Trabalhadores rurais enfrentam tropas para resistir a reintegração em Alagoas

Da Página do MST.

“Não vamos arredar o pé daqui! Vamos lutar para resistir e criar o assentamento!”. Essas são as palavras inflamadas de Manoel Ailton, que vive com sua família no Acampamento São José, antiga fazenda São Sebastião, ocupada há mais de oito anos.

No entanto, o governador do estado de Alagoas, Téo Vilela Filho (PSDB), mobiliza nesta terça-feira (11) as tropas sob seu comando para a reintegração de posse da área em nome do grileiro, que recebeu da justiça o uso capião pela fazenda (mesmo com incidência de conflito agrário). Vários ônibus e viaturas carregam o contingente policial para o despejo, além da presença de ambulâncias entre as unidades.

Mesmo neste cenário, as famílias têm disposição em resistirem na terra, com o apoio da sociedade civil que lançou ontem uma campanha em defesa da Reforma Agrária e contra despejos em Alagoas.

“A conta da incompetência do Estado brasileiro em nível federal e local não pode ser paga pela gente pobre Sem Terra”, afirma Débora Nunes do MST. Ela deixa claro que a paralisia da Reforma Agrária levada à frente pelo governo Dilma, aliada à disponibilidade dos governantes locais em servir ao latifúndio, gera mais tensões no campo, a exemplo deste e de outros conflitos anunciados.

“O que vemos é a falta de agilidade para reverter os índices de violência que só avançam, que gera toda essa insegurança à população, mas na hora de mandar a tropa bater em famílias Sem Terra para expulsá-las, estão de prontidão. O mesmo Estado que vem limpar o terreno em nome do latifúndio, é o que cedeu isenção de milhões de reais para os usineiros. Em Alagoas tanto do ponto de vista institucional, como na perspectiva da política, se confunde Estado e latifúndio”, conclui Débora.

Milícia privada e resistência

As ameaças voltam a ser frequentes no Acampamento São José. Já foi denunciado ao governo do estado e órgãos de polícia a incidência de rondas da pistolagem pela região. há tempos as famílias vivem assustadas com carros que são avistados rondando o lugar e a presença ostensiva do latifúndio.

“Daqui não saímos!”, anuncia a agricultora Jovenilha Silva. “Aqui o povo tem barriga cheia, pra pessoa e pra dar a quem chegar com precisão”, se referindo a fartura da qual não abrem mão para um suposto retorno à beira de estradas.

O acampamento tem lavouras organizadas de milho, feijão, banana, macaxeira, inhame, criações de animais e outros itens básicos da alimentação local e para abastecimento nos municípios de Atalaia, Cajueiro e Maribondo, como já o fazem em feiras.

As mais de vinte crianças do acampamento frequentam a Escola Itinerante Rosa Luxemburgo, que conta com educadoras infantis. Os mais velhos que querem aprender o letramento têm à disposição uma sala do Brasil Alfabetizado, programa federal de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Na manhã desta segunda-feira (10) foi lançada a campanha “Não Passarão! Campanha em Defesa da Reforma Agrária e contra os despejos de famílias Sem Terra”, no local.

Para Cícero Lourenço, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), “não há muito a comemorar, mas temos a lembrar. Principalmente da memória viva de Jaelson Melquíades, que tombou neste solo e nos encoraja a manter as lutas e a unidade. Não tem justiça burguesa que venha tirar vocês dessa terra. É uma terra conquistada, que deve virar um assentamento”, dispara o líder sindical.

 Foto: http://correiodealagoas.com.br/

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