Por Ernesto Carmona.
Mapocho Press – tradução do Diário Liberdade.- Um estudo da Universidade de Zurich revelou que um pequeno grupo de 147 grandes corporações trasnacionais, principalmente financeiras e mineiro-extrativas, na prática controlam a economia global.
O estudo foi o primeiro a analisar 43.060 corporações transnacionais e desentranhar a teia de aranha da propriedade entre elas, conseguindo identificar 147 companhias que formam uma “súper entidade” que controla 40% da riqueza da economia global.
O pequeno grupo está estreitamente interligado através das juntas diretivas corporativas e constitui uma rede de poder que poderia ser vulnerável ao colapso e propensa ao “risco sistémico”, segundo diversas opiniões. O Projeto Censurado da Universidade Sonoma State de Califórnia desclassificou esta notícia sepultada pelos meios e seu ex diretor Peter Phillips, professor de sociologia nessa universidade, ex diretor do Projeto Censurado e atual presidente da Fundação Media Freedom /Project Censored, referiu-a em seu trabalho “The Global 1%: Exposing the Transnational Ruling Class” (1%: Exposição da Classe Dominante Transnacional), assinado com Kimberly Soeiro e publicado em ProjectCensored.org.
Os autores do estudo são Stefania Vitali, James B. Glattfelder e Stefano Battiston, pesquisadores da Universidade de Zurich (Suíça), os quais publicaram seu trabalho a 26 de outubro 2011, sob o título “A Rede de Controle Corporativo Global” (The Network of Global Corporate Control) na revista científica PlosOne.org.
Na apresentação do estudo publicado em PlosOne, os autores escreveram: “A estrutura da rede de controle das empresas transnacionais afeta a concorrência do mercado mundial e a estabilidade financeira. Até agora, foram estudadas só pequenas mostras nacionais e não existia uma metodologia adequada para avaliar o controle a nível mundial. Apresenta-se a primeira pesquisa da arquitetura da rede de propriedade internacional, junto ao cálculo da função mantida por cada jogador global”.
“Encontramos que as corporações transnacionais formam uma gigantesca estrutura como gravata de laço e que uma grande parte dos fluxos de controle conduzem para um pequeno núcleo muito unido de instituições financeiras. Este núcleo pode ser visto como um bem econômico, uma “súper-entidade” que propõe novas questões importantes, tanto para os pesquisadores como para os responsáveis políticos”.
O diário conservador britânico Daily Mail foi talvez o único do mundo que recolheu esta notícia, a 20 de outubro 2011, apresentada por Rob Waugh com o chamativo titular “Existe uma “súper-corporação que dirige a economia global”. O Estudo clama que poderia ser terrivelmente instável. A pesquisa concluiu que 147 empresas criaram uma “súper entidade” dentro do grupo, controlando 40% da riqueza”.
Waugh explica que o estudo da Universidade de Zurich “prova” que um pequeno grupo de companhias -principalmente bancos- exerce um poder enorme sobre a economia global. O trabalho foi o primeiro a examinar um total de 43.060 corporações transnacionais, a teia de aranha da propriedade entre elas e estabeleceu um “mapa” de 1.318 empresas como coração da economia global.
“O estudo encontrou que 147 empresas desenvolveram em seu interior uma “súper entidade”, controladora de 40% de sua riqueza. Todos possuem parte ou a totalidade de um e outro. A maioria são bancos -os 20 top, incluídos Barclays e Goldman Sachs-. Mas o estreito relacionamento significa que a rede poderia ser vulnerável ao colapso”, escreveu Waugh.
O tamanho dos círculos representa os rendimentos. Os círculos vermelhos são “corporações súper-conectadas” enquanto os amarelos são “corporações muito conectadas”. As 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia globalizada mostram suas conexões de propriedade parcial entre uns e outros, e o tamanho dos círculos corresponde aos rendimentos. Através das empresas seus proprietários controlam a maior parte da economia “real” (Ilustração dos autores, PlosOne, 26/10/2012).
“Efetivamente, menos de 1% das empresas foi capaz de controlar 40% de toda a rede”, disse ao Daily Mail James Glattfelder, teórico de sistemas complexos do Instituto Federal Suíço de Zurich, um dos três autores da investigação.
Alguns dos supostos que subjazem no estudo foram criticados, como a ideia de que propriedade equivale a controle. “No entanto, os pesquisadores suíços não têm nenhum interesse pessoal: limitaram-se a aplicar à economia mundial modelos matemáticos utilizados habitualmente para modelar sistemas naturais, usando Orbis 2007, um banco de dados que contém 37 milhões as companhias e investidores”, informou Waugh.
Economistas como John Driffil, da Universidade de Londres, especialista em macroeconomia, disse à revista New Scientist que o valor do estudo não radicava em ver quem controla a economia global, mas em mostrar as estreitas conexões entre as corporações maiores do mundo. O colapso financeiro de 2008 mostrou que este tipo de redes estreitamente unidas pode ser instável. “Se uma empresa sofre angústia, esta se propaga”, disse Glattfelder.
Para Rob Waugh e o Daily Mail há um “senão”: “Parece pouco provável que as 147 corporações no coração da economia mundial pudessem exercer um poder político real, pois representam demasiados interesses”, assegurou o diário conservador britânico.
A riqueza global do mundo estima-se que se aproxima dos 200 biliões de dólares, ou seja, duas centenas de milhões de milhões. Segundo Peter Phillips e Kimberly Soeiro, 1% mais rico da população do planeta agrupa, aproximadamente, 40 milhões de adultos. Estas pessoas constituem o segmento mais rico da população dos países mais desenvolvidos e, intermitentemente, em outras regiões.
Segundo o livro de David Rothkopf “Súper-classe: a Elite de Poder Mundial e o Mundo que está Criando”, a súper elite abarcaria aproximadamente 0,0001% (1 milionésima parte) da população do mundo e compreenderia umas 6.000 a 7.000 pessoas, embora outros assinalem 6.660. Entre esse grupo, teria que procurar-se os donos das 147 corporações que refere o estudo dos pesquisadores de Zurich.
Ernesto Carmona é jornalista e escritor chileno.