Transformação social é tema de discussão no I Simpósio Internacional de Comunicação

Por Julia Saggioratto, para Desacato.info.

Mídia parcial, que assume seu lado. No caminho desta perspectiva caminharam as discussões de encerramento do I Simpósio Internacional de Comunicação realizado em comemoração aos 10 anos do Departamento de Comunicação do campus Frederico Westphalen da Universidade Federal de Santa Maria. O penúltimo espaço do SIC, que aconteceu entre os dias 22 e 24 de agosto no campus da UFSM Frederico Westphalen, foi com Luiz Carlos Damasceno Jr., integrante da rede de comunicadores Mídia Ninja, e teve o tema “Ninja: narrativas independentes contra o golpe em Porto Alegre”. Luiz é integrante do Ninja Sul e apresentou relatos de sua trajetória iniciada este ano na rede, em manifestações em oposição ao golpe contra a presidenta Dilma e em mobilizações e ocupações dos secundaristas em Porto Alegre.

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Luiz Carlos Damasceno Jr., integrante da rede de comunicadores Mídia Ninja. Foto: Comunicação SIC.

Em seguida as professoras de comunicação Maria Helena Weber, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Christa Berger, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos iniciaram sua fala com o tema “Processos de comunicação e de transformação social”, mesmo tema do evento. Christa falou sobre a tecnologia, que afeta a tudo e todos/as, afeta a cultura, afeta o jornalismo. Ela questionou sobre as consequências da aceleração do tempo em nossa vida e onde se encontra o jornalismo neste contexto. Neste cenário os grandes meios de comunicação perdem o poder de únicos detentores da circulação da informação, desta informação que, segundo ela, está legitimada dentro do sistema democrático e ameaça a sobrevivência dos valores, pois se caracteriza como inimiga íntima da democracia.

A jornalista comentou que não tomamos nenhuma decisão sozinhos, pois estamos cercados por mídias falando dia e noite a mesma coisa. Por este motivo precisamos criticar como são feitas as coberturas midiáticas, criticar o que, de fato, acontece, e criticar como o conhecimento vem nos sendo dado. Christa trouxe como exemplo de mídia a ser criticada a revista Isto É, com a reportagem intitulada “As explosões nervosas da presidente”, publicada em abril deste ano. Os relatos da matéria trazem momentos íntimos de Dilma e só poderiam ser descritos, como foram nesta reportagem, que, inclusive, não possui fontes, por alguém que esteve junto a presidenta. A pesquisadora Christa comentou que a presidenta foi chamada de louca na reportagem e que isso aconteceu somente por ser uma mulher ocupando o cargo de presidenta da república, já que historicamente as mulheres são consideradas pela sociedade machista como irracionais e descontroladas.

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Diálogo envolveu o assunto sobre a transformação social por meio da comunicação de resistência. Foto: Comunicação SIC.

Christa considera que o jornalismo em uma democracia precisa atuar contra os poderosos, ser um jornalismo honesto, quando não está nesta posição, este é um jornalismo corrupto. Ela comentou que viveremos em um momento da verdade quando se iniciar o exercício da crítica, para ela somos testemunhas de uma transformação em curso e temos responsabilidade em ter esperança. Christa acredita que “outra coisa” vem vindo, gente jovem produzindo e pensando, e citou o exemplo da rede Mídia Ninja.

Em seguida a comunicadora Maria Helena Weber iniciou falando sobre o ensino público como essencial para a transformação social. Segundo ela, o silenciamento e o controle também ocasionam em transformações sociais, e questionou onde estão os processos de comunicação neste contexto, da comunicação que salta a partir de nossas realidades, em que questionamos a família, a Igreja, e mesmo a comunicação. Maria Helena comentou que guerras e lutas tem a capacidade de promover grandes transformações, assim como a informação, quando estabelece relações de mudança. Para ela os movimentos que ocorrem dentro da universidade são muito importantes para as transformações sociais, mas não podem se fechar em uma sala.

A professora comentou, assim como Christa, que há uma outra comunicação que vem vindo e que nos mostra que existe algo latente. Ela falou sobre excessos religiosos, que trazem uma discussão de conforto, que bloqueiam as pessoas em seu individual baseados em soluções pela fé, que não causam mudanças. Maria Helena ainda comentou sobre a capacidade das mídias das redes sociais de reduzirem as forças dos grandes meios, de processos de comunicação que geram dúvidas, que fazem nos perguntarmos sobre a sociedade, que mostram o mundo por outros ângulos.

Diante deste contexto, deste sentimento de uma Outra Comunicação que vem vindo e que paira entre comunicadores, nos sentimos em casa, nos sentimos no caminho desta ‘Outra Informação’ já em rumos consolidados em 9 anos, de jornalismo, de resistência. Tanto há para aprender e construir nesta trajetória, unidos e mais fortes a cada tempo, certos e orientados pela causa da luta pelos povos. Adelante!

Foto de Capa: Agência da Hora UFSM.

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