World Gym, sem tônica!

Por Marco Vasques.

Dona Lindomar, durante as eleições, sumiu do mapa. No Córrego Grande novamente, percebeu que praticamente nada mudou. As calçadas do bairro continuam intransitáveis, os prédios não param de nascer para tudo o que é canto, o desmatamento não cessa e o córrego, que um dia já foi grande, está cada vez menor. Os bares, felizmente, continuam todos em pleno funcionamento.

De observação em observação, ela viu que a academia World Gym tem como público uma gente bonita, instruída, disciplinada e, a julgar pelos carrões que elas colocam todas as noites sobre a calçada, são detentores de uma boa condição econômica. E é aí que a velhinha, que todos os dias é obrigada a avançar a estrada para buscar seu netinho na escola, se pergunta: como essa gente bonita e supostamente inteligente comete, todos os dias da semana, uma infração de trânsito e põe em risco crianças, velhos, jovens e toda a sorte de caminhantes?

Não satisfeita – apesar da idade ainda tem alguma indignação -, passou a mão no telefone e ligou para a polícia. Dona Lindomar jurava que ia fazer valer seu direito de cidadã. Após algum tempo, foi atendida e fez o de sempre, aliás, dizem que há um rosário de denúncias contra a World Gym. Foi direto ao foco: escuta, eu sou uma senhorinha e tenho que pegar o meu neto todos os dias no colégio. Acontece que aqui no Córrego Grande tem uma academia, chamada World Gym, que insiste em colocar carros e mais carros sobre a calçada. Moça, desculpe. Não, não é a academia, são os frequentadores da academia quem colocam os carros, fazendo com que todos os pedestres tenham que caminhar pela estrada. Tem como mandar uma viatura aqui? Vai dar uma boa graninha de multa…

Após dez ligações e uma hora de espera, chega o carro da polícia. Dona Lindomar, sorridente, mostra duas dezenas de carros estacionados na calçada e argumenta para o policial que isto não pode continuar. Ele olha a calçada demarcada com faixa amarela e diz para Dona Lindomar: não posso multar. Como? O carro não está em cima da calçada? O senhor não está vendo eu e meu neto aqui na estrada? Podemos ser atropelados.

O guarda entra na viatura e diz: senhora, se está demarcada com linhas amarelas, o IPUF deve ter liberado. Então, se eu multar, vou arrumar problemas para mim. A senhora não imagina como é difícil multar empresas. E se foi, deixando a velhinha e o neto, ocupando o lugar dos carros, enquanto os carros ocupavam o lugar das gentes. E todos os dias essa gente rica, bonita – e muito supostamente instruída -, continua a colocar carros na calçada. Haja “world gym”. Sem tônica!

Publicada no jornal Notícias do Dia [05/11/2012]

Imagem: Tali Feld Gleiser.

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