Um quarto de tempo


Por Luciane Recieri.

Trocaram o rosa e o branco pelo gris. Diluíram tudo de repente e o prato que te estendes já não alimenta: mastiga areia e cal e se faz de feliz, querendo crer que seja algo bom e doce, mas morre aos poucos da suave ternura que te deram de presente.
Deixaste algo em branco para que te ocupasses?
Deixaste?
Deixaste?
Deixaste?
Não!
Avisei-te. E agora?
Tudo ocupado. Cada pedaço de chão, de jardim, de rua. Ocupaste primeiro tudo em ti, depois alugaste todos os cômodos. Todos! Até os pequenos e mais baratos pelos arredores de tua casa para que fossem satélites e ficassem à mão – ocupadas e vazias. Na casa não há provisões, apenas areia e cal. Areia quente na hora do sol alto e fria na hora em que não há nada que te aqueça.
Cal é a tua provisão, te corta a boca e, se bem me lembro, fermenta, então parecerás morrer ou talvez só um tanto louca e vazia.
Ocupada e vazia.
Vazia.

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