Por Fernando Horta.
1) O fascismo e o nazismo são doutrinas que não aceitam as diferenças sociais. Para estas doutrinas, toda diferença gera atrito e em todo atrito há perda de energia social. Assim, a sociedade tem que ser completamente homogênea em termos de classe, raça, costumes, religião e etc.
Para o socialismo, a diferença é o motor da história. É somente numa sociedade plural que se manifesta o atrito e o atrito (a luta) é o que move as sociedades em direção a evolução. As diferenças de classe, no entanto, devem ser suprimidas como condição para o socialismo. Contudo, só estas e apenas estas. Todas as outras manifestações de diversidade devem ser preservadas e incentivadas. E já que as condições econômicas não são ontologias humanas, não há nada de problemático em negar esta diversidade.
2) O fascismo e o nazismo glorificam a violência e, em última instância, a guerra. Tanto Hitler, quanto Mussolini, pensavam em mundo “renascido” após a brutalidade da guerra. Segundo eles, é a guerra (a suprema violência) que faz os “fortes emergirem e os fracos perecerem” e, por isto, conduz as sociedades ao seu “destino” de serem superiores. Tomados em microuniversos, a violência dentro da sociedade realiza o mesmo efeito, de “depurar” os fortes e fortalecer os regimes.
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O socialismo abomina a violência. Marx escreveu diversas vezes que a revolução se dava no ponto máximo da violência social e somente quando esta violência não era mais suportável pelos desfavorecidos. A violência transformadora da revolução seria pontual, como uma explosão e, então desnecessária. Toda violência extra, necessária para “fazer a revolução acontecer” ou para “manter o poder revolucionário” indicaria que não havia condições materiais para a mudança. A violência, se não fosse um chiste de mudança, indicaria SEMPRE um erro. Ou se haviam adiantado os processos históricos ou não se teria ainda atingido as condições de consciência para a mudança.
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3) Por glorificar a violência e abominar a diferença o fascismo e o nazismo trazem como condição lógica de sobrevivência as ditaduras. É o controle do Estado o fim último dos regimes nazi-fascistas. É o Estado que deve coordenar, liderar, aglutinar, coibir, punir e etc.
Por glorificar a diferença e abominar a violência o socialismo traz como condição lógica de sobrevivência uma sociedade politizada em que as divergências sejam resolvidas de forma democrática. A “ditadura do proletariado” seria apenas um período de depuração das reminiscências de classe. Apenas para destruir o sistema econômico capitalista que cria e recriar-se a si mesmo. Este período NÃO É o objetivo do socialismo. No estágio final da mudança socialista, quando o comunismo seria alcançado, o Estado deixaria de existir, pois sua única função, na teoria socialista, seria defender as diferenças de classe. É condição necessária e inafastável a democracia para o socialismo. Democracia, consciência de classe, educação e cultura generalizados.
4) O fascismo e o nazismo vivem em apego ao “tradicional”. O que mantém as diferenças entre os homens, o que foi plasmado no tempo e nas culturas é sempre exaltado como algo que “sempre foi assim” e não deve mudar. Desta forma, há uma tensão entre o novo e o velho no fascismo. O novo só é aceito se reverencia, fortalece e se submete ao velho. Isto leva, por exemplo, à glorificação da ciência apenas como bengala tecnológica. Para “tornar a vida melhor” e mais próxima do que “era”, sem essencialmente mudar nada.
O socialismo necessita transgredir com o passado. É rompendo com as amarras dos caminhos já trilhados que o socialismo busca uma nova alternativa de sociedade, de economia, de cultura e etc. Isto representa uma busca e incentivo pela mudança EM TODAS AS áreas. A ciência não é apenas medida pelo seu caráter instrumental, mas pela possibilidade de romper com o passado e construir o futuro.
5) O nazismo e o fascismo são necessariamente expansionistas em termos geográficos. Dado que a diferença é algo ruim, toda a expansão do nazismo e do fascismo dependem da tomada de terras, de riquezas naturais, de áreas vitais e pontos estratégicos. Com estes recursos, o regime mobiliza sua força para exterminar o diferente e plasmar a noção autoritária.
O socialismo independe do expansionismo geográfico. O ponto essencial é a formação de consciência nos indivíduos. Já que toda a riqueza advém do trabalho, não é necessário uma mina de ouro, para gerar riqueza, mas trabalhadores conscientes do seu local no processo de produção, no seu tempo histórico e no seu espaço social. Independe de terra e sim de pessoas. O socialismo investe em escolas, ciência, cultura, artes como veículos de transformação social e não em polícia, armas, bombas e etc.
6) O nazismo e o fascismo necessitam do Estado e do nacionalismo. O nacionalismo é vendido como uma série de valores “comuns”, mas que de ‘comuns’ nada têm. O nacionalismo tóxico, como valor etéreo simbolizado por bandeiras, cores, uniformes, cânticos e etc., não remete a qualquer realidade fática na história ou sociedade. É um anseio homogeneizador das elites que busca fazer desaparecer as diferenças sociais pela elevação a mito de narrativas que, na maior parte das vezes, são falsas.
O socialismo denuncia o uso do nacionalismo como combustível da violência e busca a ruptura com os laços ideológicos da diferença por “nação”. Todo o homem, nascido em qualquer parte, tem direito às condições materiais que propiciem sua existência. Não se pode negar aos homens os direitos de sua existência porque eles nasceram sob a bandeira de A ou B. Buscando uma noção de sociedade global, o socialismo prega que não deve ser pelo nascimento que ocorre o surgimento das diferenças entre os seres humanos.
7) O nazismo e o fascismo são profundamente capitalistas. Capitalismo NÃO É o mesmo que “livre mercado” ou “liberdade econômica”. Capitalismo é a extração e retenção privada da mais valia como um sistema que se reproduz material e ideologicamente baseado na ideia excludente de “propriedade privada dos meios de produção”. O capitalismo que o nazi-fascismo defendeu sempre foi um capitalismo de corte nacionalista e que se abjurava o financismo internacional. Mas foi sempre defendendo a propriedade privada, e tornando os trabalhadores dóceis e dominados para aumentar a extração de mais valia que o regime se desenvolveu.
O socialismo se opõe a acumulação privada de recursos e à extração privada de mais valia. Afirma que toda a riqueza é socialmente construída e que o homem é, através de seu trabalho produtivo, o gerador desta riqueza. O sistema socialista não defende o fim da “propriedade privada” (tomados como casa, roupas ou utensílios), mas apenas a propriedade privada que seja usada para extração de mais valia. Posses que não sejam objeto de exploração não são proibidas. Apenas tudo aquilo que gera riqueza o deve fazer em benefício de toda a sociedade e não apenas de um punhado de pessoas.
8) O nazismo e o fascismo possuem PROJETOS POLÍTICOS de extermínio e mudança pela morte. Seja com base no racismo ou seja com base numa superioridade cultural de determinados indivíduos ou sociedades, há um claro projeto de extermínio, um ataque sistemático ao direito de vida de todos os que não compactuam com o regime.
O socialismo tem um projeto político de mudança social e nunca de extermínio. As estruturas econômicas do capitalismo devem ser exterminadas e NÃO os capitalistas ou os trabalhadores que acreditam nestes valores. Isto porque o socialismo advoga a ideia de que a materialidade gera suas explicações ideológicas às quais os homens não tem total possibilidade de rejeitar por serem parte desta formação. A vida é o bem maior a ser preservado e não a propriedade. Os capitalistas devem ser privados de suas posses, de suas ferramentas de dominação e não de seus direitos como seres humanos.
9) O nazismo e o fascismo tem um projeto de futuro inalterado. O futuro é um espaço de manutenção de conservação do mundo “como era no passado”. Daí a tara que os fascistas e nazistas têm pelos passados mitificados (a glória dos dias de outrora). O futuro é, pois, o mais parecido possível com este passado glorificado. E pela certeza que “já aconteceu”, o fascista tem por certo que “pode voltar a acontecer”. Neste sentido, tudo o que apela para um futuro inovador, incerto, diferente e etc. é tratado como subversivo, criminoso e indesejável. E aí entra o ataque à ciência e à educação.
O socialismo desafia os seres humanos a romperem com as amarras do seu passado e buscarem um futuro radicalmente diferente. Assim, tudo o que glorifica, remete, e plasma o passado é considerado indesejável, subversivo e até criminoso. Os olhos e a preocupação das sociedades devem estar voltadas para o futuro. O passado deve ser conhecido como o local onde já se esteve e não se quer voltar.
10) O nazismo e fascismo acolhem TODAS as ferramentas de dominação ideológicas. Da religião à estética, tudo o que pode exercer uma dominação “sem sangue” é utilizado pela exata falácia de dizer-se “não-ideológico”. Por esconder que a religião traz ferramentas de dominação de classe, que é ideológica e que recria processos de dominação, o fascismo tenta criar uma ideia de “neutralidade”. Assim faz com absolutamente tudo, do nacionalismo aos espaços geográficos e culturais. O objetivo é encobrir os processos de dominação e manter os indivíduos no campo da ignorância. Daí o ataque à política que é a via mais clara de disputa de poder em nossas sociedades.
O socialismo DENUNCIA todas as formas implícitas de luta ideológica. Desde a religião, até o Estado e cultura, tudo é passível de um olhar crítico. Ao mesmo tempo, o socialismo abertamente se reconhece ideológico. É pela transparência das disputas político-ideológicas (e não por escondê-las) que se chega a uma sociedade plural. É a política a ferramenta mais efetiva de resolução dos nossos conflitos de poder. O socialismo diz abertamente que tem lado, que lado é este e quem ele defende. Não esconde que o mundo é um local de disputa por recursos e nem esconde que é violento. Tornar os discursos transparentes em sua ideologia é o caminho do socialismo.
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