Vale anuncia distribuição de R$ 7,2 bilhões a acionistas; atingidos protestam

“Por detrás desta estratégia corporativa, mora uma perversidade brutal contra as famílias atingidas”, afirmam

Logo após rompimento em Brumadinho (MG), a Vale suspendeu tanto o pagamento de dividendos quanto a remuneração variável de executivos / Ricardo Stuckert

A Vale S.A. anunciou em Nova York que pretende distribuir R$ 7,25 bilhões de dividendos aos seus acionistas, como resultado das atividades da empresa em 2019. Esse valor supera os distribuídos pela companhia em 2017 (R$ 4,72 bilhões), 2016 (R$ 5,52 bilhões) e 2015 (R$ 5,02 bilhões).

O anúncio ocorre no marco de 11 meses do rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, que deixou 257 mortos e 13 desaparecidos. “Assim que ocorreu o rompimento, a Vale suspendeu tanto o pagamento de dividendos quanto a remuneração variável de executivos”, afirma nota de protesto da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale.

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A data da distribuição de lucros ainda não foi divulgada, mas o anúncio é visto como um aceno da empresa ao mercado sem que as demandas do crime ambiental tenham sido cumpridas. “Por detrás desta estratégia corporativa, mora uma perversidade brutal contra as milhões de famílias atingidas em Brumadinho e também por toda a bacia do Rio Paraopebas e o do Rio Doce”, afirma Maíra Mansur, pesquisadora e secretária-executiva da Articulação.

Íntegra da nota

“Aceno da Vale aos acionistas coloca lucro acima da vida

Nota de repúdio da Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale sobre as declarações de rentabilidade e distribuição de lucro aos acionistas.

O dia de Natal, 25 de dezembro, será também o marco dos 11 meses do rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho. Longe de demonstrar o respeito e a solidariedade que esta época do ano inspira, a Vale escolheu anunciar, durante encontro com investidores em Nova York, os valores bilionários que pretende distribuir aos acionistas, como resultado das atividades da empresa em 2019.

Assim que ocorreu o rompimento da barragem em Brumadinho, a Vale suspendeu tanto o pagamento de dividendos quanto a remuneração variável de executivos. O valor exorbitante de R$ 7,25 bilhões supera os valores distribuídos pela companhia em 2017 (R$ 4.721 bilhões), 2016 (R$ 5.523 bilhões) e 2015 (R$ 5.026 bilhões) , quando a empresa já operava sob o marco do enorme desastre socioambiental que provocou em Mariana e na Bacia do Rio Doce. Mesmo que a mineradora ainda não tenha declarado quando irá efetivamente remunerar seus acionistas, o anúncio do montante demonstra claramente que a prioridade da empresa é respaldar a sua imagem no mercado internacional.

‘Não importa que a Vale ainda não tenha efetivamente distribuído esses dividendos. Anunciá-los é uma estratégia para satisfazer o mercado e forjar uma imagem de empresa socialmente responsável e lucrativa. Por detrás desta estratégia corporativa, mora uma perversidade brutal contra as milhões de famílias atingidas em Brumadinho e também por toda a bacia do Rio Paraopeba e o do Rio Doce’, afirma Maíra Mansur, pesquisadora e secretária executiva da Articulação dos Atingidos e Atingidas pela Vale.

Mesmo com balanços negativos no primeiro semestre de 2019, a empresa não apenas conseguiu reaver a sua lucratividade no segundo semestre, como anuncia distribuição de dividendos ainda maior do que os anos precedentes. “Isso demonstra que desastres dessa monta tornam-se oportunidades de lucro para a Vale. Isso é um escândalo. Esse tipo de tragédia comove só inicialmente o mercado, depois o que volta a viger é a lógica dos lucros desenfreados, inclusive gerando maior pressão na exploração de outros territórios, como no Norte do país”, finaliza Maíra.

A Articulação dos Atingidos e Atingidas pela Vale repudia veementemente este anúncio da Vale S.A., como repudia toda a estratégia corporativa empreendida pela mineradora para falsear as medidas de reparação e restabelecer sua imagem junto ao mercado e aos investidores. A esses, seguiremos alertando: investir na Vale é investir na dor”.

Edição: Rede Brasil Atual

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