‘Votarei pelo povo trabalhador e sofrido de São Paulo. Votarei com fé’, diz Frei Betto

Foto: Redes Sociais

Carta Capital. – Entre os candidatos à prefeitura de São Paulo, a maior e mais rica cidade do país, destaca-se a chapa Guilherme Boulos e Luiza Erundina.

Darei meu voto à dupla por razões muito sérias. Como aponta a Oxfam Brasil, o principal problema da capital paulista é a desigualdade social. Segundo a Rede Nossa São Paulo, enquanto a renda mensal média familiar é de R$ 9.344 no Alto de Pinheiros, no Jardim São Luís, na Zona Sul, é de R$ 983. O número de vítimas de Covid-19 em São Paulo foi consideravelmente maior nos bairros habitados por famílias de baixa renda, comparado aos mortos residentes em bairros de classes média e alta. Portanto, encarar essa notória injustiça é a tarefa principal da nova administração.

Se você reside na periferia do município sabe como se multiplicam os problemas que dificultam a vida de quem não dispõe de recursos. Falta de moradia digna, de rede de esgoto, de água tratada, de vias urbanizadas etc. A segurança é precária, e a polícia só costuma aparecer para constranger moradores e confundir jovens trabalhadores com traficantes. Cidadãos honestos são tratados com desrespeito e brutalidade.

O serviço de saúde inexiste nas áreas de famílias de baixa renda. E o pouco que existe submete os pacientes a longas filas de espera e exames precários. Basta frisar que enquanto a média de vida em Moema (bairro de ricos) é de 80,6 anos, na Cidade Tiradentes (bairro de assalariados) é de 57,3 anos (Oxfam).

As escolas carecem de instalações adequadas e as creches são raras e insuficientes. Em Guaianases, o tempo de atendimento para vaga em creche é de 18,5 dias. Na Vila Andrade, 260,9 dias! A fila de espera na capital tem média de 106,9 dias! (Rede Nossa São Paulo).

O serviço de transporte coletivo é caro e as empresas de ônibus reduzem os veículos para lucrar mais com a superlotação, o que favorece a contaminação da Covid-19. Enfim, os impostos que a população paga, embutidos em cada produto que compra, não retornam na forma de serviços a que tanto necessita e tem direito.

Boulos e Erundina são candidatos com cara e coragem para enfrentar esse estado de coisas. Não têm envolvimento nem vínculos com donos de empresas de ônibus e especuladores imobiliários. Não fazem campanha com caixa dois. Não devem satisfações ao poder econômico.

Além disso, os dois têm carreiras de muitos méritos. Guilherme Boulos é professor, formado em Filosofia pela USP e mestre em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da USP. Participa da coordenação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e da Frente Povo Sem Medo.

Luiza Erundina é formada em Serviço Social e foi eleita prefeita de São Paulo em 1988, quando se destacou por uma administração voltada aos mais carentes, e jamais foi alvo de qualquer denúncia de corrupção. Atualmente exerce, com brilhantismo, seu sexto mandato de deputada federal.

Votarei Boulos-Erundina! Votarei em quem já tem experiência exitosa de administração de uma megalópole como São Paulo. Votarei em quem sempre se manteve vinculado aos movimentos de base, às comunidades cristãs, aos sem teto e sem direitos, aos marginalizados e excluídos.

O voto é livre. Mas jamais eu votaria naquele que “seu mestre mandar” – o padre, o pastor, o patrão ou qualquer outro que queira convencer-me a dar o voto a quem no futuro, depois de empossado, vai virar as costas ao povo de São Paulo!

Votarei pelo povo trabalhador e sofrido de São Paulo. Votarei com fé. Votarei Boulos e Erundina!

* Frei Betto (frade dominicano e escritor)

Este texto não reflete necessariamente a opinião de CartaCapital.

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