Trump não garante isenção ao aço brasileiro e exige redução de exportações

Foto: Reprodução

Por André Augusto.

A saga para mostrar suficiente servilismo aos Estados Unidos e, com isso, garantir a isenção das taxas de importação do aço, não terminaram para o governo golpista de Temer.

Em reunião com o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, o secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, afirmou que a maneira mais rápida de o Brasil conseguir isenção permanente das tarifas sobre o aço brasileiro é concordar com restrição voluntária de exportações e estabelecimento de cotas, semelhante ao que foi negociado pela Coreia do Sul.

Ou seja, por ora, não há previsão de isenção das taxas de 25% sobre a importação do aço brasileiro, o que golpeia um dos principais produtos de exportação nacional.

Brasil, Coreia do Sul, Argentina, Austrália e UE tiveram as tarifas de 25% sobre aço e 10% sobre o alumínio suspensas até 30 de abril, enquanto negociam a exclusão definitiva das sobretaxas. Os EUA são os maiores compradores de aço brasileiro, e as tarifas podem gerar perda anual de US$ 1,1 bilhão.

A Coreia do Sul fechou um acordo se comprometendo a não ultrapassar uma cota equivalente a 70% da média exportada nos três últimos anos. Além disso, abriu mais seu mercado para a importação de carros dos EUA. Com isso, teve as tarifas suspensas.

Ross teria reconhecido a posição singular do Brasil e a complementaridade no setor do aço. O governo brasileiro argumenta que as sobretaxas sobre seu aço vão prejudicar diretamente as siderúrgicas americanas. Elas compram do Brasil mais de 80% do produto sob a forma semiacabada para transformar em peças e vender a fabricantes de eletrodomésticos, automóveis e outros. Além disso, o Brasil importa US$ 1 bilhão em carvão dos EUA, usado na fabricação de aço.

O governo Temer resiste em concordar com redução voluntária de exportações, que reduziria os lucros para a patronal do setor – grande fomentadora do golpe institucional – e não cogita fazer concessões em outros produtos fora da cadeia do aço.

Se não fizer a concessão de redução das cotas de exportação, o setor siderúrgico brasileiro estará na guilhotina da ampla guerra comercial movida por Donald Trump contra aliados e adversários. O Brasil sofrerá impacto imediato: é o segundo maior exportador de aço para os EUA (atrás apenas do Canadá) e as vendas para o país representam um terço das exportações brasileiras do produto.

Este resultado frustraria as otimistas previsões econômicas da Confederação Nacional da Indústria, que projeta crescimento do PIB de 2,6% esse ano no Brasil. De igual modo, a previsão de aumento de U$S2 bilhões em exportações – que incluem o aço – e o saldo positivo de U$S 58 bilhões na balança comercial poderiam ser afetados.

Nos bastidores, o setor siderúrgico e o Planalto se encontram empurrados entre a espada e a parede. Os planos de melhora na economia nacional não contavam com a proeminência do nacionalismo econômico de Trump, que veio dissipando o papel de guardião do comércio multilateral e reestruturando a cadeia comercial mundial de acordo com os interesses estadunidenses (obrigando as demais nações a fazer o mesmo). Esta alavanca protecionista tem como principal alvo a China, que recebeu tarifas de 25% em exportações que montam o valor de U$S 60 bilhões.

Para o Brasil, entretanto, a possível guerra comercial entre EUA-China pode ser benéfica. A ameaça da China em taxar a soja estadunidense como represália lançou às alturas o preço da soja brasileira, abrindo novos canais para as exportações de grãos nacionais. 47% das 114 milhões de toneladas de soja produzidas no Brasil foi exportada para a China em 2017. No mesmo ano, apenas 31% das 116 milhões de toneladas de soja produzidas nos EUA chegou à China.

A China já é a principal parceira comercial do Brasil, e as tarifações de Trump podem acelerar o processo de entrada do gigante asiático na América Latina. A China já possui enorme gama de negócios com o Brasil no campo elétrico, detendo larga cota de ações na CPFL e disputando lugar na privatização da Eletrobrás pelo governo golpista.

Seria inusual ver os EUA assistir de braços cruzados essa transferência de mercado para o Brasil, que tentará golpear de outro modo – além da tarifação sobre o aço. Se a China mira a eletricidade nacional, Washington quer arrebatar a estrela industrial brasileira, a Embraer, para a Boeing.

Isenção em troca de posições estratégicas para o imperialismo?

A continuidade do golpe institucional no Brasil, que teve seu símbolo na prisão arbitrária de Lula, não está divorciada das medidas de chantagem das potências estrangeiras para devorar setores inteiros das antigas “global players” tupiniquins. Ainda que Lula não tenha feito nenhum desafio direto ao capital estrangeiro e tenha feito lucrar como nunca o grande capital financeiro, tentou ganhar certa autonomia para o desenvolvimento de setores da economia nacional, ameaçando converter-se em “potência regional”.

Não é impossível que o governo Trump esteja movendo as peças para conseguir, em troca da isenção das taxas sobre o aço, posições estratégicas na infra-estrutura nacional, de maneira combinada à reacionária Lava Jato que vai abrindo aos mercados internacionais os setores petroquímico e da construção civil.

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