Valter Pomar: “A presidenta Dilma cometeu um gravíssimo erro”

Valter Pomar
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A presidente Dilma Rousseff cometeu um gravíssimo erro político no seu discurso de 31 de março.Refiro-me ao seguinte trecho do discurso presidencial: “reconquistamos a democracia à nossa maneira, por meio de lutas e de sacrifícios humanos irreparáveis, mas também por meio de pactos e acordos nacionais. Muitos deles traduzidos na Constituição de 1988. Como eu disse, na instalação da Comissão da Verdade, assim como eu respeito e reverencio os que lutaram pela democracia, enfrentando a truculência ilegal do Estado e nunca deixarei de enaltecer esses lutadores e essas lutadoras, também reconheço e valorizo os pactos políticos que nos levaram à redemocratização”.O erro consiste no seguinte: não foram os pactos políticos que levaram à redemocratização. Nem sozinhos, nem mesmo “também”. Os pactos políticos detiveram a democratização, corromperam a democratização, macularam a democratização.Nós lutamos contra os pactos, contra a conciliação, contra o acordo das elites. E se temos mais democracia hoje, é porque nunca nos conformamos com os pactos.

Quanto a chamada lei da Anistia, ela foi aprovada contra os nossos votos. Foi uma vitória do lado de lá. Não foi um “pacto”, não foi um “acordo”, foi uma vitória da direita, da ditadura, dos torturadores.

Por isto, é politicamente, historicamente e moralmente inaceitável colocar no mesmo plano as “lutas e sacrifícios humanos” das classes trabalhadoras, e os “pactos e acordos nacionais” patrocinados pelas elites.

A presidenta está completamente errada. É filiada ao meu partido, votei nela, votarei de novo em 2014, defendo seu governo contra a direita e contra o esquerdismo. Mas ela erra totalmente ao dizer isto.

Note-se o seguinte: a presidenta não se limitou a “reconhecer” os pactos. Ela os “valoriza”.

Uma coisa é reconhecer a força do inimigo e avaliar se é possível avançar mais ou não. Outra coisa é não querer avançar, por princípio, por que se “valoriza” os pactos, os acordos, as conciliações.

Quem paga por este erro?

Entre outros, cada cidadão vítima da brutalidade policial, que se alimenta da impunidade.

Paga, também, nosso futuro. Pois este futuro depende entre outras coisas de termos forças armadas poderosas, mas sob absoluto controle civil. E para que isto ocorra, é preciso que nosso governo queira, deseje, valorize e atue contra a herança viva da ditadura militar.

Finalmente: a presidenta falou de sacrifícios irreparáveis. Na minha opinião, a única coisa realmente irreparável é desistir de lutar.

1 COMENTÁRIO

  1. Fato é que resistem desde a promulgação da Constituição e que não fizemos a reforma política e nem informamos ao povo sobre o papel de nossos congressistas permitindo que eles se perpetuassem e ainda a manutenção dos famigerados pactos. Qual a solução efetiva se para governar se é necessário compor com outros partidos? Há o que desejamos e o que nos frustra mas também existem os ataques constantes de aliados necessários dentro desse sistema político que temos. Vamos lançar as reformas com efetividade para que nenhum governante se sinta refém. Ao meu ver ela teve que engolir mais uma vez os seus torturadores para continuar o processo de redemocratização do país. Quem dera pudesse mesmo dar um basta nesse momento. Mas racionalmente isso compete só a ela? Qual nosso papel em remover a extrema direita de lá? Os ex torturadores e suas familias. Os juristas enauseantes ?

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