Vacinação no Brasil trava por falta de ações do governo federal

Cidades como Rio de Janeiro, Cuiabá e Salvador paralisaram vacinação. Apenas 5,5 milhões de brasileiros foram imunizados

Foto: Evaristo Sa/AFP

Um mês depois de iniciar a vacinação contra a covid-19, o Brasil travou a ação por falta de imunizantes. Enquanto a curva de contágio e mortes pelo vírus segue em alta, cidades como Rio de Janeiro, Cuiabá e Salvador suspenderam a imunização da população.

Nesta quarta-feira (17), o Brasil voltou a registrar mais de mil mortos por covid-19 em um período de 24 horas. Foram mais 1.150 novas vítimas da doença no período, totalizando 242.090 óbitos desde o início do surto, em março.

Em 17 de janeiro, a enfermeira Mônica Calazans foi a primeira pessoa no Brasil a receber a vacina contra a covid-19. Um mês depois, apenas 5,5 milhões de doses foram aplicadas no Brasil, o que representa 2,6 doses por 100 pessoas. Com grande atraso, o Ministério da Saúde divulgou apenas ontem um calendário para recebimento dos imunizantes vindos do exterior.

Em reunião com governadores, Pazuello afirmou que vai receber 230 milhões de doses até julho. De imediato, a expectativa é para a entrega de 3,4 milhões de doses da CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan com o laboratório chinês Sinovac. O instituto prevê que essas vacinas serão repassadas ao governo federal a partir de 2 de março.

Falta de políticas

A situação fica mais agravada pela falta de política do governo federal para frear a pandemia. Desde o ano passado, o presidente Jair Bolsonaro minimiza a gravidade da doença e o Ministério da Saúde indica medicamentos sem efeito contra a covid-19. Em dezembro, quando 180 mil brasileiros morreram pela doença, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, perguntou: “Para que essa ansiedade, angústia?”.

Diante da cobrança da população, Bolsonaro se viu obrigado a comprar as doses da Coronavac, contrariando sua promessa anterior de que não usaria o imunizante feito na China. O Itamaraty ainda adquiriu emergencialmente 2 milhões de doses prontas da vacina de Oxford-AstraZeneca produzidas na Índia.

A especialista em saúde pública Elize Massard da Fonseca, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que entre os problemas nesse atraso da vacinação no país está a descoordenação entre governo federal, estados e municípios, além dos embates diplomáticos entre o governo Bolsonaro e a China, que teriam prejudicado o acesso aos insumos com mais rapidez.

Em entrevista ao repórter Bruno Lupion, da Dw Brasil, ela lamenta a falta de um acordo em nível federal que incluísse a transferência de tecnologia para produção local da vacina de Oxford-AstraZeneca já em dezembro, mesmo que para uma empresa privada. O acordo em vigor prevê a transferência da tecnologia para a Fiocruz, mas somente no segundo semestre do ano.

Em agosto do ano passado, a Pfizer ofereceu ao Brasil 70 milhões de doses, com entrega a partir de dezembro, mas Bolsonaro não teve interesse para a compra. A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, diz que o governo falhou.

“O Brasil desconsiderou muitas possibilidades de negociações, porque entendeu que estava bem posicionado. Mas ainda precisamos dessas vacinas, e estamos demorando muito. Estamos em negociação para comprar a Sputnik, a vacina da (indiana) Bharat, com a Pfizer, com a Jansen, mas ainda não tem nada de concreto”, disse à Dw Brasil.

Pazuello em xeque

Em meio à paralisação da vacinação em várias cidades, a Confederação Nacional de Municípios (CNM) pediu, na última terça-feira (16), o afastamento do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por causa dos problemas de sua gestão durante a crise sanitária gerada pela pandemia de covid-19.

Em comunicado, os prefeitos afirmam que a vacinação é o único caminho para sair da crise sanitária e que julgam que o ministro não reúne as condições necessárias para conduzí-la. Por isso, a troca de comando é “necessária, urgente e inevitável para o bem dos brasileiros”.

A CNM se queixou de ter procurado o ministério várias vezes para marcar reuniões e solicitar informações e ter sido ignorada. Em Curitiba, a prefeitura disse que a vacinação prossegue até amanhã (19), sem perspectiva de continuidade. Já Fortaleza e Florianópolis também comunicaram que as vacinas estão acabando.

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