‘Volta às aulas é impraticável’, dizem professores a secretário de Covas

Em live para debater o protocolo de saúde para a volta às aulas em São Paulo, Bruno Caetano ouviu rechaço unânime de professores e profissionais da educação

Foto: Rubén Rodriguez/Unsplash

Por Rodrigo Gomes

Professores e trabalhadores da educação da Diretoria Regional de Ensino (DRE) Jaçanã/Tremembé, zona norte paulistana, foram unânimes em se posicionar contra a volta às aulas sem efetivo controle da pandemia de coronavírus. Em live para debater o protocolo de saúde de retomada das atividades escolares, o secretário municipal da Educação, Bruno Caetano, ouviu que “a volta às aulas é impraticável” e que os protocolos definidos até agora “estão muito distantes da realidade no ‘chão das escolas’”. Nos comentários da live, os posicionamentos contra a volta às aulas também foram grande maioria.

Os profissionais da educação apontam que é preciso garantia de oferta de equipamentos de proteção individual (EPIs), de testagem para trabalhadores e famílias, que os protocolos elaborados a partir das unidades e do olhar dos trabalhadores da educação. A minuta de protocolo se aplica aos Centros de Educação Infantil (CEIs), Escolas Municipais de Ensino Infantil (Emeis), Escolas Municipais de Ensino Fundamental (Emefs) e Educação de Jovens e Adultos (EJA).

“Não vemos condições reais de implementar o protocolo da forma como ele foi organizado. Parece uma piada de mal gosto ler esse protocolo um item dizendo que os panos de chão vão ser passados a ferro um a um depois de lavados, quando a gente sabe que a maioria das escolas não tem lavanderia, não tem máquina de lavar, nem ferro quente. Esses panos são lavados à mão e são pelas mãos negras das mulheres que serão as mais expostas nesse retorno, podendo virar estatística”, disse Grazielly Rodrigues, professora da Emef Marechal Rondon, representando os educadores das Emef da DRE Jaçanã/Tremembé.

Descaso generalizado

Os profissionais destacaram que, desde o início da pandemia, não houve testagem para os profissionais da educação que tiveram contato com casos confirmados de covid-19. Nem EPI em quantidade suficiente para os profissionais que precisaram continuar indo às unidades escolares. A minuta de protocolo não traz garantia de que esses problemas serão resolvidos. O secretário disse que já estão sendo providenciadas compras de EPI e que as escolas vão receber verbas para isso também.

Os professores também apontam que os protocolos propõem medidas impraticáveis, como garantir um metro de distanciamento entre crianças na educação infantil , até 5 anos. Sugere inclusive a criação de cercadinhos ou que se mantenha as crianças em berços para evitar os contatos, bem como proíbe o uso dos brinquedos externos e qualquer atividade de contato.

Para os professores, essas medidas contrariam o princípio da educação infantil, que propõe a movimentação, o contato, o relacionamento, a exploração do ambiente, de brinquedos e jogos. Além disso, destacam que crianças menores tendem a levar tudo à boca, um comportamento natural e praticamente impossível de ser impedido. As crianças menores também não podem utilizar máscara, conforme orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, por risco de sufocamento. O que pode facilitar muito a disseminação do coronavírus.

“Não vamos aceitar que transformem as nossas escolas em depósito de crianças, passando por cima dos princípios pedagógicos da nossa rede, para viabilizar que os pais deles sejam explorados e expostos à pandemia para atender a demanda do mercado. Tudo isso são pontos essenciais para que a gente possa discutir um retorno racional. E as escolas não precisem ser fechadas uma semana depois de abertas, como foi na França, como foi na Coréia do Sul. É preciso debater de verdade todos os critérios da reabertura e dar condições para que o protocolo não seja irrealizável e parecer naturalizar as mortes da população”, disse Grazielly.

Volta às aulas

Apesar da previsão de 8 de setembro, a volta às aulas só vai ocorrer quando todo o estado paulista estiver na fase 3-amarela do Plano São Paulo. O processo será feito em três fases. Na primeira etapa, até 35% dos estudantes poderão voltar às escolas, com preservação de um 1,5 metro de distância entre eles, tanto na sala de aula e no transporte escolar como no refeitório e atividades coletivas. Na segunda etapa, concomitante ao avanço das regiões para a fase 4-verde, do Plano São Paulo, por 14 dias, voltam até 70% dos estudantes, com os mesmos protocolos. Se o controle da pandemia se mantiver na fase 4-verde por mais 14 dias, poderão voltar 100% dos estudantes.

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Se houver retrocesso em uma região, com aumento de casos, mortes ou internações causadas pela covid-19, apenas a região afetada terá as escolas fechadas. Mesmo com a volta às aulas em São Paulo, será mantido o ensino a distância, como parte do processo das aulas, já que as turmas serão reduzidas e poderá haver revezamento de estudantes nas escolas. As atividades deverão ser, preferencialmente, em áreas ventiladas, e os intervalos terão revezamento de estudantes. Os horários de entrada e saída serão adaptados para não haver aglomeração.

EPIs e máscaras

O plano prevê que sejam distribuídos EPIs para estudantes, professores e demais funcionários das escolas. Durante todo o período de aulas e no transporte escolar será obrigatório o uso de máscara. Todos os estudantes deverão usar canecas próprias para beber água, pois uso direto dos bebedouros será proibido. Os ambientes coletivos deverão ser limpos a cada três horas.

No entanto, grande parte das medidas de distanciamento e higiene não é obrigatória, o que torna frágil o plano de voltas às aulas em São Paulo. Por exemplo, a garantia de distanciamento de 1,5 metro entre os alunos, em refeitórios e atividades físicas, é apenas “recomendável”. Assim como o incentivo à higienização de mãos após tossir, espirrar, usar o banheiro, ou tocar em dinheiro. Também é apenas “recomendável” exigir o uso ou oferecer EPIs aos funcionários. Confira o protocolo completo.

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