Vereadores não querem indígenas nas ruas de São Miguel do Oeste/SC

Que tal uma moção para que o Ministério Público Federal e a Funai intercedam pelas crianças, vítimas do racismo de uma sociedade que abriga esses grupos racistas?

Foto: Claudia Weinman/2015

Por Claudia Weinman, para Desacato. info. 

Não é a primeira vez que vemos esse comportamento de preconceito com os povos indígenas se manifestar na cidade de São Miguel do Oeste/SC. Pelo contexto histórico da região do Extremo-oeste, podemos identificar os elementos de racismo, xenofobia e outros mais que invadem a nossa história. Sempre houve a “necessidade” de branqueamento da região, foi assim que caboclos/as, negros/as e povos indígenas foram sendo dizimados aqui também.

Na sessão de terça-feira, dia 17, na Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste/SC, uma moção de apelo foi apresentada. A mesma indica uma solicitação ao  Ministério Público Federal e à Fundação Nacional do Índio (Funai) que “intercedam pelas crianças indígenas que estão no Centro de São Miguel do Oeste pedindo esmolas”. O único voto contrário a essa moção foi da vereadora Maria Tereza Capra (PT).

Voltamos a estudar Zygmunt Bauman. Vamos pensar agora o que significa o “sonho da pureza”. Faz tempo, grupos de São Miguel do Oeste, sejam da elite ou defensores da elite, pobres coitados, querem o fim dos povos indígenas na cidade. Não compreendem a cultura, a forma de vida, não entendem nada. É fácil tirar um item do Estatuto da Criança e do Adolescente e tentar justificar a necessidade de tirar as crianças indígenas da rua. Difícil é estudar a história, a sociologia, a antropologia, pensar no pindorama, na invasão do Brasil lá no início do “branqueamento”.

Já que a preocupação é tanta, bem, aproveitem a semana dos povos indígenas no Oeste marcada inclusive pelo 19 de abril, e proponham uma moção para que a Prefeitura instale um banheiro químico no local onde os indígenas ficam no período de venda dos seus artesanatos, uma estrutura adequada e que ofereça dignidade seria bem vinda,  se querem tanto ajudar essas crianças.

Quem conhece a história de São Miguel do Oeste, sabe muito bem da negação que se faz ao povo indígena e caboclo que também ‘foi convidado’ a se retirar da cidade, quando a antiga Vila Oeste se formara. Gentes que levantaram os prédios, que serviram de mão de obra barata, foram explorados\as em nome da colonização.

E os indígenas? que tem seu costume diferenciado, que produzem artesanatos riquíssimos, mas que não compreendem a troca e venda de terra, porque ela representa vida, ela é mãe. Me admira muito como vereadores que nem desta cidade são, votam favoráveis a esse tipo de moção que quer na verdade a retirada dos povos de São Miguel do Oeste.

Era 22 de dezembro de 2015 quando esse assunto tomou a cidade. A Prefeitura por meio da secretaria de Assistência Social, mandou um caminhão até a rodoviária. Colocaram os indígenas dentro, feito “coisa”, e elevaram até outra área, que fosse retirada do centro, pois o “ponto turístico” da cidade estava para receber turistas e seria muito “feio” ver o povo indígena ali, “atrapalhando”.

Querem repetir a cena?

Que tal uma moção para que o Ministério Público Federal e a Funai intercedam pelas crianças, vítimas do racismo de uma sociedade que abriga esses grupos racistas?

Toda solidariedade aos povos indígenas. Que sigam por São Miguel do Oeste, por todo espaço. Lugar de indígena é em todo território, esse mesmo que lhes foi tirado faz muito, mas muito tempo. Minha solidariedade ao Conselho Indigenista Missionário, que realiza um trabalho e tanto na região.

Para quem quiser conhecer mais sobre os povos indígenas, o Portal Desacato, desenvolve um trabalho bonito, com o programa “Vida em Resistência”, na aliança com o CIMI e dirigido pela Jornalista Julia Saggioratto. Segue o link:

Indígenas foram ‘convidados’ a se retirar do centro de São Miguel do Oeste

Claudia Weinman é jornalista, diretora regional da Cooperativa Comunicacional Sul no Extremo Oeste de Santa Catarina. Militante do coletivo da Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e Pastoral da Juventude Rural (PJR).

 

 

3 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns pela matéria, Cláudia!
    Concordo plenamente com tudo o que você disse. Eu mesma já enviei mensagens aos nossos vereadores para que construissem um lugar com banheiro e energia para abrigar nossos queridos índios, quando de passagem para negociar seus artesanatos. Mas parece que a incensibilidade do poder público migueloedtino está somente em construir elefante branco para se sentarem, quando teriam inúmeras outras coisas para serem feitas. Como um abrigo digno para os nossos índios.

  2. Entendo a preocupação e o sentimento patriotico da jornalista. Não sei qual é a moção apresentada na Câmara de vereadores, porém o que me preocupa é a segurança das crianças que ficam passando na frente dos carros, no semáforo, tentando vender seu artesanato ou não. São crianças pequenas, que não tem noção do perigo. Eu mesmo já liguei para diversos órgãos de nosso município, solicitando para que fosse evitado que os mesmos permaneçam nesses locais perigosos. Porém com o intuito de protege-Los e não de que sejam banidos das ruas. Fui informado que ninguém pode fazer nada para coibir isso, pois estariam tirando deles o direito de ir e vir. Que os pais saiam para vender seus produtos e deixem as crianças serem crianças.

  3. Bom, minha opinião, quanto a venda de artesanatos ok, mas na maioria das vezes o que se dá é esmola, eles ficam de baixo de sol e chuva enquanto os pais ficam sentados fumando ou comendo, como muitas vezes vi, se é para manter as tradições e cultura deles, que alias já foi quase transformada para a nossa, eles não deveriam estar ali, ou então realmente que a Funai desse um amparo maior, até porque se você tentar colocar uma criança dessas na escola ou tentar mudar a realidade dela, quem está errado é você, os pais deles deveriam estar trabalhando para sustenta-los e não o contrário, bote uma criança branca vender ou pedir que não dá 5 minutos bate o conselho tutelar na porta, a realidade não é discriminação muito menos preconceito, é só olhar e analisar que eles precisam de um meio diferente de estar ali, é só olhar que tá ali pra todo mundo ver, quantas vezes vi essas crianças pegarem o dinheiro e irem comprar sorvete ou outra coisa para elas quando estão sozinhas, porque quando estão com os pais provavelmente que este dinheiro caia todo na mão deles. Então se é em relação a cultura deles, eles estarem no centro da cidade pedindo esmolas, eles já caíram na realidade das ruas que não é venda de produtos é pedir dinheiro para sobreviver, as vezes eles até levam artesanato nas mãos, mas como o pedir fica mais fácil, já não oferecem e pedem se tem moedas para dar. Então a solução é encontrar a melhor solução, e cabe ao prefeito e vereadores fazer isso por todos. Um abraço.

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