Florianópolis, 13 de setembro de 2015.
Semião Vilhalva, Guarani-Kaiowá, foi morto a tiros no dia 29 de agosto, durante um ataque de fazendeiros à Terra Indígena Ñanderú Marangatú, homologada em 2005, no município de Antônio João, Mato Grosso do Sul. Semião procurava o filho, às margens do córrego Estrelinha, quando foi alvejado no rosto. O ataque envolveu cem indivíduos armados e ocorreu após uma reunião na sede do Sindicato Rural de Antônio João.
“Estou indo agora para as minhas propriedades para retomá-las”, falou a presidente do sindicato dos ruralistas Roseli Maria Ruiz antes do ataque à terra indígena. A reunião dos ruralistas contava com a presença dos deputados federais: Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), Tereza Cristina (PSP-MS) e o senador Waldemir Moka (PMDB-MS); membros do lixo ruralista do Congresso. Com a Guarda Nacional apoiando os crimes dos ruralistas, ao Conselho Indigenista Missionário não restou alternativa a não ser apelar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para acionar ao governo brasileiro a cumprir com as leis internas e tratados internacionais, diante do assassinato de Semião Vilhalva.
As “minhas propriedades” da presidente ruralista de Mato Grosso do Sul foi resultado da expulsão dos povos Guarani-Kaiowá de seus territórios tradicionais no processo de criação das fazendas ruralistas. É importante lembrar que entre as décadas de 1920 e 1980, o governo do Brasil passou a doar ou vender terras indígenas a particulares, permitindo a invasão e a exploração dessas terras. Os fazendeiros iniciaram um processo de escravização dos indígenas no desflorestamento, formação de latifúndios e em usinas de álcool, etc. Em meados dos anos 80, os indígenas foram desalojados, expulsados das suas terras e largados nas beiras das estradas. Em 1990, mais de 10 mil indígenas Guaraní-Kaiowá foram submetidos a trabalho escravo e degradante no corte da cana de açúcar e nas usinas de álcool. No final de 1990, começou o ataque genocida e terrorista às comunidades Guaraní e Kaiowá e seus líderes foram ameaçados e assassinados pelos matadores de aluguel dos fazendeiros.
Estes crimes são os que justificam o “direito de propriedade” dos ruralistas do Mato Grosso do Sul e toda a história da propriedade de terras no Brasil se assemelha sem muitas diferenças ao que acontece no MS.
Texto baseado em informações do Conselho Indigenista Missionário.