto mais capas se somarem, maior seja a proporção das publicações que saudaram o movimento que pariu a ditadura de 21 anos. Para não ser original e repetir uma expressão consagrada: em 1964, a imprensa disse sim ao golpe.
Correio da Manhã (Rio), 1º de abril de 1964: ”(?) Estados já em rebelião contra JG”.
Editorial clama pela deposição de João Goulart: ”Fora!”
Diário da Noite (São Paulo), 2 de abril de 1964: ”Ranieri Mazzilli é o presidente”. O jornal dos Diários Associados trata a nova ordem como ”legalidade”.
Diário de Notícias (Rio), 2 de abril de 1964: ”Marinha caça Goulart”. ”Ibrahim Sued informa: É o fim do comunismo no Brasil.”.
Diário da Região (São José do Rio Preto, SP), 2 de abril de 1964: ”Exército domina a situação e conclama o povo brasileiro a manter-se em calma”. Depois do golpe com armas, o apelo por calma.
Diário de Pernambuco, 2 de abril de 1964: ”Jango sai de Brasília rumo a Porto Alegre ou exterior: posse de Mazilli”. Governador constitucional Miguel Arraes, vestido de branco no Fusca, é preso e cassado.
Diário de Piracicaba (SP), 2 de abril de 1964: ”Cessadas as operações militares: A calma volta a reinar no país”. No dia seguinte: ”Relação de deputados que poderão ser enquadrados: Comunistas ou ligações com o comunismo”.
Diário do Paraná, 2 de abril de 1964: ”Auro Andrade anuncia posse de Mazzilli com situação normalizada”. No alto: ”Povo festejou na Guanabara vitória das forças democráticas”.
Fatos & Fotos, abril de 1964 (data não identificada): ”A grande rebelião”. Uma revista em júbilo.
Folha de S. Paulo, 2 de abril de 1964: ”Congresso declara Presidência vaga: Mazzilli assume”. ”Papel picado comemorou a ‘renúncia’ de João Goulart.”.
Jornal do Brasil (Rio), 1º de abril de 1964: ”S. Paulo adere a Minas e anuncia marcha ao Rio contra Goulart”. ”’Gorilas’ [pró-Jango] invadem o JB.”.
O Cruzeiro, 10 de abril de 1964: ”Edição histórica da Revolução”. Revista celebra um herói da ”Revolução”, o governador de Minas, Magalhães Pinto, um dos artífices do golpe.
O Dia, 3 de abril de 1964: ”Fabulosa demonstração de repulsa ao comunismo”. Jango chegou ao Rio Grande do Sul no dia 2. De lá, iria para o Uruguai. ”O Dia”: ”Jango asilado no Paraguai!”.
O Estado de S. Paulo, 2 de abril de 1964: ”Vitorioso o movimento democrático”. É a contracapa, porque a primeira página, era o padrão, só tinha notícias do exterior.
O Globo (Rio), 2 de abril de 1964: ”Empossado Mazzilli na Presidência”. Título do editorial: ”Ressurge a democracia!”.
O Povo (Fortaleza), sem data: ”II e IV Exércitos apoiam movimento mineiro”. Quartel-general do IV Exército, no Recife, comandava a Força no Nordeste.
Tribuna do Paraná, 2 de abril de 1964: ”Rebelião em Minas”. ”General Mourão Filho abre a revolta: ‘Jango tem planos ditatoriais’.
*Artigo publicado na semana dos 50 anos do golpe de Estado no blog do Mário Magalhães. 31 de março de 2014.
Fonte: Blog do Mário Magalhães