Trump vencerá as eleições. Por Carlos Serrano.

Por Carlos Serrano.

Substituindo a realidade pelos desejos, a comunicação social e os comentadores políticos preveem a vitória de Biden. Métodos incorretos dos institutos de pesquisa e leitura equivocada do processo de escolha do eleitorado aumentam a confusão. Trump vencerá devido à economia, ao atraso de consciência popular e à estrutura das eleições (incluindo o voto por correspondência).

Como há quatro anos, a esmagadora maioria dos institutos de pesquisa de opinião pública, dos meios de comunicação social e dos comentaristas, aponta uma vitória do candidato democrata. Naquela feita era Hillary Clinton, agora Joe Biden. Tal como há quatro anos, eles errarão. Gostemos ou não, será Donald Trump quem será eleito, de novo. O diferente é que, seguindo o dito popular, “cautela e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém”, estes ao menos trabalham com o cenário hipotético de que Biden poderia vencer e não assumiria por manobras do Trump e da Suprema Corte. Alguns preferem cogitar uma improvável guerra civil a aceitar uma vitória nas urnas do republicano, mesmo que esta se dê apenas no Colégio Eleitoral e não no voto popular. É um absurdo enorme, pois a hipótese de uma guerra civil esquece um detalhe: o “bom velhinho” Biden não teria capacidade, nem a vontade, de dirigir uma resistência armada se isto ocorresse. No máximo ocorreriam explosões sociais, tendo em vista a falta de direção organizada que existiria. O establishment dos Democratas teme mais uma mobilização popular fora de seu controle, ou indo muito além de seu programa centrista-neoliberal, do que teme o governo Trump. Se não fosse assim, não teriam indicado Biden no lugar de Bernie Sanders, o único candidato capaz de derrotar o atual presidente.

Assistimos a uma combinação de três fenômenos. O primeiro é um viés de análise muito comum, que os estadunidenses chamam de wishful thinking, o nosso famoso ‘pensamento positivo’ ou ‘pensamento ilusório’. Isto ocorre quando tomamos nosso desejo por realidade. Um viés que está tanto na análise da maioria da esquerda estadunidense, incapaz de reverter a situação atual, como na do centrismo-neoliberal do partido Democrata, preocupado com os rumos dados por Trump. Os democratas rejeitam em particular a política externa trumpista e seus efeitos deletérios para a projeção do poder imperial estadunidense, bem como afeta os interesses de alguns grandes monopólios, tais quais os tecnológicos e financeiros.

O segundo refere-se à forma de realização das pesquisas eleitorais. Na última eleição, o único instituto estadunidense que acertou a vitória de Trump foi o Trafalgar Group. Isto não foi uma casualidade: conseguiram desenvolver uma metodologia que burla o que eles chamam de Social Desirability Bias, (em português, viés de desejabilidade social), ou seja, que frente ao entrevistador o entrevistado procura responder conforme o que ele acredita o primeiro gostaria de ouvir. Em reportagem, o dono deste instituto explicava com um exemplo simples:

“Se uma avó diz que o neto dela é bonito, você não responde que ela está enganada, que ele tem uma aparência estranha ou doentia. Trump tem sido apresentado pela imprensa, à qual a população associa os pesquisadores, como um líder racista, entre outros atributos repreensíveis. Muitos entrevistados temem as consequências de confessar que votarão nele, argumenta Cahaly”.

Este viés é muito forte nos tempos que correm. Ainda mais, em nossa opinião, devido a lógica das redes sociais que conformam o debate político contemporâneo, em que há uma preocupação pela aceitação dos outros, onde nossas opiniões são amplificadas e julgadas em praça pública. Muitos que votaram em Trump quatro anos atrás, e votarão de novo agora, têm vergonha, pela pressão social, de declarar seu voto. Isto representa certo avanço civilizacional no espaço público, que corretamente rejeita em sua maioria concepções racistas, xenófobas, sexistas e fascistas abertas. Isto é progressivo frente ao passado, onde massas seguiam e defendiam líderes fascistas de forma fanática (ainda que esta postura ainda exista em ala minoritária da sociedade). Contudo, se não for levado este viés em consideração, isto impede que leiamos corretamente a realidade, e surpresas aparecem. Grande exemplo disto foi a eleição para governador do Rio de janeiro em 2018, onde venceu um candidato com perfil local similar ao Bolsonaro e Trump, Wilson Witzel, mas que não aparecia como favorito, nem mesmo nas primeiras posições. Não só venceu, como já passou para o segundo turno em primeiro, com 41,28% dos votos válidos.

Ao invés de inventar teorias conspiratórias fantasiosas como uma suposta intervenção russa, é melhor procurar meios de superar este viés. Isto não descarta o papel de manipulação das redes sociais pela Cambridge Analytica. A forma que o Trafalgar Group encontrou pode ser lida brevemente aqui em seu site. Basicamente, como explica a mesma notícia referida anteriormente:

“Suas entrevistas são curtas. Apenas cidadãos muito politizados aceitam responder a longos questionários, o que desvia o resultado da pesquisa, diz ele. Mesmo sendo poucas, as perguntas procuram identificar possíveis contradições: preferências do entrevistado em outras áreas, como programas de rádio e TV, que não batem com a escolha alegada de um candidato ou partido”.

E os resultados de suas pesquisas apontam que Trump vencerá nos Estados-chave.

O terceiro e maior equívoco de análise não se refere apenas às análises eleitorais, mas com uma forma de enxergar o processo de consciência que recai no biologismo ou no economicismo. É a concepção identitarista, que distorce concepções como local de fala, e propõe uma concepção mecânica entre ser e consciência. Por exemplo, uma mulher, por ser mulher, defenderia mecanicamente políticas feministas; um negro, por ser negro, seria antiracista, e por aí vai. A origem dessa concepção é uma infiltração do pensamento liberal nos movimentos anti-opressão, que serve, pelo oposto dialético do anterior, para dividir os oprimidos e explorados, pois coloca que um branco, por ser branco, não poderia ser antirracista, ou um homem, por ser homem, não pode ser feminista. Esta é a velha tradição contra qual, por exemplo, Lênin se bateu no início do século XX, a do economicismo (que tratava de forma mecânica a relação entre a classe operária e sua consciência). Porém, não é necessário ser leninista para criticar e entender um equívoco como este. Não é necessário nem mesmo ser marxista. Isto é o que ensina a psicanálise sobre a relação entre consciência e inconsciência, sobre a não-racionalidade absoluta das escolhas dos indivíduos. O que o marxismo mostra, é que esta não-racionalidade nas escolhas, o processo ideológico, estende-se a grandes grupos sociais e classes.

Se a existência determina em última instância a possibilidade de consciência de suas necessidades históricas, isto é apenas em última instância. Muitos elementos intervêm nessa relação. Para os setores dominantes da sociedade, não há grande problema, pois as ideias dominantes do tempo refletem seus interesses, mesmo que nem sempre os interesses particulares, mas sempre seus interesses coletivos. Contudo, por isso mesmo, para os setores oprimidos, explorados, populares, o que determina a aproximação entre sua realidade imediata e seus interesses históricos, é seu nível de organização e o caráter de suas direções, que os influenciam e dirigem. Sem isto, o máximo que podem alcançar são os seus interesses corporativos, e estes podem contrariar seus interesses sociais históricos, podendo levar à divisão dos setores populares.

É verdade que ninguém fez mais pelo avanço das mobilizações e organização popular que a repulsa a Trump. Contudo, estas se dão sob três limites. O primeiro, é que não alcançam o conjunto da classe trabalhadora, apenas os setores mais oprimidos no aspecto racial, sexual e de gênero. Isto se dá por ocorrem sob a influência de concepções identitárias. E isto ocorre, por sua vez, pelo segundo grande limite: a direção ainda é majoritariamente exercida pelo centrismo-neoliberal democrata, quando muito com ultra-esquerdistas aqui e ali, localmente. E, em decorrência disto, os maiores bastiões operários permanecem no nível de consciência corporativista. Este processo de rebaixamento da consciência se deu pela eliminação quase total das direções comunistas e mais avançadas sob a perseguição do macarthismo, nos anos cinquenta. Ainda que tenha sido revertido parcialmente com a luta pelos direitos civis dos negros e pelo movimento contra a Guerra do Vietnã, consolidou-se completamente a partir da vitória neoliberal de Reagan em 1980 e a derrota dos setores comunistas pelo restauracionismo capitalista de Gorbachev-Iéltsin na URSS, que promoveu um retrocesso mundial.

É este corporativismo que explica a vitória de Trump há quatro anos e nesta eleição. É o corporativismo da classe operária do cinturão de ferrugem (Rust Belt), que até os anos setenta era conhecido como cinturão das manufaturas (Manufacturing Belt), abandonada pelos governos republicanos e democratas. São os deserdados do neoliberalismo e da deslocalização das empresas. Trump venceu e vencerá de novo, por tentar, ainda que de forma atabalhoada, abrutalhada, desastrada, muitas das vezes mais no discurso que na prática, fazer o oposto dos democratas – e do stablishment republicano – reverter a globalização, defender a indústria e o emprego destes operários (brancos). É também o corporativismo dos rednecks, brancos pobres do Sul, do interior, que seriam os caipiras no Brasil ou saloios de Portugal, mas conservadores, profundamente conservadores. Estes não foram percebidos nas últimas pesquisas, anos atrás, e a ampliação de seu peso entre os entrevistados foi talvez a única melhoria que os institutos implementaram de 2016 para cá.

O que fez Trump foi reavivar a aliança que esteve na base eleitoral dos democratas durante quase cem anos após a Guerra Civil: a aliança dos conservadores e racistas do Sul e dos operários corporativistas do Norte. Estes últimos não queriam a igualdade dos negros, para diminuir o risco de concorrência com eles no mercado de trabalho, que temiam rebaixaria suas condições de vida. Durante esse período, os democratas do Sul foram a principal força a defender a segregação racial, as chamadas leis de Jim Crow. Isto enquanto os democratas do Norte eram apoiados massivamente pelo operariado – e por isso a reação extremada destes contra o crescimento dos comunistas no movimento operário e na política externa. O caso exemplar foi Woodrow Wilson, presidente entre 1913 e 1921. Este, além de participar da invasão externa à Rússia contra os bolcheviques, era simpático à KKK. Organização esta que muitos democratas do Sul fazia parte ou eram líderes. O primeiro senador a ficar mais de cinquenta anos nos EUA, o democrata Robert Byrd, foi um conhecido membro desta organização. Em Congresso do partido democrata, no início do século XX, uma moção contra a Ku Klux Klan foi rejeitada. Voltando ao Wilson, ele foi responsável por re-segregar agências governamentais, inclusive deixando de indicar negros para cargos que já eram tradicionais, como o de embaixadores no Haiti e em Santo Domingo (atual República Dominicana). Na verdade, desfez avanços que foram realizados por governos republicanos anteriores, como de Theodore Roosevelt e William Howard Taft. Na Convenção de Versalhes, manobrou para impedir a aprovação de uma resolução proposta pelo Japão que reconheceria o princípio da igualdade racial.

O início da desegregação no Sul começaria de fato em 1957, com a crise dos nove de Little Rock. Estes eram estudantes negros que foram impedidos, apesar da decisão Suprema Corte em 1954 contra isto, de assistirem aulas em escola apenas para brancos. A favor da segregação se ergueu Orval Faubus, o governador do Arkansas, do partido democrata. E quem federalizou a Guarda Nacional dos Arkansas para garantir o direito destes nove estudantes foi o presidente republicano Eisenhower. A crise iria se aprofundar, abrindo a cisão entre os democratas do Norte, que iriam passar a apoiar o fim da segregação, e os do Sul, que iriam até o final em sua defesa. O projeto de lei que em 1964 poria fim à segregação racial legal (não a real, que ainda permanece em várias áreas) teve como opositores ferrenhos os senadores democratas do Sul, que usaram mecanismos de protelamento da votação, com discursos e mais discursos, adiando em sessenta dias, recorde até hoje em filibuster (o nome que esta tática recebe nos EUA). A partir daí, os democratas do Sul ou se ajustaram (a minoria) ou abandonaram a política ou, o que ocorre em muitos casos, se tornaram republicanos. Foi assim que o domínio republicano sobre o Sul dos EUA se estabeleceu. Contudo, o que isto revela é a manutenção de certa mentalidade conservadora e racista nestes Estados, que mudaram de partido para manterem a estrutura social e política.

A novidade de Trump, como referi, foi ter sido capaz de conquistar a classe operária do Norte, e assim reeditar a aliança democrata do passado. Trump é um novo Woodrow Wilson, mas em um período de decadência dos Estados Unidos, não de auge. Por isso, ao invés de defender um intervencionismo, é um isolacionista – o que neste momento de integração econômica mundial significa chocar-se com o resto do mundo, contraditoriamente, acabando por intervir para isto.

Porém, para além destes corporativismos dos operários brancos do norte e os rednecks do sul – e a classe média dos subúrbios por toda parte – há também o corporativismo dos imigrantes hispânicos. Corporativismo não só dos filhos dos privilegiados cubanos e venezuelanos que emigraram por sentirem-se prejudicados pelos processos de transformação social em Cuba ou Venezuela. Falo também da maioria de homens hispânicos que irão votar em Trump nesta eleição. Por mais bizarro que possa parecer, tendo em vista sua política imigratória contra hispânicos, isto se dá por um fenômeno que eu chamaria de “fechar os portões depois de entrar”. É o mesmo fenômeno que explica que, em 2015, um quarto dos luso-descendentes candidatos em França concorresse pela extrema-direita Frente Nacional. Exemplo deste fenômeno é o ex-lutador de MMA, filho de mexicanos, Henry Cejudo, que apoia Trump. Os imigrantes que conseguiram se estabelecer querem, pela mesma lógica dos estadunidenses que já vivem lá há gerações, evitar que mais imigrantes entrem e assim estabeleçam concorrência e ameacem as posições que já alcançaram na sociedade americana. Trump sabe disso: se combate os que chegam, acena para o corporativismo dos que já estão. Por exemplo, com a liberação para que os pais possam escolher as escolas públicas que desejam, não necessariamente às de suas vizinhanças, o que agradou muitos hispânicos. Lembrando que nesta eleição a maior minoria já não serão os negros, mas os hispânicos.

O mesmo pode ser visto junto aos negros. Se entre os mais jovens desenvolve-se uma forte mobilização – inclusive com o apoio e participação de brancos e hispânicos – há um grande eleitorado mais velho que é conservador. Além disso, nesta lógica corporativa, a ascensão de uma classe média negra ocorreu muito por dentro da própria comunidade, como resultado da própria segregação (antes legal, hoje real), que criou espaços para ascensões dentro destas comunidades. Isto significa que uma mudança profunda na estrutura social em relação ao conjunto da comunidade prejudicaria este setor, pois estabeleceria uma concorrência geral na sociedade, de elites externas à comunidade atual.

Um fator que joga favoravelmente a Trump, – e que tem beneficiado desde o início dos anos 2000 aos republicanos, como Bush, já sendo apontado pelo Pew Research Center em 2004, é o crescimento do apoio da comunidade evangélica, em particular branca, para os republicanos. Como afirmava o Pew Research, se o crescimento destes não foi grande no conjunto da população (de 19% em 1987 passou a 23% em 2004), a coesão política e mobilização destes cresceram: a maioria dos evangélicos do Sul, que votava no Partido Democrata, desde este período bushiano passa a apoiar os republicanos, convergindo com a posição dos seus congêneres do Norte. E, como já disse em artigo de 2018 na Princípios,

“é preciso entender o diferencial destas seitas [evangélicas] para as igrejas protestantes tradicionais, bem como em relação às outras igrejas e religiões, como o judaísmo, o catolicismo, o cristianismo ortodoxo, o islamismo e o hinduísmo e as religiões de matriz africana, por exemplo. Estas têm origens pré-capitalistas ou, no máximo como os protestantes tradicionais, emergiram na transição para o capitalismo, por isso possuem contradições com o capitalismo, tendo assistido ao longo de tempo a emergência de ramos progressistas. O neopentecostalismo, porém, surge já no período de decadência capitalista, nos anos 1960 e 1970, na grande potência imperialista de nosso tempo, os Estados Unidos. O neopentecostalismo é a religião do imperialismo: congrega ao mesmo tempo uma Teologia da Prosperidade e uma defesa do individualismo econômico e social com movimentos de diluição dos indivíduos em grandes massas; possui práticas marcadamente irracionalistas, . . . além de um forte discurso moralista conservador. Como se nota é, também, claramente, a única religião intrinsecamente fascista”.

Foram e são a base do Tea Party, o movimento pai do trumpismo.

As manifestações de massa antirracismo não deverão derrotar Trump: fundamentalmente, são feitas pelos jovens, e estes não devem conseguir alterar o resultado geral. Mais do que isso: fere a suscetibilidade dos operários mais conservadores, às classes médias dos subúrbios, dos rednecks e do evangélicos, reforçando a posição deste bloco histórico favorável ao Trump, ao seu discurso de lei e ordem, e mobilizando-o. Neste caso, Trump deverá ser como um presidente republicano do passado: Richard Nixon elegeu-se sob a base deste discurso no auge das manifestações antirracismo do final dos anos sessenta.

Mas os maiores trunfos de Trump se dão em dois campos: a economia e o institucional. A economia, pois todos os dados, à exceção do primeiro semestre deste ano, foram de crescimento econômico e geração de empregos. Se não é verdade que foi o melhor momento da história estadunidense, como agita Trump, isto nada importa para os milhões que conseguiram trabalho e viram seus salários aumentados consistentemente. Em Fevereiro deste ano a taxa de desemprego era de apenas 3,5%, a menor em cinquenta anos. E como a política, tal qual futebol, é momento, pois o alcance da memória popular é curto, a percepção, depois da queda catastrófica no início da pandemia (31,4% do PIB no segundo trimestre) é de recuperação neste momento próximo das eleições: no terceiro trimestre a subida foi de 33,1% do PIB. Claro que a melhoria da economia nos anos Trump não foi igualitária, como referia uma matéria da BBC: “Em 2019, enquanto 10,5% da população era definida como “vivendo na pobreza”, a taxa para americanos negros era de 18,8% e para americanos brancos (não hispânicos) era de 7,3%”. Mas, até estes dados são positivos para Trump: a sua base eleitoral foi a mais beneficiada.

Por fim, o fator institucional. Como já foi dito, e repetido, à exaustão, e por isso não desenvolverei, a maioria da Suprema Corte é favorável ao Trump. Ou seja, se houver dúvidas e o resultado chegar lá, Trump levará. Contudo, há outro fator importante, que liga-se a este: o voto por correspondência. Por causa da pandemia – que considero a gestão da mesma não terá impacto determinante nas eleições – o voto por correspondência aumentou substancialmente. E aqui está uma chave para o resultado. A maioria dos eleitores de Trump é composta de negacionistas da pandemia, por isso, mais propensos a irem votar presencialmente. Propensão estimulada pelo próprio Trump ao agitar o risco de fraudes pelo voto por correspondência, que segundo ele sugere, seriam benéficas aos democratas. Já os eleitores democratas tendem a votar muito mais antecipadamente. A questão que se coloca é que Trump, deliberadamente, está a atuar para sabotar a contagem dos votos por correspondência, trabalhando para que sejam descartados. Para isto, conta com a ajuda de um processo histórico de subfinanciamento dos correios estadunidenses e, ainda mais, pela nomeação em Junho de Louis DeJoy como o responsável nacional pela instituição. DeJoy é um importante doador e apoiador de Trump, que claramente está a cortar custos e prejudicar o funcionamento dos correios, por exemplo, cortando horas extraordinárias dos trabalhadores, tornando mais lenta a entrega postal, já prejudicada pela pandemia. Trump, por exemplo, opôs-se a um fundo emergencial para este serviço. Por exemplo, há analistas apontando que na Flórida, Geórgia e Arizona, Biden perderia um grande número de votos por correspondência que não chegarão a tempo de serem contados. Nisto aposta Trump, seja para reverter Estados, seja para ampliar suas margens de vitória. E nisto a Suprema Corte já está a trabalhar, inclusive com critérios distintos – aproveitando-se da realidade da eleição estadunidense ser uma colcha de retalhos de regras díspares: esta decidiu nos casos de

“. . .  Pensilvânia e do Wisconsin, dois estados decisivos nestas eleições, . . . que, no primeiro caso, podem ser contabilizados os votos que cheguem por correio até três dias depois das eleições, enquanto no segundo caso os boletins que cheguem após 3 Novembro não podem ser contados, mesmo que enviados antes dessa data”.

Ora, se apanharmos os últimos resultados do Trafalgar Group para o estados decisivos, na Pensilvânia Trump vence por uma pequena margem e no Wisconsin ele perde para Biden.

Por tudo isso, arrisco afirmar que Trump vencerá as eleições. Sobre o que sairá disto, bem, já é matéria para um próximo artigo.

P.S.: O positivo da profissão de cientista político é que não sendo esta uma ciência exata, afinal, tanta coisa pode acontecer no meio do caminho que pode afetar o resultado, normalmente, se errarmos, ninguém lembrará, mas se acertarmos, ninguém esquecerá. É esta gentileza que peço aos leitores…

A opinião do/a autor/a não necessariamente representa a opinião de Desacato.info.

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