Por Claudia Weinman*
Tem uma frase muito usual em que as pessoas questionam umas às outras: “Você já pensou se tal coisa acontecesse”? Eu pensei, de forma profunda, muitas e muitas vezes.
Escrevi várias páginas de jornal com lágrimas caindo sobre minhas mãos. Manifestei em inúmeros momentos que a redação comercial não era o meu espaço, mas minha necessidade, em um momento histórico marcado pela transição do golpe que destituiu uma presidenta eleita democraticamente no Brasil para um governo de direita e em sequencia, de extrema-direita.
O espaço da redação comercial se fazia dia a dia menor para o que eu precisava dizer. A angústia de ver a classe trabalhadora dividida, sem um canal de informação diferente para receber a informação contra hegemônica me aproximava ainda mais de um grupo amoroso e de enfrentamento comunicacional. Já havia me integrado ao Portal Desacato, com passos pequenos dentro da Cooperativa Comunicacional Sul. Mas isso não bastava, eu ainda estava com as mãos amarradas ao tecido jornalístico da imprensa convencional, que tem seu lado e nunca me pertenceu.
As palavras mercantilizadas nas páginas que eu escrevia se transformaram em esperança quando recebi uma ligação de Raul Fitipaldi cofundador do Portal Desacato me dizendo: “Você está disposta a trabalhar seis horas por dia? Tendo direito à saúde, à vida, utilizando o restante do tempo para tuas coisas pessoais”? A jornalista Caroline Dall’Agnol, de Caxias do Sul junto com a Presidenta Rosangela Bion de Assis compartilharam dessa ligação. Em 25 de agosto de 2017 eu e Julia Saggioratto, que iniciava também sua jornada no Portal já estávamos em Florianópolis para nos reunir na Casa da Outra e celebrar com nossos companheiros e companheiras os 10 anos do Portal Desacato, assistindo ainda a um vídeo belíssimo produzido por Tali Feld Gleiser, a Diretora Geral de Jornalismo dessa rede de comunicação.
Hoje completamos 12 anos de Portal e dois anos de liberdade de uma companheira que está quase chegando aos seus 28 anos de idade. Quando usamos a palavra “revolucionário” significa isso, uma liberação não romantizada que permitiu que essa trabalhadora pudesse estar mais perto, sem resumo ao patrão, da classe a qual pertence. De mostrar os invisíveis e esquecidos dessa sociedade, abrindo espaço para que possam expressar sua voz, suas denúncias, alegrias.
O Portal Desacato chega ao seu décimo segundo aniversário neste 25 de agosto de 2019, comemoração marcada ainda pelo primeiro ano de #JTT Cultura, apresentado por Mayara Santos e editado por James Ratiere. É muita alegria para uma data apenas. Ainda preciso saber muito dessa história, mas se foi coincidência, ousadia, necessidade como dizem nossos companheiros/as, vocês ACERTARAM e acertaram muito. O Juan Luis Berterretche pela sugestão do nome DESACATO e todos e todas os/as co-fundadores/as por dedicarem a vida a um projeto que têm salvado outras vidas nessa América Latina, no Caribe e em várias outras partes do mundo.
E para vocês meus queridos/as companheiros\as, que consideraram que esse seria apenas um sonho de alguns meses, aqui estão, formando a rede de jornalismo solidária, feminista e classista.
*Vice-presidenta da CCS
Imagem de capa: primeira logomarca do Portal Desaato, estreada em 25 de agosto de 2007 e desenhada pelo artista dominicano, José Mercader.
Claudia Weinman com a presidenta da Cooperativa Comuncacional Sul, Rosangela Bion de Assis.