Vice-governadora bolsonarista de SC tem vida de luxo bancada pelo povo e enriquece empresa citada em esquema

Foto: Via Diário da Cidade.

Vice-governadora bolsonarista de SC tem vida de luxo bancada pelo povo e enriquece empresa citada em esquema.

O ex-bombeiro militar* e atual governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), elegeu-se em outubro passado em uma “chapa pura” do partido – ao qual pertence também o presidente da República, Jair Bolsonaro -, junto com a vice-governadora Daniela Reinehr.

Em seu discurso de campanha, figuraram a defesa da família e dos bons costumes, além do fim da corrupção e da chamada “Velha Política”.

Na realidade, porém, a velha política, de privilégios injustificados (chamados de “mamatas” por alguns), de gastos obscuros, de desperdício de dinheiro público e acordos e contratos com suspeitos de dilapidar os cofres estatais, não acabou e está longe de acabar no governo catarinense.

Nos últimos dias, um jornal pertencente ao Grupo RIC de Comunicação, associado à Rede Record em Santa Catarina, revelou alguns números sobre a residência oficial – mantida pelo contribuinte catarinense – da vice-governadora Reinehr que não deixam margem para dúvida: não, a mamata não acabou.

E, para além do que mostrou o jornal, conchavos e acordos com suspeitos de dilapidar patrimônio público, também não.

Ocorre que Santa Catarina é um dos dois únicos estados do Brasil (o outro é o Maranhão) em que o vice-governador tem uma residência oficial mantida pelo erário. Já em termos de custos, regalias e contratos suspeitos que compõem essa regalia, Santa Catarina reina absoluta.

Só no primeiro semestre deste ano, conforme mostram dados publicados no Portal da Transparência, a casa da vice-governadora consumiu R$ 292 mil, o que equivale a 32% da verba total gasta com o gabinete da mandatária.

Não é possível saber exatamente como foi gasto este dinheiro com base no que foi publicado pelo poder público, em relatórios com uma série de lacunas e imprecisões. Algumas aberrações, no entanto, estão bem visíveis:

  • Com serviços de zeladoria, foram gastos R$ 167,5 mil
  • Com motorista, foram R$ 35,3 mil. Ou seja, R$ 5,8 mil por mês
  • Com cozinheiro, foram R$ 31,9 mil
  • Com serviços de jardinagem: R$ 19 mil

São todos números do Portal da Transparência, oficiais, portanto. A rubrica de zeladoria abarca, entre a contratação de outros profissionais, o pagamento por serviços de telefonista, servente e digitador, todos com custos bem acima da média de mercado.

Quer dizer: o povo de Santa Catarina não só paga o salário da vice-governadora, como também seu jardineiro, sua telefonista e seu digitador particular, e não apenas paga tudo isso, como paga mais caro do que qualquer brasileiro paga ao contratar serviços semelhantes.

E quem recebe esses valores para prestar tais serviços? Grande parte deles, uma empresa chamada Orcali Serviços de Segurança e Limpeza. Pelos seis primeiros meses atendendo às necessidades da residência da governadora, a companhia fechou um contrato com o governo que deve lhe render R$ 135 mil.

É aqui que a Velha Política mostra que está mais viva do que nunca no governo de Carlos Moisés. A Orcali é uma das empresas denunciadas como participante dos esquemas de desvio de recursos públicos que estão sendo combatidos pela Operação Alcatraz, da Polícia e da Receita Federal em Santa Catarina.

Trata-se de uma operação que foi deflagrada em maio deste ano. Ela visa combater fraudes em licitações e desvios de recursos públicos por meio de contratos de prestação de serviço de mão de obra terceirizada firmados com órgãos do governo de Santa Catarina. Mais de 20 pessoas foram denunciadas à Justiça e 17 já viraram réus em processos criminais.

No início de junho, oito pessoas foram presas suspeitas de integrar o esquema. Uma delas é o empresário João Buatim. Em depoimento à Polícia Federal, ele afirmou que emitia notas fiscais por serviços publicitários sem, entretanto, ter prestado tais serviços. As notas frias teriam como contratantes empresas dos grupos Ondrepsb e Orcali, do ramo de mão de obra terceirizada. Disse também que essas notas eram necessárias para que os donos das empresas pudessem repassar dinheiro vivo para agentes públicos do Estado. As empresas negam qualquer irregularidade.

O governo de Santa Catarina se manifestou por nota a respeito do assunto, afirmando que “o uso da residência oficial da vice-governadoria é uma prática estatal desde a compra do imóvel, em 1979, e foi utilizado desde então por cerca de 10 vice-governadores”.

Como se nota, a mamata está longe de acabar.

* Erroneamente, a reportagem afirmava que o governador de Santa Catarina é ex-policial militar. Na realidade, ele pertencia ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado. A informação já foi corrigida.

 

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