Um sofrimento longe do fim

Por Carlos Henrique Pianta.

Colonizado por franceses, o pequeno país caribenho foi o primeiro da América Latina a se tornar independente, no entanto, o povo haitiano nunca pode gozar dessa conquista. Sem poder econômico, bélico, industrial, o Haiti se livrou da dependência colonial direto para a dependência econômica, política e social.

Assim como a maioria dos demais países latino-americanos, a “função” do Haiti era, nada mais, que fornecer ás grandes empresas matéria prima e mão-de-obra tudo a baixo valor. A partir do final do século XIX e início do século XX empresas estadunidenses, como a United Fruit e Standart Oil, dominavam quase todos os países da América Latina, principalmente as ilhas do Caribe. Esse domínio condenou à pobreza extrema países como Bolívia, Jamaica, Cuba e Haiti. Todavia, a “colega de ilha” da República Dominicana não teve a mesma sorte que outros países que se encontravam na mesma situação. A sucessão de governos corruptos, exploração empresarial feroz e desastres naturais garantiram ao Haiti aposição de país mais pobre das Américas e um dos mais pobres do mundo.

Por conta disso, a Organização das Nações Unidas (ONU), criada após a Segunda Guerra, realiza diversas missões de ajuda ao Haiti e a outros países em situação parecida. Nessas missões o exército de algum outro lugar tem a missão de garantir ao país necessitado condições de democracia, segurança e infra-estrutura que permita que após à retiradas dessas tropas essa nação consiga se manter com as mínimas condições possíveis.

Para o Haiti, a ajuda é majoritariamente brasileira, que há anos encaminha tropas, na tentativa de auxiliar o Haiti na obtenção dessas garantias. Desde 2004, o exército brasileiro está presente incessantemente no Haiti numa missão de reconstrução social do país chamada “Minustah”. Essa presenças se intensificou no início de 2010, após os terremotos que levaram boa parte do país a baixo. Após o desastre a pouca força policial que existia foi praticamente dizimada e a condição de vida no país que eram miseráveis, tornaram-se caóticas.

Mais de dois anos depois da tragédia, a ONU tem demonstrado interesse na retirada das tropas internacionais do território haitiano, por considerar que o país está, na medida do possível, tendo retomadas as condições anteriores de sobrevivência. Mesmo com a boa propaganda que a Organização das Nações Unidas e os exércitos presentes no Haiti, existem muitas denúncias de abusos e crimes cometidos por estes exércitos, principalmente o brasileiro.

Recentemente, a Plataforma de Organizações Haitianas de Direitos Humanos (POHDH) divulgou o relatório “A Minustah e a violação dos Direitos Humanos no Haiti”. O documento responsabiliza o exército brasileiro pela morte de 74 pessoas entre os anos de 2004 e 2006. Além disso, cita detalhadamente casos mais recentes de crimes cometidos pelas Forças Armadas brasileiras, como o enforcamento de Gerald Gilles, no Cabo Haitiano, o assassinato de Widerson Gena, vitimado em uma manifestação contra a falta de respeito aos Direitos Humanos por parte dos militares estrangeiros.

Em 08 de março deste ano o exército brasileiro, que realiza treinamento de mais tropas para o Haiti, em Palhoça, na Grande Florianópolis, realizou uma entrevista coletiva na tentativa de esclarecer os casos. Os oficiais, apesar de não comentarem os casos especificamente citados, foram enfáticos no fato de que a ONU e o exército brasileiro estão fazendo de tudo para averiguar as denúncias e que até agora nada foi comprovado. No entanto a POHDH, assegura que em nenhum dos casos houve realmente um processo para que os culpados fossem punidos.

O fato é que mesmo com a saída dos militares, o Haiti estará no máximo apto a ocupar o lugar de país miserável e desnutrido que ocupava antes do terremoto, assassinos ou não, os militares e a ONU não foram capaz de buscar uma saída para uma mazela muito pior que o terremoto, que é a fome, a pobreza, a doença.

Imagem: gremiocem2.wordpress.com

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