Uma revolução no Maranhão: da escola de taipa ao intercâmbio nos EUA

Por Mariana Serafini

A sensação que se tem ao ouvir os relatos de professoras das escolas públicas é de uma região do país que parou no tempo e agora tenta recuperar 4 décadas em 4 anos com investimentos certeiros e trabalho duro de milhares de pessoas comprometidas com um futuro melhor para as crianças maranhenses. “Mas de onde saíram estes recursos para fazer tanto em menos de dois anos?”, questiono. Um servidor me explica: trata-se de optar por trabalhar pelo desenvolvimento humano e não para manter os luxos de uma elite coronelista que dominava o estado até então.

Parece impossível que, ao cortar o uso de decorações pomposas e carros de luxo, daria para usar este mesmo dinheiro para construir escolas, aumentar salários de professores, reformar bibliotecas, desenvolver programas de inclusão e permanência estudantil e ainda fomentar o senso crítico dos alunos. Pois é exatamente isso que está acontecendo no Maranhão. Para a nova gestão, iniciada em 2015, a prioridade é cuidar das pessoas.

Escola de taipa antes da substituição / Divulgação

O objetivo do programa Escola Digna é elevar o nível educacional em todas as esferas, desde a construção de escolas de alvenaria no lugar de prédios de taipa, até a ampliação do quadro de profissionais de ensino em todo o estado.

No início da gestão, haviam mil escolas de taipa, a expectativa é que até o final 300 já tenham sido substituídas. Ela ficam localizadas principalmente no interior em povoados de difícil acesso. As novas instalações contam com salas climatizadas, carteiras adequadas, laboratórios de informática, bibliotecas e toda a estrutura que a criança precisa para se desenvolver.

Já as reformas, que incluem principalmente mudança na estrutura elétrica para suportar o uso de ar condicionado em todas as salas, afinal, as temperaturas dificilmente baixam dos 30º durante o dia, estão sendo feitas ainda mais rápido. A média de uma nova escola reformada a cada dois dias.

As salas que antes tinham parede de barro e chão batido, hoje são equipadas com carteiras confortáveis, iluminação adequada, ar condicionado, lousa branca / Divulgação

Segundo o secretário de Estado da Educação, Felipe Camarão, “O programa tem por finalidade desenvolver uma série de ações com o objetivo de aprimorar e transformar o processo de ensino/aprendizagem na Educação Básica, elevando os índices educacionais do Estado. Com eixos estruturantes, norteia a gestão para atingir o que destacamos como os principais objetivos do Governo do Estado para a área educacional, que é a transformação de nossas escolas em espaços dotados de estruturas adequadas, que garantam as condições necessárias para o processo de ensino e aprendizagem; e a valorização e qualificação de nossos professores, para que esses profissionais sintam orgulho em integrar a nossa rede de ensino”.

Processo democrático com a participação de pais e mestres

Outro eixo do Escola Digna é a “Gestão Educacional” que realizou, pela primeira vez na história do Maranhão, a escolha de gestores escolares de forma democrática. Em sua primeira realização, 455 unidades da rede estadual de ensino escolheram seus diretores, contando com a participação de mais de 400 mil eleitores, entre professores, alunos, funcionários e pais de estudantes. Um novo processo eleitoral está em andamento para eleição nas demais escolas, até o final deste ano.

Nas 455 escolas onde aconteceram eleições, professores, funcionários, pais e alunos puderam escolher os diretores através do voto direto. Este processo, além de aproximar a comunidade da escola, democratiza o acesso e fomenta a transparência da gestão.

Bolsa Escola

Os alunos beneficiados pelo programa Bolsa Família foram mapeados e recebem, no começo do ano, um aporte para comprar materiais escolares, trata-se do programa Bolsa Escola desenvolvido no Maranhão. Atualmente a iniciativa já funciona em 60, dos 2017 municípios.

A cada ano aumentam o número de estabelecimentos cadastrados no Bolsa Escola / Divulgação

Tem direito ao Programa Bolsa Escola (Mais Bolsa Família), famílias com crianças e adolescentes de 4 a 17 anos de idade cadastradas no Cadastro Único do Governo Federal (CadÚnico). Ao contrário de outros programas, não há limite em relação ao número de filhos beneficiados por família. Em 2017 o valor repassado a cada estudante beneficiado vai aumentar de R$ 46 para R$ 51.

Pouco mais de R$50 pode parecer pouco, mas nos municípios do interior do Maranhão é o suficiente para comprar os materiais básicos para um aluno iniciar o ano letivo. Com este dinheiro as famílias conseguem fazer com que os filhos ingressem na escola com cadernos, lápis, borracha, apontador, lápis de cor e até mochila nova. Em outros casos, serve para comprar um calçado, ou uma roupa que faltaria caso não houvesse este benefício.

Além disso, a economia dos pequenos municípios cresceu a partir deste investimento. De 2015 para 2016 já aumentou em mais de 20% a procura de comércios e livrarias interessados em aderir ao programa.

O empresário Maurílio Tonassi, garante que o programa elevou o movimento em sua livraria que obteve um lucro 23% maior que em anos anteriores. “Houve um impulso nas vendas que nos ajudou a enfrentar a crise”. Outros comerciantes fazem relatos parecidos. Num momento de recessão no país, eles contam com uma compra certa no começo do ano, quando as famílias poderão renovar os materiais das crianças.

Educação em tempo integral

O ‘Eixo Ensino Médio Integrado em Tempo Integral’, tem como foco o desenvolvimento de ações educativas integradas de tempo integral para formação holística dos alunos e professores em espaços para práticas de estudos, pesquisa, formação continuada, empreendedorismo, entretenimento e lazer.

Este projeto é implementado em Núcleos de Educação Integral, que são espaços preparados para acolher alunos de diversas escolas, localizado em regiões estratégicas. E também em Centro de Educação Integral, ou seja, instalações que serão feitas nas próprias unidades de ensino.

Segundo o secretário Felipe Camarão, “o Maranhão já deu o primeiro passo em direção a uma política de Estado de Educação Integral, com a criação de unidades do Instituto de Educação de Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA), e os primeiros Centros de Ensino Médio Integral que estão em fase de instalação, além dos núcleos de educação integral”.

Formação Continuada

A Formação Continuada dos Profissionais da Educação também compõe um dos eixos do programa Escola Digna e busca a valorização do educador e melhoria da qualidade da educação. Em 18 meses, por meio desse eixo o programa alcançou mais de 4 mil horas de ações formativas nas etapas e modalidades da educação básica, com a participação efetiva dos profissionais do Sistema Estadual de Educação. O Estado implantará o Centro de Formação de Professores, com o objetivo de intensificar estas ações.

Caravana Estudantil

Depois de reconstruir e reformar escolas, fortalecer o orçamento doméstico, ampliar a carga horária com mais oportunidade na formação e valorizar o trabalho dos educadores, o desafio seguinte é formar o censo crítico dos alunos. E para isso foi criada a “Caravana Estudantil”, ação que busca ampliar a participação dos estudantes na escola e incentivar o protagonismo juvenil.

Com a Caravana, centenas de Grêmios foram fundados ou reformulados e os alunos passam a ter voz ativa dentro da escola de forma a contribuir com o desenvolvimento do ambiente escolar.

Alunos registram atividade da Caravana Estudantil / Divulgação

Para a coordenadora da Caravana Estudantil e supervisora da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), Ana Benvides, as visitas às escolas foram surpreendentes, com a participação em sala de aula e rodas de conversa. “O que nos impressiona é o protagonismo da juventude, a forma como eles tem demonstrando suas opiniões sobre questões que envolvem o ambiente escolar; então tem sido muito rico e muito feliz, visto que enquanto muita gente subestima a juventude, ela está viva, aguerrida, mostrando a que veio, participando”.

A Caravana percorreu dezenas de escolas da capital, São Luís e começou um circuito pelo interior do estado. Através deste projeto os alunos têm a oportunidade de debater temas nem sempre abordados dentro de sala de aula, como cidadania, questão de gênero, violência, protagonismo estudantil. Além disso, os jovens passam a conhecer uns aos outros e criar redes de atuação independentes.

Cidadão do Mundo

O programa Cidadão do Mundo promove o intercâmbio de estudantes maranhenses para Os Estados Unidos e Canadá para aprimorar os conhecimentos em Inglês. As primeiras turmas, que passaram três meses em Boston, nos Estados Unidos e Toronto e Vancouver, no Canadá, chegaram no Brasil em novembro deste ano.

Primeira turma do programa Cidadão do Mundo de volta a São Luís / Divulgação

A recepção das famílias no aeroporto internacional de São Luís foi um momento emocionante, principalmente porque muitos dos estudantes não teriam condições de fazer uma viagem dessas se não existisse essa oportunidade.

Para a professora Rosa Costa, mãe da estudante Gabriella Costa, de 21 anos, do Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), receber a filha depois destes três meses foi um momento de felicidade e gratidão. “Agradeço a Deus em primeiro lugar, e, em segundo, ao governador Flávio Dino. Sou professora e com a minha condição financeira jamais poderia mandar a minha filha para os Estados Unidos. Hoje estou muito feliz, porque sei que ela aprendeu muito e poderá contribuir com o nosso estado”.

Famílias no aeroporto aguardando a chegada dos filhos depois de 3 meses fora do país / Divulgação

Famílias no aeroporto aguardando a chegada dos filhos depois de 3 meses fora do país

A contrapartida dos estudantes que viajam é contribuir com a comunidade onde vivem para encerrar a participação no programa. Agora, de volta ao Brasil, eles vão desenvolver atividades multiplicadoras de conhecimento, ou seja, vão ministrar aulas, oficinas e palestras em escolas públicas com a carga horária de até 20 horas. Além disso, toda a turma se encontrou com o governador Flávio Dino para relatar a experiência.

A próxima turma embarcará no segundo semestre de 2017, depois de passar por um processo intensivo de aprimoramento do idioma no Brasil. Desta vez os destinos serão Argentina e Canadá.

Este é o resultado de apenas dois anos de uma gestão comprometida com a dignidade humana e o desenvolvimento com justiça social. Desde as crianças que estudavam em escolas de taipa e tinham reclamações do tipo “era ruim porque chovia dentro da sala de aula”, até os alunos que são enviados para fora do país, a lição que se tem é de que é possível transformar a realidade quando se faz a opção de trabalhar para as pessoas e não para o mercado.

Do Portal Vermelho

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