Universitários guaranis realizam encontro sobre saúde e saberes tradicionais

Por Fernanda Couzemenco.

Uma tradição que tem se perdido e precisa ser resgatada, na opinião de um grupo de guaranis que cursam Licenciatura Indígena na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A “proclamação de conhecimentos” dos anciãos aos mais jovens é um dos pilares a sustentar não só a vitalidade cultural, mas a saúde física do Povo Guarani.

“A cultura é viva”, afirma Aciara Carvalho, professora de alfabetização nas escolas indígenas de Boa Esperança e Três Palmeiras, em Aracruz (norte do Estado), e uma das guaranis a cursar a Licenciatura Indígena. Mas essa tradição há muito não acontece na aldeia, lamenta, só em algumas famílias, internamente.

“Alguns anos atrás a reunião acontecia na Opy [casa de reza], no convívio, onde todo mundo comia junto. Hoje é cada um na sua casa”, observa, ressaltando também que as próprias casas de reza foram diminuindo de tamanho. “Antigamente eram amplas, hoje são pequenas, não cabe tanta gente quanto antes”, reclama.

Com o objetivo de “acordar a comunidade”, Aciara conta que ela e seus colegas universitários decidiram organizar esse I Encontro Saúde e Saberes Tradicionais Guarani do Espírito Santo, que acontece neste sábado (19), de 8h às 12h, na Escola Municipal Pluridocente Indígena da Aldeia Três Palmeiras.

O evento tem articulação com a pesquisa Saberes tradicionais indígenas e produção de subjetividade: memória e políticas de saúde, coordenada pelo professor de Psicologia da Ufes, Fabio Hebert. “Não vamos para a comunidade dizer o que ela deve fazer”, afirma o docente e pesquisador da Ufes. “É um mapeamento, pensar as relações entre saberes tradicionais e processos de produção de saúde”, explica, com objetivo de “ampliar a potência de ação da comunidade e apoiar sua autonomia”.

A programação conta com seis atividades, incluindo um ritual de passagem dos meninos, com a “furada de beiço”, que marca a entrada na puberdade. Todas serão conduzidas por alguns dos anciãos e sábios das aldeias, com todo o conhecimento sendo transmitido aos mais jovens na língua Guarani.

“Nós vamos passar um resumo dos trabalhos para quem não entender a língua”, diz Aciara, com relação ao público não-indígena que for prestigiar o seminário.

Segue a programação:

1. Marilza (Keretxu ~Edy) – Mitã Kwery pe omõgueta ba´eitxa pa oiko rã inhegwe pewe – A importância dos conhecimentos tradicionais para as meninas Guarani até o rito de passagem.

2. Tereza (Djatxuka) – Inh~egwe wa´e omõgueta ba´eitxa pa yma we oiko araka´e, aegwe a~y ba´eitxa pa ikwairã? – Diferença de relação com os conheicmentos tradicionais entre as meninas Guarani ao longo do tempo.

3. Joana (Tatatx~i Ywa Rete) – Ipurua ky´iwa´e pe omõgueta ba´eitxa pa opuru´a´i ogwereko rã odjedjogwa uka awã e~y? – Conhecimentos tradicionais importantes para o início da gravidez

4. Marcelo (Wera Djekupe) – Om~eda ramo wa´e kwery ba´eitxa pa djogwereko´i rã djoupiwe oiko are awã? – Conhecimentos tradicionais importantes para os recém-casados alcançarem a longevidade no casamento

5. Agostinho da Silva (Kwaray) – ba´eitxa nhãde ra´y kwery nhamõgueta rã ikwai porã awã tekoa – Conhecimentos tradicionais importantes no desenvolvimento dos mais jovens.

6. Antônio Carvalho (Wera Kwaray) – História do rito de passagem e sua demonstração


Fonte: Racismo Ambiental 

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