A agenda conservadora do presidente Jair Bolsonaro tem adesão significativa da Polícia Militar no país. De cada dez praças da PM que usam o Facebook, quatro o apoiam. Desse grupo de baixa patente de policiais militares, 25% apoiam ideias mais radicais, como o fechamento do Congresso e prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal. Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pela Decode Pulse, que analisou interações públicas em perfis de policiais militares, civis e federais na rede social.
A adesão a ele é maior entre os policiais militares do que entre os policiais civis e federais. Na baixa patente da PM, é maior também o incentivo a pautas antidemocráticas e a discursos homofóbicos do que em relação às outras categorias da polícia.
Segundo a pesquisa, 41% dos praças da Polícia Militar e 35% dos oficiais interagem em páginas e grupos bolsonaristas no Facebook. Os praças correspondem a soldados, cabos e sargentos. Já os oficiais são os aspirantes, tenentes, capitães, majores, tenentes-coronéis e coronéis e subtenentes.
Na Polícia Federal, o apoio a Bolsonaro diminui, segundo as interações no Facebook: 12% dos delegados e 13% de agentes, escrivães e peritos demonstram adesão às ideias dele. A interação com páginas e grupos favoráveis ao bolsonarismo cai ainda mais entre os policiais civis. Entre os investigadores, escrivães e peritos, o apoio é de 10% e, entre delegados, de 7%.
A análise dos assuntos mais compartilhados pelos policiais mostra que os militares preferem falar sobre política institucional (49% dos temas mais compartilhados), sobre conteúdo contrário a homossexuais e transexuais (24%) e sobre temas contrários às instituições democráticas, como as propostas de fechamento do Congresso e de prisão de ministros do STF (12% dos compartilhamentos dos PMs). Entre os comentários coletados entre os policiais militares, estão o ataque ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “Maia é um bandido!!! Esse Congresso Nacional tem que fechar as portas, só tem rato!!!!””, diz um policial militar no Facebook.
Dos comentários contra pautas LGBTQI+, 92% foram feitos por praças da Polícia Militar.
A adesão a pautas radicais, como o fechamento do Congresso, é menor entre os policiais civis (7%) e cai ainda mais entre os federais (2%). Entre os assuntos mais compartilhados, os comentários críticos à esquerda e ao PT são mais frequentes entre os policiais federais (22%) do que em relação às outras categorias – polícia civil (15%) e polícia militar (14%).
Os elogios a Bolsonaro são mais presentes nas interações da Polícia Militar (20%), do que na Polícia Federal (18%) e na Polícia Civil (14%).
Para buscar informações dos profissionais das três polícias, os pesquisadores responsáveis pelo estudo construíram uma base de dados de 885.730 policiais, da ativa e aposentados, a partir de informações de portais da transparência dos governos federal, estaduais e do Distrito Federal. Desse contingente, foram encontrados 142 mil perfis no Facebook. Os pesquisadores definiram uma amostra de 879 páginas públicas na rede social para fazer a análise dos dados. A pesquisa tem nível de confiança de 95% e margem de erro de 3% em relação ao universo coletado na rede social.
A pesquisa buscou informações sobre o gosto musical dos profissionais das três polícias. Entre os PMs, o sertanejo é o ritmo mais frequente nos comentários dos policiais militares (34%) e dos policiais civis (30%), enquanto o rock é o mais citado entre os policiais federais (44%). A música gospel tem mais adeptos entre os policiais civis e militares (16%) do que entre os federais (4%).
O estudo divulgado faz parte de uma pesquisa maior, que deve ser divulgada no Anuário Brasileiro de Segurança Pública, edição 2020.