Por Márcio Papa, para Desacato.info.
Jornadas Bolivarianas, na UFSC, é um dos últimos bastiões do pensamento crítico, apoiado na discussão teórica das doutrinas políticas. Um olhar Latino-Americano de lupa, na integração social, intelectual, comercial e econômica do continente. Tendo em mente, como objetivo “central”, a replicação nesse século, do inigualável feito que Simón Bolívar perpetrou, ao derrotar as forças espanholas -em seis países- e da independência de seus territórios, dentro do vasto império, à força erigido.
A coincidência de como os “yankees” mantém seu domínio sobre os povos latinos (a onde não os obteve comprando) com a presença colonialista espanhola, não é puro acaso. São os substitutos dos opressores ibéricos originais. A terrível “presença do norte”, contamina a identidade destes países, desde sempre. Coopta seus intelectuais, e transfere-nos sua visão eurocêntrica , a responsabilidade pelo nosso complexo de inferioridade e baixa-nos auto-estima com crises pré-ordenadas. Dissociando-nos a fim de que percamos para sempre, nossa unidade como povos livres da América.
O primeiro dia da 12ª edição das Jornadas Bolivarianas na UFSC nos lembra mais uma vez, a dissonante realidade mascarada de “ Teoria do desenvolvimento”, surgida na década de sessenta. A as idéias contidas nessa teoria, foram implantadas cem anos após a revolução Industrial na Europa, saída de duas guerras, e em busca do que viria a ser o surgimento das indústrias multinacionais .
Aproveitando-se bem desse mercado, o sistema político econômico capitalista desde então, está no horizonte de atraso latino- americano, que até a década de 30, produzia apenas bens de consumo, e ainda importava-se quase tudo. O estimulação de dua dependência econômica, segue até hoje, nas usuais exportações de matéria prima e produtos agrícolas e da pecuária em vertiginosa expansão.
O baixo padrão de crescimento econômico e social, na América Latina é imposto, através da super exploração da mão de obra. Apropriando-se do curso de milhões de vidas, e da manipulação dos bancos financiadores dos Estados Latinos, através de mecanismos de biopolítica (Foucault) e biopoder de intuito nefasto da indireta escravização dos mesmos .
Professor no Depto de Economia e Relações Internacionais da UFSC, Nildo Domingos Ouriques, Doutorado em Economia pela Universidade autônoma do México UNAM, é também Presidente do IELA –Instituto de Estudos Latino Americanos- realizador das Jornadas bolivarianas, sucessor do OLA, – Observatório Latino Americano- cedeu entrevista ao Portal DESSACATO:
Márcio Papa/DESACATO:
-O imperialismo protagonizado na atualidade pelos Estados Unidos, estende através da Nova Ordem Mundial, um conservadorismo que gera dependência da América Latina do capital estrangeiro?
Prof. Nildo Ouriques, Pres. IELA/UFSC:
“ – O imperialismo sempre existiu para Nós. Mas perdeu em Cuba, em 1959; – Foi derrotado na Nicarágua, em 1979; – Novamente vencido na Venezuela, com a emergência da revolução Democrática Bolivariana. Ou seja, o imperialismo não vence todas. Esta é a questão fundamental.”
Márcio Papa/DESACATO:
O capital estrangeiro influindo na política interna, e nas relações comerciais dos países Latino americanos, tem um papel paralelo nas crises econômicas vividas por esses Países, qual o papel dos movimentos sociais nesse cenário?
Prof. Nildo Ouriques, Pres. IELA/UFSC:
“ – As empresas e o Estados estão sob controle capitalista, mas “eles” não podem tudo… pois a dinâmica da crise mundial, corroem as bases da resistência a ele próprio, mas também as bases objetivas, pelas quais, os Estados e as empresas dominam a América Latina…”
“ – Do Lado dos movimentos sociais, a tarefa é elementar. Primeiro é preciso recuperar uma visão crítica, perdida. Em segundo, é preciso renovar-se a “práxis” política… – Os movimentos sociais. Por si, sós, não fazem revoluções. Eles devem procurar cada vez mais, uma perspectiva revolucionária, sem a qual, serão confinados. A luta dos negros, a luta do campo, a luta dos trabalhadores nas cidades, a luta das mulheres… essas lutas sozinhas, nada conseguem. São meritórias, inexoráveis e são importantes, mas não movem “o moinho. “
Márcio Papa/DESACATO:
Qual perspectivas para o desenvolvimento autônomo dos países Latino Americanos, a 12ª Jornadas Bolivarianas, podem enxergar em três dias de conferências e debates?
Prof. Nildo Ouriques, Pres. IELA/UFSC:
“- Estamos buscando saídas. Temos clareza que a Universidade contribui de maneira coadjuvante, e que não é ela que irá “parir” as alternativas. E sim são as classes sociais, os trabalhadores, os camponeses, e a constituição de “um sujeito” político que vá, inclusive, devolver alguma vitalidade à Universidade, como sendo esta a verdadeira função das Jornadas Bolivarianas…A universidades Brasileiras, são pouquíssimo críticas, históricamente à favor da ordem ideológica, econômica, política e legal …”.
John Mário Muôz Lopera, Presidente do Centro de Estudos Latino-americanos e do Caribe, da Universidade de Antiquóia, Medellin, na Colômbia, um dos palestrantes covidados fez comentário, ao Portal DESACATO, sobre os rumos da crise na América Latina:
“- A crise não é nova. É um ciclo da economia. Marcada por altos e baixos. E agora esta crise nos põem uma quantidade de perguntas, a cerca de como possamos sair dela encontrando caminhos alternativos, frente ao avanço capitalista neo-liberal. Sou voltado à idéia de que já tenha se despertado a consciência que há uma gama de direitos sociais e culturais que tem sido abordados,
por latinos que tem sido gerados pela população em defesa deles próprios, e que se tem de reinventar propostas latino americanas, e querer mecanismos de articulação dos processos Latino americanos. Tudo, dentro de um ponto de vista, não somente de Países, mas de movimentos que não estão submissos que não tem sido desmontados (cooptados) ou controlados pelas instituições progressistas… (social democracia).
A jornalista Elaine Tavares, que personifica o IELA, durante sua jornada pessoal diária, cedeu rápida entrevista no início dos trabalhos da 12ª Jornadas Bolivarianas, na UFSC:
Márcio Papa/DESACATO:
-Quais traços do imperialismo, são verificados no legislativo, no judiciário e na vida intelectual dos Latino Americanos?
Elaine Tavares – Jornalista/IELA
“- Vimos fazendo por muitas vezes, estas análises. Por exemplo, no caso do Brasil, que aprovou a lei anti terrorismo, que adota um pacote de ajusta fiscal, é um governo que nunca esteve para “as esquerdas”. Esteve sim, sempre vinculado e ajoelhado às elites brasileiras. Mas fazendo, é claro, algumas transformações, do ponto de vista de redução de danos, como poderíamos ver, através do bolsa família, e uma série de outros programas que foram importantes, Não é qualquer coisa, tirar 40 (quarenta) milhões de pessoas da “fome”…em um país onde pessoas morriam de fome. Isso é um elemento importante. Mas é claro, no âmago do governo brasileiro, não tivemos nenhuma transformação estrutural… – Muito pelo contrário, o governo sempre esteve muito aliado aos interesses da direita. Tanto e que leis como estas são aprovadas, e isso foi muito criticado pela esquerda brasileira.”
“- É muito comum, no sistema capitalista, que a gente viva momentos de “ondas” de conservadorismo, e momentos em que se consiga avançar nos movimentos populares…”
“…- Avanços na Venezuela, Equador, no Brasil e Argentina… Enfim, uma “onda” de governos mais progressistas…Agora estamos vendo o pêndulo, que move-se para “cá e para lá”, girar para um momento mais conservador para a América Latina…”
– Engana-se quem articula que , o ambiente acadêmico é simplesmente um perpetuador da burrice e da ignorância, refletindo e “fichando” toneladas de conhecimento impresso dos livros de mestres do saber.
Um leigo em economia, ciência política, sociologia, mas que intua, e procure saber a razão da balança pender para um dos lados, fica sabendo da ilusão, que simples ótica de perspectiva oficial possa trazer .
O olhar para realidade Latino-Americana é feito de frente e por dentro dela mesma . Diferentemente do ângulo e olhares nada confiáveis da “trampa” da CEPAL. que ignora o quotidiano das populações, não se atém às metodologias, e estudos, sobre as doutrinas políticas Bolivarianas, ou a lutas pelo fim da dependência crônica do persuasivo capital estrangeiro, a qual está submetida, desde o pós guerra.