Tudo que você precisa saber sobre o surto de febre amarela

Por Brunno Marchetti.

Para começar: só vá tomar a vacina se estiver em área de risco.

Dias atrás falamos que não é para entrar em pânico com os casos de febre amarela no Brasil. O diagnóstico, reforçado por médicos e epidemiologistas, foi de que o surto atual não é tão grave quanto o de 2017. Havia — e ainda há — boas chances do avanço ser controlado.

Ainda assim, a situação não é tranquila. Hoje a OMS expandiu as áreas de risco no país e, em resposta, muitos estados iniciaram programas de vacinação. Como era de se esperar, a desinformação e a insegurança espalharam medo pelas redes sociais. No meio do caminho, muitas dúvidas surgiram. Qual a verdadeira dimensão do surto? Eu, leitor, devo me vacinar?

Para responder essas e todas as questões sobre o tema que chegaram até nós, fizemos uma singela lista. A primeira, como você deve estar pensando, é…

….É para ficar preocupado ou é mais alarme falso?

Sim, cara, é motivo de preocupação.

A febre amarela é uma doença endêmica da região Amazônica, que esporadicamente, com intervalos irregulares, têm surtos na sua forma silvestre. Esses surtos mais ou menos graves em relação ao número de pessoas afetadas pela doença. Mesmo sem atingir grande parcela da população, a doença é letal em 51% dos casos mais graves — que acaba se desenvolvendo em cerca de 15% das pessoas que contraem a doença —, segundo dados do Ministério da Saúde.

A situação é mais preocupante no surto atual porque a doença está mais próxima de áreas de grande concentração populacional, como a região metropolitana de São Paulo. Até o momento, só foi confirmada a transmissão da doença na fase silvestre, pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes. A fase urbana, quando a doença é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, ainda não foi registrada, mas é preocupante devido à grande disseminação do mosquito nas cidade.

Xiii. E qual o tamanho do surto?

Até o momento, os números nacionais são baixos se comparados ao surto do ano passado. Segundo os dados coletados pelo Ministério da Saúde divulgados nesta terça-feira, 16, até o momento foram confirmados 35 casos da doença, dentre esses 20 óbitos confirmados. A situação ainda não é tão preocupante como o que aconteceu no último surto da doença, quando foram registrados 777 casos confirmados e 261 óbitos.

A gravidade da situação é sentida mais intensamente em áreas que a doença não costuma atingir, como a cidade de São Paulo, que têm seu pior surto registradoem décadas.

Certo, mas não dava pra ter feito nada antes?

Apesar do clima de preocupação nas cidades que antes não tinham que se preocupar com a doença, segundo o Ministério da Saúde, as providências que estão sendo tomadas agora estão antecipando uma situação mais grave.

O coordenador de Vigilância e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio da Cunha, compartilha dessa opinião. Conforme explicou ao Motherboard, a situação estava sendo acompanhada pelo governo e órgãos responsáveis e só atingiu o ponto em que é necessário tomar providências. Segundo ele comentou, o sinal de alerta foi dado no estado de São Paulo com os casos registrados em Mairiporã.

Quais as principais áreas de risco?

Apenas os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe não estão na zona em que a vacinação é recomendada. Todos os outros ou são áreas com recomendação permanente de vacinação ou com recomendação temporária.

No último dia 8, o Ministério da Saúde divulgou que vai iniciar uma campanha de vacinação em alguns municípios do estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, áreas que entraram neste ano na área de recomendação.

Qual a causa da expansão da área da doença?

Não existe consenso em relação às razões que levaram ao aumento da área afetada pela febre amarela. As principais hipóteses vão desde mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global, que teriam favorecido as espécies de mosquitos transmissores da doença, possíveis migrações de grupos de macacos contaminados, até o desastre ambiental de Mariana.

Como que se pega febre amarela?

A doença é transmitida por meio da picada de mosquitos infectados. Na fase silvestre, os mosquitos transmissores são Haemagogus e Sabethes, que picam macacos infectados pelo vírus e contaminam seres humanos. O ciclo é considerado menos grave devido ao menor potencial de transmissão entre humanos.

No ciclo urbano, quando a situação é mais tensa, o mosquito Aedes aegypti, pica um humano infectado e transmite a doença para outros de forma muito semelhante ao que acontece com dengue e chikungunya.

Ainda que o impacto em seres humanos na fase silvestre seja menor, ela causa grandes impactos nas populações de macacos. Até o momento foram registradas 411 epizootias (animais doentes), e na cidade de São Paulo a doença dizimou a população de macacos bugios no parque Horto Florestal.

Quem deve tomar a vacina?

As pessoas que passaram por, vivem ou vão visitar áreas em que a vacinação é recomendada devem tomar a vacina. As contra indicações são somente para: bebês com menos de seis meses, pessoas com o sistema imunológico muito comprometido, gestantes — com exceção das que vivem em área de risco extremo

Como é a vacina?

A vacina é aplicada via injeção intramuscular, normalmente aplicada no braço do paciente. São distribuídas em pequenas ampolas contendo 5ml que contém o vírus atenuado, ou seja, em uma forma que não represente risco à saúde. Ao ser aplicada, a vacina demora dez dias para imunizar a pessoa que receber a dose.

A vacina pode provocar um pouco de dor e inchaço na área em que foi aplicada, em alguns casos febre e mal estar, mas esses são efeitos raros. Na maioria dos casos ela não apresenta nenhum efeito colateral.

O que é esse lance de vacina fracionada? Estamos com pouca vacina?

Não, não estamos com pouca vacina. O fracionamento das doses da vacina é uma medida emergencial que está sendo adotada pela segunda vez no mundo. A primeira vez foi na epidemia que atingiu a região central da África em 2016. Segundo informou o ministro da saúde, Ricardo Barros, em coletiva de imprensa no último dia 8, o atual fracionamento das doses têm por objetivo imunizar a maior população possível em um curto espaço de tempo, sem comprometer os estoques da vacina.

Uma dose da vacina pode ser fracionada em até cinco doses de 1ml. A eficácia da proteção da dose fracionada foi confirmada por até oito anos, o ministério da saúde recomenda que após esse período seja tomada uma dose definitiva.

Uma vez que a doença é contraída, o que acontece?

Depois de picado pelo mosquito, o vírus invade os vasos linfáticos e caem na circulação. Dessa forma, infectam células dos rins, fígado, coração, pulmões e sistema digestivo — em alguns casos chegando a infectar as células cerebrais. A pele e os olhos da pessoa contaminada adquirem tom amarelado, o que ajudou a nomear a doença.

Os sintomas podem variar bastante. Em casos menos graves podem ser registradas dores de cabeça e musculares, enjoo, perda do apetite e febre. Em geral estes sintomas aparecem três dias após a picada do inseto. Em casos mais graves, além de febres altas, pode levar a falência de rins e fígados matando o paciente em poucos dias.

Existe tratamento para febre amarela?

Não existe medicamento que combata o vírus diretamente, o tratamento consiste em manter o paciente estável e com remédios que combatam os sintomas. Nos casos mais graves, podem ser necessárias transfusões de sangue e hemodiálises.

Por isso, nesse caso, a prevenção ainda é a opção mais interessante.

Onde posso tomar vacina?

A vacina é distribuída gratuitamente pelo SUS em postos de saúde. Ela pode ser tomada nos postos de vacinação indicados nos Estados. Para mais informações é necessário consultar os serviços de saúde da sua cidade.

Fonte: Vice Brasil

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